Cientistas criam carne em laboratório extremamente similar à carne natural
Em um estudo publicado no periódico Cells Tissues Organs (1), pesquisadores da Universidade de McMaster, Canadá, reportaram o desenvolvimento de uma nova forma de carne cultivada usando um método que promete um sabor e uma textura mais naturais do que outras alternativas à carne de animais. Basicamente, os pesquisadores conseguiram mesclar finas camadas de células musculares e adiposas crescidas em conjunto em laboratório, alcançando um aspecto mais próximo do tecido muscular natural. A técnica é a adaptação do método usado para crescer tecidos visando transplantes em humanos.
A população mundial está crescendo rapidamente, trazendo também um crescente aumento no consumo de carne. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), é esperado que a população humana some 9,15 bilhões até 2050. O modo padrão de produção de carnes - através da criação e matança de animais - gera grandes prejuízos ambientais e grande consumo de recursos, além de estar associado com problemas éticos. Nesse sentido, o crescimento de carne em laboratório está se tornando uma alternativa cada vez mais promissora para substituir a criação de animais. Avanços tecnológicos, como simulações computacionais, altamente suportam a chamada 'agricultura celular', onde células de tecidos de animais são coletadas e, em ambiente laboratorial controlado, proliferadas para a construção de estruturas sintéticas similares à carne, sem necessidade de matar nenhum espécime vivo.
No novo estudo, os pesquisadores descreveram um método de biofabricação de carne que forma lâminas celulares compostas de células músculo-esqueléticas e adiposas de ratos, com subsequente junção das lâminas em paralelo para criar um constructo 3D similar à carne sem o uso de nenhum material exógeno.
As lâminas de células vivas, cada uma com cerca da espessura de uma folha de impressão, são primeiro crescidas em cultura e então concentradas sobre placas de crescimento antes de serem coletadas e acumuladas. As lâminas naturalmente se ligam umas às outras antes das células morrerem, e podem ser juntadas em um pedaço sólido de qualquer espessura.
O processo de junção camada-por-camada é rápido (4 dias de cultura para formar as lâminas celulares e algumas poucas horas para a mesclagem final) e escalável (lâminas estáveis com diâmetros acima de 3 cm podem ser formadas). Além disso, diferente de outros métodos de produção laboratorial de carne até o momento descritos, o novo método permite um amplo controle da porcentagem de gordura na carne, gerando vários sabores e texturas (como se fossem cortes de várias partes do animal).
Tecidos formados apenas com células musculares mostraram-se equivalentes a um bife magro com comparáveis conteúdos de proteína e de gordura, e a incorporação de células adiposas em diferentes razões aos mioblastos (células percursoras das fibras musculares) resultou em aumentos do conteúdo de gordura de 5% (carne com baixo teor de gordura) até 35% (carne com alto teor de gordura). Ou seja, os consumidores vão poder escolher a quantidade de gordura na carne que quiserem.
Como descrito no paper, os pesquisadores demonstraram o novo método de agricultura celular com o uso de células derivadas de ratos. Apesar deles não terem comido a carne de rato descrita no estudo, eles também produziram e cozinharam uma amostra de carne criada com o mesmo método mas derivada de células de coelhos. E, segundo reportaram, o gosto e a textura eram extremamente similares a de uma real carne de coelho. Nesse sentido, se torna possível produzir carnes de diferentes animais, desde galinhas até vacas e porcos, e em larga escala, sem precisar matar nenhum animal.
Em entrevista para o jornal da Universidade de McMaster (2), os pesquisadores anunciaram a criação de uma empresa startup para poder comercializar a tecnologia. Eles acrescentaram que os constructos 3D simulando carne podem ser usados também na construção de modelos músculo-esqueléticos voltados para pesquisas em áreas diversas.
(1) Publicação do estudo: https://www.karger.com/Article/Abstract/511764
(2) Referência adicional: McMaster University
Reviewed by Saber Atualizado
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janeiro 26, 2021
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