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Humanos modernos não tiveram uma origem única na África, aponta estudo

Figura 1. Foto de indivíduos do povo Gumuz, na Etiópia. 

 
É tradicionalmente pensado que humanos modernos (Homo sapiens) emergiram a partir de uma única região no continente Africano, há 200-300 mil anos. Porém, achados arqueológicos e dados genômicos nos últimos anos vêm desafiando essa ideia e suportando uma origem geográfica múltipla. Agora, em um estudo publicado no periódico Nature (Ref.1), cientistas usaram novos programas computacionais e dados de sequenciamento genômico derivados de atuais populações Africanas e Europeias, assim como de DNA Neandertal, para novamente desafiar a hipótese de origem única do H. sapiens. De acordo com o modelo desenvolvido no estudo, humanos modernos emergiram de múltiplas populações ancestrais ao longo da África interagindo entre si. Essas antigas populações - as quais viveram há mais de 1 milhão de anos - teriam todas representado a mesma espécie de hominini, mas levemente distintas em termos genéticos.


"O estudo contribui com mais evidência para a ideia de que não há um único local de nascimento na África, e que a evolução humana é um processo com raízes Africanas muito profundas," disse a Dra. Eleanor Scerri, uma arqueóloga evolucionária do Instituto Max Planck de Geoantropologia em Jena, Alemanha, comentando sobre o estudo (Ref.2).


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Décadas de estudo sobre a variação do genoma humano têm sugerido um modelo similar a uma árvore filogenética suportando divergência populacional recente de uma única população ancestral na África (Fig.2a,b), ou seja, emergência do H. sapiens em uma única localização geográfica a partir de uma população isolada - no Leste ou no Sul Africano. Porém, tal modelo proposto é difícil de ser conciliado com registros fósseis e arqueológicos de ocupações humanas ao longo do vasto continente Africano. Por exemplo, fósseis em regiões muito distantes entre si - incluindo no Marrocos, Etiópia e na África do Sul - exibindo características anatômicas típicas do H. sapiens apontam que a nossa espécie já estava ocupando grande parte da África há pelo menos 300 mil anos. Considerando uma origem única, seriam esperados fósseis de H. sapiens muito antigos limitados apenas a uma região Africana específica. É incerto se muitos desses fósseis representam populações ancestrais que contribuíram para o H. sapiens contemporâneo ou "becos sem saída" evolucionários.


Para contornar dados genéticos conflituosos, e inspirados nas hibridizações entre humanos modernos e Neandertais (Homo neanderthalensis) na Eurásia (1), vários estudos têm introduzido uma população "fantasma" de humanos arcaicos contribuindo com fluxo genético em populações de H. sapiens no período cercando o evento de migração para fora da África, melhorando as evidências genômicas contemporâneas no sentido de suportar modelos de origem única (Fig.2c). Porém, evidência de DNA antigo é muito limitada para esclarecer a real plausibilidade desse cenário - além deste ignorar outras soluções mais plausíveis já propostas. 


(1) Leitura recomendadaNeandertais eram capazes de produzir arte e expressar linguagem?


Nesse último ponto, tentativas de conciliar dados paleoantropológicos e genéticos incluem propostas de uma origem Pan-Africana do H. sapiens, na qual populações em várias regiões do continente contribuíram para a formação dos humanos modernos com início há pelo menos 300 mil anos (Fig.2d).


Figura 2. Modelos conceituais propostos da história humana inicial na África. (a) Modelo tradicional, com recente expansão das populações humanas, e partindo de uma origem única (longo isolamento com subsequente migração). (b) Expansão recente com persistência regional. (c) Introgressão arcaica em humanos modernos - após origem única com recente expansão. (d) Modelo multirregional, com múltiplas populações de H. sapiens ancestrais interagindo entre si. Ref.1

No novo estudo, um time internacional de pesquisa, liderado pelas Universidades de McGill e da Califórnia-Davis, resolveu testar de forma sistemática e com um poderoso software (e novo algoritmo) os diferentes modelos de origem evolucionária dos humanos modernos, a partir de uma avançada e detalhada análise genômica retrógrada. Essa análise englobou dados genéticos de 290 indivíduos de quatro grupos Africanos geograficamente e geneticamente diversos, traçando as similaridades e diferenças entre populações ao longo do último milhão de anos e esclarecendo interconexões e a evolução da nossa espécie na África.


Os grupos Africanos foram representados por povos nativos do continente: Nama (Khoe-San, da África do Sul); Mende (da Serra Leoa); Gumuz (descendentes recentes de um grupo de caçadores-coletores da Etiópia); e Amhara e Oromo (agricultores do Leste da África). Além disso, os pesquisadores também incluíram genomas de indivíduos Britânicos como representantes do fluxo genético de "volta-para-a-África" e recente mistura colonial no Sul da África, e de genoma Neandertal, especificamente da Caverna de Vindija, na Croácia, representando o fluxo genético de Neandertais para humanos modernos fora da África - e assumindo como princípio que os Neandertais divergiram do ancestral comum com a nossa espécie há 550 mil anos.


Os resultados das análises - as quais testaram centenas de cenários evolucionários - deram consistente suporte para um modelo evolutivo baseado em intensa migração e contínua interação entre populações ancestrais dos humanos modernos ao longo de centenas de milhares de anos e pertencentes a regiões diversas ao longo do continente Africano (Sul-Oeste-Leste) até a emergência do H. sapiens, sem forte isolamento de populações divergentes desde o ancestral comum com os Neandertais e outros humanos arcaicos (2). Esse modelo, discordante com a concepção tradicional de origem única da nossa espécie, forneceu uma explicação muito melhor para a variação genética observada hoje nas populações de humanos modernos. Subpopulações ligadas aos grupos contemporâneos hoje na África, segundo apontou o modelo, teria um ancestral comum H. sapiens há cerca de 120 mil anos - após os eventos de intenso fluxo genético ao longo da África determinando a emergência multirregional da nossa espécie; essas subpopulações teriam, então, mantido relativo isolamento, mas ainda assim significativos fluxos genéticos continuaram ocorrendo.


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(2) Recentemente foi proposta a espécie Homo bodoensis como ancestral direto do Homo sapiens, em uma tentativa de resolver a problemática questão do Pleistoceno Médio - período onde teria ocorrido o intenso fluxo genético pan-Africano responsável pela emergência multirregional dos humanos modernos. Para mais informações, acesse: Cientistas revelam possível ancestral direto da nossa espécie

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O modelo suportado pelo estudo aponta que as diferenças genéticas entre as diferentes populações ancestrais dos humanos modernos (espécie Homo bodoensis?) eram pequenas e similares ao nível de diferença entre as atuais populações humanas ao redor do globo. Ao invés de um 'tronco' único nas relações filogenéticas, teríamos um tipo de "vinha entrelaçada", com humanos modernos eventualmente emergindo de forma relativamente simultânea em diferentes localidades Africanas.


Os pesquisadores agora esperam adicionar mais dados genéticos em futuras análises e realizar predições sobre potenciais fósseis a serem descobertos na África de forma a suportar ou não o novo modelo de origem multirregional do H. sapiens


REFERÊNCIAS

  1. Ragsdale et al. (2023). A weakly structured stem for human origins in Africa. Nature. https://doi.org/10.1038/s41586-023-06055-y
  2. https://www.nature.com/articles/d41586-023-01664-z

Humanos modernos não tiveram uma origem única na África, aponta estudo Humanos modernos não tiveram uma origem única na África, aponta estudo Reviewed by Saber Atualizado on maio 19, 2023 Rating: 5

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