Espécie de borboleta na Amazônia é um híbrido cujos ancestrais ainda coexistem no bioma, revela estudo
Figura 1. Borboleta da espécie Heliconius elevatus. |
Um estudo publicado na Nature (1) revelou que a borboleta amazônica Heliconius elevatus (Fig.1) é resultado de um antigo evento de especiação por hibridização entre duas espécies do mesmo gênero (H. melpomene e H. pardalinus) que ainda existem no bioma, ou seja, ancestrais que não foram extintos, similar ao caso entre lobos-cinzentos (Canis lupus) e cães (C. familiaris).
A espécie H. elevatus compartilha 99% do seu genoma com a espécie H. pardalinus e 1% do genoma da H. melpomene; mas mesmo essa pequena porcentagem do ancestral H. melpomene fornece vários traços críticos para um quase completo isolamento reprodutivo da espécie híbrida, incluindo padrões de cor nas asas e feromônios sexuais.
Com base na divergência genética entre as duas espécies ancestrais, é estimado que o evento de hibridização ocorreu há ~180 mil anos (Fig.2). A linhagem da H. elevatus tem persistido e permanecido estável por >720 mil gerações, sugerindo estabilidade da espécie mesmo sob [limitado] fluxo genético com as espécies ancestrais.
Figura 2. Modelo de introgressão suportando a origem híbrida do H. elevatus, com o evento de introgressão [hibridização] coincidindo de perto com a origem da espécie. (kya = milhares de anos atrás). |
> Borboletas do gênero Heliconius usam glicosídeos cianogênicos como defesa química, sequestrados de plantas [Passifloraceae] pela larva ou sintetizada de forma endógena pelo inseto. Os adultos da borboleta sinalizam toxicidade para predadores através dos seus coloridos padrões nas asas. Coloração entre híbridos de H. elevatus e H. pardalinus não exibe sinalização de alerta, reduzindo a chance de sobrevivência e favorecendo também a estabilidade da H. elevatus a longo prazo.
> O achado também reforça que a hibridização é um poderoso mecanismo evolutivo de fluxo genético determinando especiações em animais. (2)
(1) Publicação do estudo:
- Rosser et al. (2024). Hybrid speciation driven by multilocus introgression of ecological traits. Nature. https://doi.org/10.1038/s41586-024-07263-w
(2) Aliás, essa espécie de ave em Galápagos emergiu naturalmente via hibridização, em um período de apenas ~3 décadas, e a comunidade científica acompanhou passo a passo o processo! Uma macroevolução [especiação] em tempo real. Entenda: Nova espécie de ave surge em Galápagos e cientistas acompanharam o processo ao vivo
> Hibridizações como gatilho para especiações é um evento comum em plantas angiospermas. Aliás, nossa agricultura desde os primórdios sempre foi amplamente dependente desse processo. Fica a sugestão de leitura: Como nova informação genética é gerada durante o processo evolutivo?