Adolescência do cérebro dura até os 32 anos de idade, aponta estudo

Figura 1. Imagem de tractografia por MRI representativa do cérebro adolescente.

Um estudo conduzido por neurocientistas da Universidade de Cambridge, Reino Unido, comparou o cérebro de 4216 pessoas com idades entre zero e 90 anos, utilizando dados de exames de ressonância magnética (MRI) de difusão. Essa técnica permite mapear as conexões neurais ao rastrear como as moléculas de água se movem pelo tecido cerebral. Do total de cérebros analisados, 1994 eram de indivíduos do sexo feminino.

Os resultados da análise comparativa - publicados na Nature Communications (Ref.1) - revelaram cinco principais fases de desenvolvimento do cérebro ao longo de uma expectativa média de vida humana, espelhando como o cérebro é reorganizado para explorar diferentes formas de pensar à medida que amadurecemos e avançamos na idade (Fig.2).

Figura 2. As cinco fases de idade são marcadas por quatro pontos de virada ou inflexão entre as reconfigurações da estrutura cerebral.

"Essas fases fornecem um contexto importante para entendermos o que o cérebro pode fazer de melhor, ou quando é mais vulnerável, em diferentes estágios da vida," disse em entrevista a Dra. Alexa Mousley, autora principal do estudo e neurocientista na Universidade de Cambridge (Ref.2). "Isso pode nos ajudar a compreender por que alguns cérebros se desenvolvem de maneira diferente em certos pontos críticos da vida, seja em relação a dificuldades de aprendizagem na infância ou demência em idades mais avançadas."

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Após intensa produção de sinapses - as conexões entre neurônios (1) - no cérebro do bebê, temos um período de "consolidação das redes neurais", com as sinapses mais ativas sobrevivendo. Ao longo de todo o cérebro infantil, conexões são reorganizadas no mesmo padrão desde o nascimento até o final da infância. Ao mesmo tempo, a matéria branca e a matéria cinzenta do cérebro (2) crescem rapidamente em volume até um pico da espessura cortical.

A "topologia" do cérebro infantil se estende do nascimento até um ponto de inflexão aos ~9 anos de idade, quando transita para a fase da adolescência e coincidindo com o início da puberdade: entre 8 e 13 anos para o sexo feminino e entre 9 e 14 anos para o sexo masculino. Acompanhando acentuadas alterações hormonais e neurológicas, a segunda fase é marcada por crescente eficiência neural, aumento do volume de matéria branca - com pico aos ~29 anos de idade - e dura, em média, até os 32 anos.

Na transição entre os cérebros infantil e adolescente, temos uma significativa mudança na capacidade cognitiva do indivíduo, assim como um risco aumentado para transtornos mentais.

Pouco depois dos 30 anos de idade, a estrutura neural do cérebro se transforma, assumindo finalmente a forma adulta. Nessa fase, a matéria branca continua crescendo em volume, a organização das redes de comunicação do cérebro é cada vez mais refinada e a arquitetura cerebral é fortemente estabilizada.

Além disso, aos ~32 anos de idade ocorre o ponto de inflexão topológica mais significativo da vida. Nessa idade, em comparação com os outros pontos de inflexão, acontece a maior parte das mudanças direcionais de conectividade e uma grande alteração na trajetória.

A transição para a fase adulta é influenciada por fatores culturais, sociais, históricos e biológicos. Isso sugere que o início da fase adulta - menos clara do que o início da adolescência - pode variar de forma significativa entre populações ao redor do mundo. Nos países ocidentais (ex.: EUA e Reino Unido) o desenvolvimento topológico adolescente parece se estender até ~32 anos de idade.

A fase adulta é a mais longa, persistindo por mais de 30 anos, e corresponde ao período onde a inteligência e a personalidade são definidos. Mudanças na arquitetura cerebral é lenta nessa fase, sem notáveis pontuações topológicas e coincide com uma época da vida de consistências anatômica, cognitiva e comportamental. Temos também uma desaceleração na maturação de matéria branca e um aumento na segregação das regiões cerebrais.

Uma lenta e progressiva reorganização das redes cerebrais culminam no terceiro ponto de inflexão, aos ~66 anos, marcando o início de uma fase de "envelhecimento inicial" da arquitetura cerebral, com redução da conectividade à medida que a matéria branca começa a degenerar. Essa é a fase quando as pessoas encaram um risco aumentado para uma variedade de condições de saúde que podem afetar o cérebro, como hipertensão (3) e demência (4).

A hipertensão, caracterizada por pressão sanguínea cronicamente elevada, está ligada ao declínio cognitivo e envelhecimento acelerado do cérebro, além de ser um fator de risco para demência.

Finalmente, o cérebro em "envelhecimento tardio" se consolida aos ~83 anos de idade. Nessa fase, a conectividade cerebral de todo o cérebro declina ainda mais, com aumento de dependência em certas regiões.

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