Nave alienígena? Essa sépia usa uma estranha camuflagem móvel para capturar presas
Manter uma camuflagem durante locomoção é uma tarefa difícil no reino animal. Em um estudo publicado no periódico Science Advances (Ref.1), pesquisadores mostraram que uma sépia da espécie Sepia officinalis usa mudança dinâmica de coloração na pele para evitar detecção momentos antes de capturar uma presa. É a primeira vez que tal mecanismo é descrito em um animal. Na "camuflagem móvel" desse molusco marinho, listras pretas altamente contrastantes se movem ao longo da cabeça e dos braços a uma frequência de ~2,2 Hz, como mostrado no vídeo abaixo, despistando as manobras de caça. O sistema visual da presa - no caso, caranguejos - parece ser "sobrecarregado" pelo forte movimento produzido pelas listras, falhando em detectar pistas características da aproximação de um predador. A camuflagem móvel é ativada a uma distância de ~98 cm da presa.
> A espécie S. officinalis - popularmente conhecida como choco-comum - pode produzir pelo menos outros três tipos de padrões dinâmicos de coloração corporal durante caça, mas com funções ainda não esclarecidas. Chocos-comuns mudam rapidamente de cor também quando ameaçados. Possuem um manto com até 45 cm de comprimento, oito braços e dois tentáculos alongados que terminam em 5-6 fileiras de estruturas de sucção. Os braços são usados para agarrar as presas após serem dominadas pelos tentáculos (estruturas musculares e cilíndricas que podem rapidamente ser alongadas). Habitam profundidades de até 200 metros no leste do Atlântico.
> Cochos, também conhecidos como sépias ou sibas, são moluscos cefalópodes marinhos da ordem Sepiida, ou seja, pertencem à mesma classe dos polvos, lulas e náutilos. Em termos filogenéticos, são um grupo-irmão das lulas (Oegopsida + Myopsida) (Ref.4). Esses animais possuem alta capacidade de camuflagem e podem mudar de forma dinâmica padrões de cores na pele através de um refinado controle neural de cromatóforos, geralmente no sentido de se misturar com o ambiente ao redor. O choco-comum pertence à subordem Sepiina, família Sepiidae.
> O sistema nervoso dos cefalópodes está entre os maiores e mais complexos de todos os invertebrados, em termos tanto de número absoluto de células quanto de número de diferentes lobos. É o que permite o complexo controle neural de camuflagem dinâmica dos chocos.
REFERÊNCIAS
- Santon et al. (2025). Stealth and deception: Adaptive motion camouflage in hunting broadclub cuttlefish. Science Advances, Vol. 11, No. 13. https://doi.org/10.1126/sciadv.adr3686
- https://www.science.org/content/article/isn-t-spaceship-it-s-cuttlefish-cloaked-while-hunting
- Holst et al. (2024). Cephalopoda. The UFAW Handbook on the Care and Management of Laboratory and Other Research Animals, Ninth Edition. https://doi.org/10.1002/9781119555278.ch50
- Chen et al. (2025). A genome-based phylogeny for Mollusca is concordant with fossils and morphology. Science, Vol. 387, Issue 6737, pp. 1001-1007. https://doi.org/10.1126/science.ads0215
- https://www.marlin.ac.uk/species/detail/1098
- https://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=141444
