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Cientistas descobrem pequenos mamíferos vivendo nos Andes a mais de 6 mil metros de altitude

Figura 1. Roedor da espécie Phyllotis vaccarum.

 
Os picos de vulcões de Puna de Atacama, no Chine e na Argentina, são o ambiente mais próximo de Marte encontrado na Terra, onde a atmosfera é muito rarefeita (com níveis de oxigênio ~50% menores do que a nível do mar), temperaturas são congelantes e o clima local muito seco. Em elevações superiores a mais de 6 mil metros acima do nível do mar, observadas nessas regiões, cientistas acreditavam que mamíferos não eram capazes de sobreviver. Agora, em um estudo publicado no periódico Current Biology (Ref.1), pesquisadores descobriram múltiplos roedores mumificados da espécie Phyllotis vaccarum a altitudes de até ~6230 metros, suportando evidências prévias de que roedores do gênero Phyllotis habitam e persistem nessas regiões. O achado expande os limites fisiológicos dos vertebrados em ambientes extremos da Terra.


"O mais fato mais surpreendente sobre a nossa descoberta é que mamíferos podem estar vivendo nos picos de vulcões onde as condições são tão inóspitas quanto Marte," disse em entrevista o autor principal do estudo, Dr. Jay Storz, um biólogo da Universidade de Nebraska, Lincoln, EUA (Ref.2). "Escaladores de montanhas bem treinados podem tolerar tais extremas elevações durante um dia de escalada até o cume, mas o fato de que esses roedores estão vivendo nessas elevações demonstra que nós estávamos subestimando as tolerâncias fisiológicas de pequenos animais."


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Para o estudo, os pesquisadores investigaram os picos de 21 vulcões Andinos, incluindo 18 com elevações superiores a 6 mil metros. Nessas buscas, eles encontraram 13 roedores da espécie P. vaccarum - popularmente conhecidos como "ratos-de-orelhas-folhadas" -, todos mumificados, no Vulcão Salín (6029 m de altitude; Argentina e Chile), Vulcão Púlar (6233 m; Chile), e no Vulcão Copiapó (6052 m; Chile). Múltiplos cadáveres mumificados foram encontrados nos vulcões de Salín e de Púlar. 


Figura 2. Múmia de um P. vaccarum encontrada no pico do Vulcão Salín. 


Datação via radiocarbono estimou que as múmias possuíam, no máximo, ~350 anos. Análise genética de amostras extraídas das múmias confirmaram que as múmias pertenciam à espécie P. vaccarum, essa a qual é conhecida de ocorrer em mais baixas elevações na região. Além disso, a análise genética revelou que existia um número igual de machos e de fêmeas, com um dos picos vulcânicos hospedando dois pares de espécimes próximo relacionados entre si. Isso aponta que os roedores não estavam apenas vagando de maneira ocasional nos picos, e, sim, que comunidades desses animais fizeram desses locais uma residência de longo prazo.


Em 2020, o mesmo grupo de pesquisadores do novo estudo, reportando no periódico PNAS (Ref.3), havia descrito e filmado a captura de um roedor da subespécie Phyllotis xanthopygus rupestris no pico do vulcão Andino Llullaillaco, a uma altitude recorde de 6,739 m. Somando-se a essa captura, existe um registro prévio em vídeo de um roedor do gênero Phyllotis a uma altitude de 6205 m. Esses registros podem ser vistos no vídeo abaixo.


          


Os primeiros reportes de roedores a elevações de >6 mil metros não foram feitos por biólogos, mas por arqueólogos, à medida que múmias desses animais têm sido ocasionalmente descobertas em associação com estruturas cerimoniais Incas e locais de enterro nos picos ou próximo dos picos de vários vulcões Andinos. Nesse contexto, existe a hipótese de que esses animais eram usados como parte dos rituais de sacrifício. Porém, as múmias e roedores vivos reportados no novo estudo e no estudo de 2020 não estavam em associação com estruturas cerimoniais Incas, e datação por radiocarbono dos espécimes mumificados confirmam uma idade inferior a <500 anos - ou seja, essas múmias não eram nem mesmo contemporâneas em relação à cultura Inca. Porém, cientistas ainda não sabem o porquê desses roedores terem escolhido ascender a elevações tão altas, e quais os mecanismos responsáveis por adaptações fisiológicas requeridas nesses ambientes (plasticidade fenotípica ou novos genes adaptativos?).


E talvez mais curioso: a disponibilidade de alimento (ex.: plantas) é quase inexistente a altitudes acima de 6 mil metros. Do que esses roedores estão se alimentando? Futuros estudos são esperados para esclarecer essas questões.


Até o momento, era pensado que o limite superior de sobrevivência para qualquer mamífero estava na faixa de 5200-5800 m acima do nível do mar. Essa faixa era baseada em limites fisiológicos de tolerância a hipoxia (escassez de oxigênio no ar respirável) e frio extremo (e consequente ambiente muito seco). Os novos achados colocam em xeque essa suposição.



REFERÊNCIAS

  1. Storz et al. (2023). Genomic insights into the mystery of mouse mummies on the summits of Atacama volcanoes. Current Biology, Volume 33, Issue 20, PR1040-R1042. https://doi.org/10.1016/j.cub.2023.08.081
  2. https://www.eurekalert.org/news-releases/1005132
  3. Storz et al. (2020). Discovery of the world’s highest-dwelling mammal. PNAS, 117 (31) 18169-18171. https://doi.org/10.1073/pnas.2005265117
  4. https://www.nature.com/articles/d41586-023-03282-1

Cientistas descobrem pequenos mamíferos vivendo nos Andes a mais de 6 mil metros de altitude Cientistas descobrem pequenos mamíferos vivendo nos Andes a mais de 6 mil metros de altitude Reviewed by Saber Atualizado on outubro 25, 2023 Rating: 5

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