Cheiro da mão é capaz de revelar o sexo de uma pessoa, demonstra estudo
Segundo um estudo publicado ontem no periódico PLOS One (1), o perfil de compostos químicos voláteis na mão de uma pessoa pode ser usado para predizer seu sexo biológico (macho ou fêmea). O modelo analítico de identificação desenvolvido pelos pesquisadores exibiu uma acuracidade de quase 97% na discriminação dos sexos com base apenas no 'cheiro da mão'.
Atividades criminais envolvendo roubos, assaltos (sexual, simples ou agravado) e estupro são frequentemente executados com o uso das mãos do criminoso. Como resultado, na perícia criminal, mãos são ponto focal de investigações como contribuintes de quantidades traços de evidência que podem ser depositadas nos objetos do dia-a-dia através de interações com o toque. Durante essas interações, envolvendo os criminosos, existe uma troca de material biológico e inorgânico. Impressões digitais (1) e DNA são as biométricas mais comumente utilizadas para identificar um suspeito ou vítima de um crime. No entanto, essas formas de evidência podem ser encontradas em quantidades que são muito pequenas para serem usadas, deixando pouca ou nenhuma evidência forense útil. Mesmo nesses casos, evidência odorífera humana pode ainda ser recuperada e potencialmente usada como característica individualizada em uma investigação.
(1) Leitura recomendada: Por que temos impressões digitais [dermatóglifos]?
O odor humano é uma complexa mistura de compostos orgânicos voláteis (COVs) secretados pelo corpo que são impactados por fatores genéticos e ambientais e secreções fisiológicas. VOCs são compostos orgânicos - frequentemente com altas pressões de vapor - que são emitidos no ambiente como gases. A persistência do odor de um indivíduo no ambiente é atribuída à constante descamação da epiderme [camada externa] da pele; esse processo deixa as células epiteliais no ambiente, junto com suor, óleos e outras secreções glandulares. Várias classes de compostos estão presentes nessas secreções, incluindo álcoois, aldeídos, hidrocarbonetos, ésteres e cetonas.
O odor de um indivíduo é compreendido de odores primário, secundário e terciário. O odor primário é estável ao longo do tempo e distinto para um indivíduo. Um fator contribuinte específico dessa distinção é atribuído a uma família de genes polimórficos conhecida como Complexo de Histocompatibilidade Principal (MHC). As proteínas/peptídeos/metabólicos do MHC podem contribuir diretamente com VOCs nas secreções (ex.: suor) e/ou indiretamente ao influenciara microbiota na pele. Nesse último ponto, a influência genética sobre a diversidade microbiana faz com que a microbiota seja outro fator contribuinte primário do odor. De fato, a perspiração não possui notável odor até que a microbiota na pele comece a quebrar compostos não-voláteis na pele, transformando-os em VOCs e produzindo o característico e forte 'odor corporal' (2).
(2) Leitura recomendada: O que causa, como é gerado e para que serve o mau-cheiro nas axilas?
Embora genética e diversidade microbiana ajudem na estabilidade do odor do corpo, existe uma composição odorífera secundária que têm sido determinada ser variável e endógena através da composição multicamadas na pele. Secreções fisiológicas produzidas da derme para a epiderme são excretadas através de três tipos de glândulas: écrina, apócrina e sebácea. Glândulas écrinas são distribuídas sobre todo o corpo humano, mas estão presentes com maior densidade nas palmas, testa e solas dos pés. Por fim, odor terciário possui a mais alta variabilidade devido a compostos exógenos, como bactérias estrangeiras, produtos cosméticos, sabões e perfumes.
Cães domésticos (Canis familiaris) bem treinados e especializados para a detecção de odores são capazes de distinguir e identificar odores específicos de cada pessoa e outros compostos químicos de interesse. No entanto, enquanto cães são confiáveis nessa tarefa, métodos laboratoriais usando instrumentos analíticos têm sido muito limitados para a identificação pessoal com base em odores corporais.
No novo estudo, os pesquisadores usaram a técnica de microextração em fase sólida através do headspace combinada com a cromatografia gasosa e espectrometria de massa (HS-SPME-GC-MS) para analisar os compostos voláteis presentes nas mãos de 60 voluntários (30 indivíduos do sexo feminino e 30 indivíduos do sexo masculino). Após identificar os compostos em cada amostra, os pesquisadores conduziram uma análise estatística para ver se conseguiam determinar o sexo dos indivíduos com base no perfil de VOCs. A metodologia de análise conseguiu predizer com sucesso o sexo das pessoas com uma taxa de acuracidade de 96,67%.
Os achados do estudo corroboram estudos prévios trazendo evidências de que o perfil individual de VOCs destrinchado por técnicas laboratoriais pode determinar várias características de uma pessoa, como sexo, idade e mesmo grupo étnico/geográfico. Isso abre caminho para mais uma importante ferramenta de análise forense no esclarecimento de crimes diversos. Estudos de maior porte e mais compreensivos são agora necessários para pavimentar esse caminho.
(1) REFERÊNCIA
- Frazier et al. (2023). Multivariate regression modelling for gender prediction using volatile organic compounds from hand odor profiles via HS-SPME-GC-MS. PLoS ONE 18(7): e0286452. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0286452
Reviewed by Saber Atualizado
on
julho 06, 2023
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