Cientistas criaram um arroz de carne bovina

Figura 1. O arroz-bife é rosa porque o meio de cultura contém vermelho fenol, um monitor ácido.

Desde carne produzida em laboratório (1) até proteína derivada de insetos (2), pesquisadores vêm desenvolvendo metodologias para a produção proteica que representem uma alternativa ambientalmente mais amigável (3) e que ajudem a resolver os impactos éticos da indústria agropecuária. Nesse sentido, cientistas Coreanos trouxeram mais uma inovação alimentar - cultura de "bife de arroz" - ao crescer células musculares e adiposas de animais dentro de grãos de arroz. O método, descrito e reportado no periódico Matter (Ref.1), resultou em um alimento híbrido nutritivo e de aspecto rosa que, uma vez comercializado, pode oferecer mais uma alternativa proteica associada com menor emissão de gases estufas.

Sugestão de leitura:

"Imagine obter todos os nutrientes que nós precisamos de culturas celulares com arroz," disse em entrevista um dos autores principais do novo estudo, Dr. Sohyeon Park, da Universidade de Yonsei, Coreia do Sul (Ref.3). "Arroz já possui um alto nível nutricional, mas adicionar células de animais pode melhorar ainda mais seu valor nutritivo."

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Em animais, andaimes biológicos ajudam a guiar e a suportar o crescimento tridimensional (3D) de células para formar tecidos e órgãos. Para cultivar carne em laboratório (cultura celular), os pesquisadores no novo estudo imitaram esse ambiente celular usando arroz. Grãos de arroz são porosos e possuem estruturas organizadas, fornecendo um andaime sólido para abrigar células derivadas de animais nos cantos e nos espaços de 'rachaduras'. Certas moléculas encontradas no arroz podem também nutrir e promover o crescimento dessas células, tornando o arroz uma plataforma ideal - somando-se ao fato do arroz estar associado a uma baixa incidência de alergia alimentar.

Os pesquisadores primeiro revestiram grãos de arroz com gelatina de peixe, um ingrediente seguro e comestível que ajuda as células a aderir melhor no arroz. Células-tronco bovinas de músculos e gordura foram então germinadas nos grãos de arroz e deixadas em cultura em placas de Petri por 9 a 11 dias. O produto final colhido é um "arroz de bife" com ingredientes principais que atendem requerimentos de segurança alimentar e que possuem um baixo risco para engatilhar alergias alimentares.

Para caracterizar o arroz híbrido, os pesquisadores conduziram várias análises típicas da indústria alimentar, incluindo valor nutricional (Fig.3), odor e textura. Os achados revelaram que o arroz híbrido possuía 8% mais proteína e 7% mais gordura do que o arroz regular, além de ser mais firme e quebradiço. Amostras com um maior conteúdo de músculos tinham compostos odoríferos associados a carnes bovinas e amêndoas, enquanto aquelas com maior conteúdo adiposo tinham compostos correspondentes a creme, manteiga e óleo de coco.

Figura 2. Grãos de arroz, germinados com células bovinas, em um meio de crescimento (cultura). Além da gelatina de peixe, transglutaminase microbiana (aditivo alimentar comum) foi usada para melhorar a aderência e o crescimento das células musculares e adiposas no arroz.

Figura 3. Perfil quantitativo de macronutrientes do arroz híbrido. Ref.1

Para cada 100 g de proteína produzida, o arroz híbrido é estimado de liberar menos do que 6,27 kg de CO2, enquanto carne bovina libera 49,89 kg. E se comercializada, o arroz híbrido custaria US$2,23 por kg, enquanto carne bovina custa US$14,88.

Considerando que o "arroz de bife" contém baixos riscos de segurança alimentar e é de produção relativamente fácil, os cientistas responsáveis pelo novo alimento híbrido estão otimistas com a comercialização do produto em um futuro próximo. Mas ainda esperam também otimizar as condições de crescimento da cultura celular, algo que pode melhorar o valor nutricional do arroz híbrido, aumentando em especial o conteúdo proteico.

> Sugestão de leitura: Qual é a relação entre o arroz e o tóxico arsênio?

REFERÊNCIAS