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Chá e água de garrafa podem conter centenas de milhares a bilhões de partículas de plástico


- Atualizado no dia 25 de janeiro de 2024 -

Em meio à preocupação cada vez crescente com a poluição de plásticos nos mais variados ambientes, especialmente aquáticos, um estudo publicado em 2019 no periódico Environmental Science & Technology (Ref.1) aumentou o alerta ao demonstrar que chás preparados com saquinhos feitos de material plástico podem trazer bilhões de partículas plásticas em um único copo, tanto em nano quanto em micro escala. Esse nível de contaminação é várias ordens de magnitude maior do que típicas contaminações com micro-plásticos em outros alimentos e bebidas. E um estudo mais recente, publicado no periódico PNAS (Ref.2), reportou a presença de centenas de milhares de nanopartículas de plástico em uma típica água de garrafa.

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Plástico no Chá

Os saquinhos - ou bolsinhas - de chá são utilizados como filtros para a infusão do chá em água quente, separando a matéria vegetal sólida e deixando passar em sua grande parte apenas compostos solúveis. Esses saquinhos são comumente feitos de papel de filtro, de materiais plásticos como o nylon e o PLA, e, às vezes, de seda. Por definição, um plástico é qualquer material orgânico sintético ou semi-sintético maleável que pode ser moldado em objetos sólidos. Geralmente plásticos são constituídos de polímeros orgânicos de alta massa molecular, como o cloreto de polivinila (PVC).

Nesse sentido, os pesquisadores no estudo de 2019 resolveram determinar se os saquinhos feitos de material plástico são capazes de liberar nano-plásticos e/ou micro-plásticos durante um típico processo de feitura de chá. Os experimentos mostraram que a interação desses saquinhos com água em temperatura de 95°C (próximo da ebulição a nível do mar) por 5 minutos libera aproximadamente 11,6 bilhões de micro-plásticos e 3,1 bilhões de nano-plásticos em um único copo (200-250 mL). Foi também mostrado que quanto maior a temperatura, maior a liberação. Usando técnicas espectroscópicas de análise, incluindo espectroscopia de raio-X fotoeletrônica (XPS), os pesquisadores mostraram que os particulados liberados eram de fato dos saquinhos plásticos (constituídos, no caso, de nylon e polietileno tereftalato).



A liberação dessas partículas plásticas pode estar ocorrendo via degradação polimérica por hidrólise (ataque do grupo hidroxila, OH-). Essa degradação eletrolítica seria o resultado da reação das moléculas de água (HOH) com a estrutura polimérica do material plástico dos saquinhos sob altas temperaturas. O nylon, por exemplo, é suscetível a hidrólise.

Para se ter uma ideia, estudos recentes vinham estimando que o consumo anual de microplásticos entre a população humana varia de 39000 e 52000 partículas por indivíduo dependendo da idade e do sexo. Em carnes (incluindo peixes), é estimado que a quantidade de micropartículas pode variar de 0,3 a 1,9 partículas por grama. Como o consumo de chá é alto em diversos países, os novos achados preocupam, especialmente porque alguns fabricantes de saquinhos de chá está substituindo cada vez mais os filtros de papel por filtros de material plástico.


Plástico na Garrafinha de Água

No estudo mais recente, os pesquisadores desenvolveram um novo método de microscopia baseado em lasers - chamado de Espalhamento Raman Hiperespectral Estimulado (SRS) - para investigar partículas de plástico na escala nanométrica em água engarrafada de três marcas populares vendidas nos EUA. Na média, eles identificaram cerca de 240 mil fragmentos detectáveis de plástico para cada 1 litro de água em garrafa - um valor 10 a 100 vezes maior do que previamente estimado (com base principalmente na detecção de partículas de maiores dimensões). Quantificando partículas com até 100 nanômetros (100 nm), foram detectadas de 110 mil até 370 mil partículas de plástico por litro, 90% das quais eram nanoplásticos e o restante representando microplásticos. Isso também sugere que os valores encontrados no estudo de 2019 para os saquinhos de chá podem estar muito subestimados.


(A) Através de lasers, cientistas conseguiram identificar centenas de milhares de minúsculas partículas de plásticos na água de garrafa previamente não observáveis por métodos ópticos tradicionais. (B) Nanopartículas de poliestireno plástico detectadas pela nova técnica microscópica baseada em lasers (SRS). (C) Uma nanopartícula de plástico na água de garrafa com apenas ~200 nanômetros de extensão (ou 200 bilionésimos de 1 metro). Ref.2

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> Microplásticos podem ser definidos como fragmentos variando de 5 mm até 1 micrômetro (1 μm, ou seja, 1 milionésimo), enquanto nanoplásticos em geral são partículas com menos de 1 micrômetro.

> Diferente de matéria orgânica natural, a maioria dos plásticos não são degradados em substâncias relativamente benignas; esses materiais simplesmente se dividem e redividem em partículas cada vez menores com a mesma composição química. Além de moléculas únicas, não existe limite teórico para o quão pequenas essas partículas podem ficar.

> A maioria das partículas de plástico são derivadas do petróleo, como polipropileno (PP), polietileno (PE), cloreto de polivinila (PVC), tereftalato de polietileno (PET) e poliestireno (PS). Atualmente, os tipos poliméricos dominantes de plásticos são derivados de combustíveis fósseis e menos do que 1% são biodegradáveis; e das quase 370 milhões de toneladas de plástico anualmente produzidas, apenas uma pequena fração (~1%) são bio-baseados.
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Entre os 7 tipos de plástico que os pesquisadores buscaram identificar no novo estudo, os dois mais comuns nas amostras de água engarrafada analisadas eram o tereftalato (PET) e a poliamida. E o mais preocupante: os sete tipos de plásticos investigados respondera por apenas ~10% de todas as nanopartículas encontradas nas amostras. Isso sugere que o real número de nanoplásticos em 1 litro de água engarrafada pode chegar a dezenas de milhões.

Nanoplásticos são tão pequenos que, ao contrário de microplásticos, podem passar através do intestino e dos pulmões diretamente e cair na corrente sanguínea, e, a partir daí, alcançar órgãos diversos no corpo como o coração e o cérebro. Os nanoplásticos podem invadir células individuais, e passar através da placenta para o corpo de fetos. 


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Impactos na Saúde

Os cientistas ainda não estão certos se essas nano e micro- e nanopartículas de plástico possuem efeitos deletérios à saúde humana. Experimentos realizados com pulgas d´água (Daphnia magna) sugerem que os microparticulados são estressantes aos seres vivos, tendo sido observados efeitos comportamentais e de desenvolvimento dose-dependentes nesses invertebrados aquáticos. Estudos nos últimos anos têm mostrado também que vários tipos de micropartículas (tamanhos de 0,03 até 100 micrômetros) podem atravessar as paredes intestinais de mamíferos, sugerindo com limitada evidência possíveis efeitos deletérios à saúde, desde genotoxicidade e carcinogênese até necrose de tecidos.

Sugestão de leitura:

Aspiração de micro- e nanopartículas de plástico e deposição dessas partículas no tecido pulmonar podem causar inflamação e vários outros efeitos deletérios nesse órgão. Ingestão pode causar disbiose (desequilíbrio) na microbiota intestinal e experimentos in vitro e in vivo recentes sugerem que as micro- e nanopartículas de plástico podem desregular funções de transcrição, causar estresse oxidativo, processos inflamatórios, disfunções imunes, metabolismo bioquímico e energético alterado, prejuízos na proliferação celular, desenvolvimento anormal de órgãos e carcinogênese (Ref.6-8).

Mais estudos de alta qualidade são necessários para quaisquer conclusões, especialmente em relação a efeitos de longo prazo desse tipo de exposição.

Somando-se com a preocupação em relação à saúde humana, as partículas liberadas pelos materiais plásticos durante a produção, uso e aquecimento ao redor do mundo pode potencialmente estar contaminando em larga escala diversos ambientes aquáticos, inclusive via excreção humana (contaminação inicial do sistema de esgoto). 

Por causa das suas características inerentes, especialmente o alto peso molecular e alta cristalinidade, plásticos são degradados e se acumulam sob numerosas formas no ambiente, podendo engatilhar sérios problemas de poluição global e adversamente afetar organismos, solo e água. Micro- e nanopartículas de plástico também podem ser transportados através da atmosfera, aumentando o alcance desses particulados. Além disso, plásticos podem conter diferentes aditivos e podem adsorver metais e poluentes orgânicos persistentes - acumulando e liberando contaminantes diversos no ambiente e ao serem ingeridos por espécies diversas.


REFERÊNCIAS 
Chá e água de garrafa podem conter centenas de milhares a bilhões de partículas de plástico Chá e água de garrafa podem conter centenas de milhares a bilhões de partículas de plástico Reviewed by Saber Atualizado on outubro 05, 2019 Rating: 5

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