Seu gato pode agora ajudar a resolver crimes
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Leicester e publicado no periódico Forensic Science International: Genetics (Ref.1), demonstrou que gatos podem ser uma "ferramenta" muito útil nas investigações forenses. Um único pelo de gato contêm material genético suficiente que pode ligar um suspeito e uma cena de crime, ou uma vítima.
Gatos domésticos (Felis catus) estão entre os animais domésticos mais comuns e prevalentes ao redor do mundo: apenas no Reino Unido, existe um total estimado de ~11 milhões de gatos, residindo em 26% dos lares. Dentro do ambiente doméstico, pelos de gatos são continuamente trocados e milhares acabam caindo anualmente e se espalhando por todo lado - desde chão e móveis até o corpo e roupas das pessoas. Nesse contexto, a recuperação e identificação de pelos de gatos de uma cena de crime podem fornecer importante evidência, ligando, por exemplo, um suspeito e uma vítima. Porém, como os pelos que caem têm normalmente origem da pelagem interna desses felinos, essas estruturas capilares fornecem diagnóstico fenotípico mínimo de diferenciação e são de limitado valor em comparações sob microscópio. Análise visual comparativa é ainda mais complicada devido à extensiva variação dos pelos mesmo de um mesmo indivíduo.
Por outro lado, análise genética é capaz de fornecer suficiente informação para identificar o dono do pelos. Análises genéticas tradicionais empregadas para gatos dependem de DNA nuclear, este o qual está tipicamente em níveis muito baixos nos pelos que caem, devido à ausência da raiz capilar. Durante o desenvolvimento da haste capilar, tanto DNA nuclear quanto DNA mitocondrial (mtDNA) são extensamente degradados, mas o maior número de cópias de mtDNA e a dupla membrana protetiva das mitocôndrias fornecem maior oportunidade para recuperação de sequências informativas em suficiente quantidade.
Mas o mtDNA possui um problema: herança materna exclusiva como regra (!) e aparente falta de recombinação. Isso torna o mtDNA muito menos informativo do que o genoma nuclear. Com técnicas tradicionais, apenas gatos com variantes incomuns em partes específicas do mtDNA podem ser precisamente identificados.
(!) Leitura recomendada:
No novo estudo, os pesquisadores desenvolveram um novo método de análise genética muito sensitivo - combinando amplificação multiplex de mtDNA e sequenciamento Nanopore de mitogenoma - que permite a determinação das sequências de todo o mtDNA nos pelos, resultando em uma discriminação 10 vezes mais precisa do gato alvo (via análise comparativa de mtDNA entre amostra de sangue e amostra de pelo). Com o novo método, virtualmente todo gato passa a ter um tipo raro de variante em algum lugar do mtDNA, garantindo crítica informação caso pelos sejam encontrados em suspeitos, vítimas ou outros objetos de interesse forense.
Nos experimentos demonstrando o método, os pesquisadores extraíram mtDNA de 20 a 30 pelos de gatos, mas usaram apenas 2-7% de cada extração para uma amplificação PCR de sucesso. Isso indica que na aplicação do método na prática forense, apenas um único pelo é suficiente para uma análise efetiva.
Em casos criminais onde nenhum DNA humano está disponível para ser testado, pelos de animais domésticos podem ser agora uma fonte valiosa de evidência. Além de gatos, o novo método pode ser potencialmente usado para outras espécies, em particular cães.
REFERÊNCIAS
- Wetton et al. (2023). Defining cat mitogenome variation and accounting for numts via multiplex amplification and Nanopore sequencing. FSI Genetics, Volume 67, 102944. https://doi.org/10.1016/j.fsigen.2023.102944
- https://le.ac.uk/news/2023/october/cat-dna
Reviewed by Saber Atualizado
on
novembro 16, 2023
Rating:
.jpeg)
