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Incrível fóssil de um jovem tiranossaurídeo revela sua última refeição

Figura 1. Ilustração de um Gorgosaurus juvenil caçando e ingerindo um pequeno dinossauro.


Um raro fóssil de um tiranossaurídeo juvenil descoberto no Parque Provincial dos Dinossauros, em Alberta, Canadá, revelou sua última refeição e suportou a hipótese de que a dieta e nichos ecológicos entre adultos e jovens desses temidos predadores eram distintos. Os fósseis foram encontrados em uma Formação do Cretáceo Superior e descritos em um estudo publicado esta semana no periódico Science Advances (Ref.1).


"Essa é a última refeição de um tiranossaurídeo, preservada em pedra! O quão fantástico é isso?", comentou empolgado Steve Brusatte, um paleontólogo da Universidade de Edinburgh que não estava envolvido com o estudo (Ref.2). "Isso é evidência direta do que um tiranossaurídeo estava comendo - não apenas achismo."


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A família Tyrannosauridae representa um clado diverso de grandes dinossauros terópodes não-aviários que dominou os ecossistemas da Ásia e da América do Norte próximo do período final do Cretáceo (~80 a 66 milhões de anos atrás). Análises filogenéticas e outras evidências paleontológicas sugerem que os tiranossaurídeos emergiram entre 90 e 80 milhões de anos atrás (Ref.3). O clado engloba vários gêneros descritos, incluindo Bistahieversor, Lythronax, Teratophoneus, Daspletosaurus, HuchengtyrannusThanatotheristes, Tarbosaurus, Gorgosaurus e o famoso Tyrannosaurus (1).


(1) Sugestão de leitura: 


Figurando entre os maiores predadores terrestres que já existiram no planeta, os tiranossaurídeos cresciam de filhotes com ~1 metro de comprimento até adultos com 9 até 12 metros de comprimento e massa de 2 a 6 toneladas. Indivíduos juvenis possuíam crânios estreitos, dentes similares a lâminas e longos membros inferiores delgados, enquanto adultos exibiam crânios muito massivos e grandes dentes grossos e eram capazes de gerar mordidas extremamente poderosas, facilmente esmagando e destruindo ossos robustos. Essas dramáticas mudanças morfológicas sugerem que esses dinossauros passavam por uma marcante mudança ontogênica em termos de alimentação, resultando em indivíduos imaturos/juvenis e maduros/adultos ocupando diferentes nichos ecológicos. 


Evidência fóssil mostra que dinossauros megaherbívoros (ex.: espécies com mais de 1000 kg, incluindo ceratopsídeos, ornitomimossauros gigantes, hadrossaurídeos e saurópodes) eram presas comuns de grandes tiranossaurídeos, uma dieta para a qual eram necessárias adaptações craniodentárias e forças de mordida apenas desenvolvidas quando os indivíduos predadores alcançavam uma fase juvenil mais avançada ou estágios de crescimento sub-adultos. Evidência fóssil sobre a alimentação de indivíduos juvenis e imaturos era até o momento escassa ou inexistente.


Tão massivos quanto rinocerontes-brancos e com 9 metros de comprimento corporal, o tiranossaurídeo da espécie Gorgosaurus libratus dominou a região de Alberta, no Canadá, há ~77 milhões de anos. A dieta dos adultos é bem conhecida de ter incluído grandes presas herbívoras, como dinossauros da família Hadrosauridae e do gênero Triceratops. Porém, é incerto se indivíduos juvenis também se alimentavam de grandes presas, especialmente considerando dentes e crânio muito menos robustos do que aqueles de adultos.


No novo estudo, os pesquisadores reportaram e descreveram o fóssil de um G. libratus juvenil que viveu há ~75,3 milhões de anos e com idade estimada de 5 a 7 anos, cerca de 4 metros de comprimento e massa corporal de ~350 kg (Fig.2). Na cavidade abdominal do espécime, foram encontrados vestígios fossilizados de dois pequenos dinossauros terópodes similares a aves e pertencentes à espécie Citipes elegans (família Caenagnathidae, Oviraptorosauria). É a primeira evidência fóssil direta da dieta e comportamento de alimentação em um jovem tiranossaurídeo.


Figura 2. Fotografias do espécime de G. libratus em (A) visão lateral direita e (B) visão anterolateral esquerda. O esqueleto consiste de um crânio quase completo, o lado esquerdo do corpo e dos membros e uma pélvis quase completa. O retângulo vermelho destaca a localização dos conteúdos estomacais, contendo vestígios fossilizados das presas ingeridas. 


Figura 3. Foto em destaque do conteúdo estomacal do G. libratus evidenciando vários elementos ósseos de C. elegans. Análises morfológicas e anatômicas estimaram que os indivíduos predados possuíam de 9 a 12 kg, ou seja, indivíduos com apenas ~45% a 60% da massa de Citipes adultos. Análises de histologia óssea apontaram que as presas provavelmente possuíam menos de 1 ano de vida.

Figura 4. Diagrama ilustrando os tamanhos corporais relativos do predador e das presas e os esqueletos preservados nos fósseis. Barra de escala = 50 cm. Os vestígios esqueléticos na cavidade abdominal consistiam de elementos pós-cranianos associados e articulados, primariamente dos membros traseiros.

A presença primária de elementos articulados dos membros traseiros de dois diferentes indivíduos de C. elegans indicam que o predador não ingeria a carcaça inteira apesar do pequeno tamanho relativo das presas; ao invés disso, seletivamente desmembrava cada presa para ingerir as partes bem recheadas de carne. Essa estratégia pode indicar que a abertura faríngea do Gorgosaurus juvenil era limitada e permitia apenas a ingestão de pequenos pedaços de alimento, em contraste com dragões-de-Komodo (Varanus komodoensis) (2) e crocodilianos modernos capazes de ingerir presas inteiras. 


(2) Leitura recomendada: 


Com base no estado deteriorado [atacado por ácidos estomacais] dos ossos fossilizados na cavidade estomacal, é provável que dois eventos sucessivos de alimentação ocorreram, separados por horas a dias. Esses dois eventos separados de alimentação sugerem que Gorgosaurus juvenis preferencialmente predavam indivíduos muito jovens e mais vulneráveis, uma estratégia de caça usada frequentemente por predadores modernos. A persistência de estruturas ósseas completas no estômago também indica que, assim como os adultos, jovens tiranossaurídeos digeriam os ossos ingeridos ao invés de regurgitá-los.


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Somados, os achados sugerem que dinossauros da família Tyrannosauridae, incluindo o Tiranossauro rex, caçavam pequenas presas quando jovens, mudando para grandes megaherbívoros quando adultos à medida que as demandas energéticas dramaticamente aumentavam com o explosivo crescimento corporal. Em outras palavras, ocupavam os papeis tanto de mesopredadores quanto de superpredadores ao longo da vida, um fator que pode explicar o sucesso evolucionário desses répteis e os colossais tamanhos corporais alcançados. Indivíduos adultos e juvenis teriam compartilhado o mesmo ecossistema sem conflitos e aproveitando ao máximo dos recursos alimentares disponíveis (!). 


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(!) Em especial destaque, dinossauros carnívoros de porte médio eram raros e ausentes em ecossistemas Asiáticos e Americanos no final do Cretáceo, tornando relativamente vago o nicho ecológico de mesopredadores para os tiranossaurídeos juvenis. Aliás, a ocupação de dois nichos ecológicos pelos tiranossaurídeos pode também explicar por que a diversidade de dinossauros eram menor do que aquela de outros grupos de animais do mesmo período: vaga ocupada por jovens tiranossauros e afins impedia a emergência de outros dinossauros predadores de médio porte concorrentes.

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Como as análises do novo estudo são baseadas em apenas um indivíduo, inferências ecológicas são limitadas, apesar da interpretação ser sustentada também por outras evidências. 


E uma curiosidade final: os fósseis dos dois C. elegans na cavidade abdominal do Gorgosaurus são os mais completos e bem preservados fósseis dessa espécie já encontrados - ironicamente protegidos no estômago do predador - e estão atualmente sendo investigados para melhor descrever o táxon.

 


REFERÊNCIAS

  1. Therrien et al. (2023). Exceptionally preserved stomach contents of a young tyrannosaurid reveal an ontogenetic dietary shift in an iconic extinct predator. Science Advances, Vol. 9, Issue 49. https://doi.org/10.1126/sciadv.adi0505
  2. https://www.science.org/content/article/first-its-kind-tyrannosaur-fossil-reveals-what-younglings-ate
  3. Voris et al. (2020). A new tyrannosaurine (Theropoda:Tyrannosauridae) from the Campanian Foremost Formation of Alberta, Canada, provides insight into the evolution and biogeography of tyrannosaurids. Cretaceous Research, Volume 110, 104388. https://doi.org/10.1016/j.cretres.2020.104388

Incrível fóssil de um jovem tiranossaurídeo revela sua última refeição Incrível fóssil de um jovem tiranossaurídeo revela sua última refeição Reviewed by Saber Atualizado on dezembro 13, 2023 Rating: 5

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