Cientistas da NASA encontram potenciais sinais de vida em Marte
Figura 1. Foto composta capturada pelo veículo de exploração espacial Perseverance, após perfuração da rocha Cheyava Falls, em Marte. |
A NASA anunciou que o rover Perseverance identificou uma rocha trazendo a melhor evidência de potencial vida já detectada na superfície de Marte (Ref.1). No caso, evidência de antiga vida microbiana que pode ter habitado o planeta em um passado remoto. A rocha contém claros sinais para água, material orgânico e reações químicas que podem ter fornecido fonte de energia para microrganismos diversos. No entanto, ainda não é possível confirmar se o cenário encontrado é resultante de um real processo biótico.
"Esse é o tipo de descoberta que você ansiosamente espera - onde observações extraordinárias fazem seu coração bater um pouco mais rápido," comentou Laurie Lesh, diretora do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) que opera o Perseverance, no seu perfil do X (Ref.2).
Manchas de Leopardo
Durante sua jornada exploratória pela superfície Marciana, o carismático rover de seis roda que parece um primo distante do Wall-E encontrou uma rocha com formato de ponta de flecha contendo curiosos traços. Análises instrumentais qualitativas do Perseverance apontaram que a rocha - apelidada de "Cheyava Falls" - possuía qualidades que se encaixam com a definição de um possível indicador de antiga vida microscópica. A rocha exibia assinaturas químicas e estruturas que podem possivelmente ter sido formadas por microrganismos vivos há bilhões de anos, quando a área sendo explorada pelo rover continha água corrente (!).
----------
(!) É especulado que Marte possuía uma enorme quantidade de água líquida em grande parte da sua superfície há mais de 3 bilhões de anos. Ainda hoje abundante água líquida persiste no Polo Sul do planeta. Para mais informações:
- Por que Vênus, e não Mercúrio, é o planeta mais quente do Sistema Solar?
- Gigantesco reservatório de água líquida encontrado em Marte
> Em um estudo recentemente publicado no periódico PNAS (Ref.4), pesquisadores reportaram evidência de água líquida associada a rochas ígneas fraturadas na crosta de Marte na faixa de ~11,5 a 20 km de profundidade. Isso sugere que a maior parte da água na superfície de Marte pode não ter escapado do planeta através da atmosfera e, sim, infiltrado na crosta Marciana.
----------
A rocha foi coletada no último dia 21 de julho e múltiplos escaneamentos com o instrumento SHERLOC (Escaneamento de Ambientes Habitáveis com Raman e Luminescência para Orgânicos e Químicos, na tradução do termo abreviado em inglês) indicaram que ali existia compostos orgânicos. Esses compostos são baseados em carbono e representam moléculas com potencial de constituir estruturas vivas. Mas, importante realçar, moléculas orgânicas também podem ser formadas por processos abióticos, ou seja, sem participação de organismos vivos.
Além disso, ao longo do comprimento da rocha, existiam grandes veias brancas de sulfato de cálcio - evidência de que água correu através da superfície rochosa. Entre essas veias, existiam faixas de material avermelhado representando provavelmente hematita, um dos minerais que dão à marte sua peculiar coloração "enferrujada". Nessas regiões avermelhadas, dezenas de manchas com formato irregular e de tamanho milimétrico foram observadas, cada uma delas contornadas por material preto e formando padrões similares a "manchas de leopardo" (Fig.3). O instrumento PIXL (Instrumento Planetário para Litoquímica de Raio-X, na tradução do termo abreviado em inglês) determinou que esses contornos pretos continham tanto ferro quanto fosfato. Na Terra, essas manchas estão frequentemente associadas com o registro fóssil de microrganismos vivendo na subsuperfície.
Esses três sinais (compostos orgânicos, água corrente e "manchas de leopardo") nunca haviam sido observadas antes na superfície de Marte e, somados, são a mais forte evidência até o momento para potencial vida na história do planeta.
Um cenário trabalhado é que a rocha Cheyava Falls foi inicialmente depositada como lama misturada com compostos orgânicas (e organismos vivos?), eventualmente cimentada como rocha. Mais tarde, um segundo episódio de fluxo de água penetrou as fissuras da rocha, permitindo depósitos de minerais que criaram as grandes veias de sulfato de cálcio e contornos pretos que foram observados pelo rover.
Olivina: Processos Abióticos?
Por outro lado, a rocha Cheyava Falls também trazia ao longo das veias vários cristais milimétricos de olivina, um mineral que se forma a partir de magma e constituído por silicatos de magnésio e ferro (Fig.5). A olivina pode estar relacionada a rochas que foram formadas em regiões muito afastadas do vale fluvial e resultante de cristalização do magma. Nesse cenário, seria possível que a olivina e o sulfato foram introduzidos na rocha a temperaturas muito elevadas - e impossíveis para a vida como a conhecemos -, criando uma reação química abiótica que resultou nas manchas de leopardo?
Figura 5. Cristal de olivina em destaque incrustado na rocha Cheyava Falls. Ref.1 |
Resposta para essa e outras questões só serão potencialmente respondidas com análises mais detalhadas de amostras coletadas da rocha, conduzidas em avançados laboratórios aqui na Terra.
Leitura recomendada:
REFERÊNCIAS
- https://www.jpl.nasa.gov/news/nasas-perseverance-rover-scientists-find-intriguing-mars-rock
- https://x.com/LaurieofMars/status/1816572464421589010
- https://www.science.org/content/article/nasa-says-it-found-possible-signs-life-mars-there-are-lot-maybes
- Wright et al. (2024). Liquid water in the Martian mid-crust. PNAS, 121 (35) e2409983121. https://doi.org/10.1073/pnas.2409983121