Terapia com vacinas de RNA mensageiro elimina tumores causados por vírus HPV em testes com animais
"O câncer de colo do útero provocado pelo vírus HPV tem alta prevalência em todo o mundo, porém causa um maior número de mortes em países em desenvolvimento, que possuem menos estrutura para diagnóstico e tratamento", afirmou ao Jornal da USP o professor do ICB Luís Carlos de Souza Ferreira, que coordenou a pesquisa em parceria com o professor Norbert Pardi, da Universidade da Pensilvânia. “No Brasil, são cerca de 5 mil mortes anuais por câncer de colo de útero, além dos casos de câncer colorretal, de cabeça e pescoço, também causados pelo HPV (!)."
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No estudo, realizado em camundongos, as vacinas baseadas em mRNA transportam informação genética que codifica o antígeno-alvo, uma proteína do HPV, que é o agente causador da doença. "Ao serem administradas nos animais, essa informação ativou células T citotóxicas capazes de reconhecer e destruir as células tumorais e conferir memória imunológica com capacidade de impedir recidivas do tumor", descreveu Ferreira. "Pela primeira vez, foram testadas três plataformas tecnológicas para o preparo de vacinas de mRNA que codificam para o mesmo antígeno-alvo e testadas no mesmo modelo experimental."
Todas as vacinas testadas forneceram proteção contra tumores que expressam oncoproteínas do HPV-16, o principal tipo de papilomavírus associado a tumores em seres humanos. "Um fato relevante é que as vacinas eliminaram tumores em estágio avançado de crescimento após a administração de apenas uma dose e em quantidade reduzida, minimizando as chances de reações inflamatórias e efeitos adversos associados ao tratamento", afirmou Ferreira. "Os resultados foram muito superiores a estudos anteriores feitos pelo nosso grupo e em outros espalhados pelo mundo, e que empregaram vacinas baseadas em peptídeos, proteínas purificadas, vetores virais ou mesmo moléculas de DNA."
"Outro avanço importante no desenvolvimento dos imunizantes foi a substituição de algumas bases nitrogenadas que compõem a molécula de RNA, de modo a reduzir a inflamação causada após a administração em nosso organismo, estratégia utilizada com sucesso nas vacinas contra o coronavírus”, apontou o professor. "No estudo que fizemos comparamos, pela primeira vez, três tipos de vacina de mRNA: uma baseada em moléculas de RNA com bases modificadas, incapazes de se multiplicarem no interior de nossas células, similar às usadas para COVID-19; uma também com mRNA não replicante, mas sem mudança nas bases nitrogenadas; e uma com capacidade de se replicar, tecnologia ainda pouco utilizada nas pesquisas deste campo."
De acordo com o professor, os resultados da pesquisa abrem perspectivas para uma nova geração de terapias antitumorais baseadas no princípio de imunização ativa. "A imunoterapia baseada em mRNA induz à resposta imunológica de forma ativa e não depende da aplicação sucessiva de moléculas ou células preparadas fora do nosso corpo, que têm custo elevado e efeitos adversos frequentes e graves", apontou Ferreira. "A abordagem vacinal para o tratamento de diferentes tipos de câncer poderá ser a nova fronteira da luta contra a doença e propiciará redução de custo, eliminação de efeitos adversos graves e conferir proteção duradoura, impedindo recidivas, ou seja, o retorno da doença."
> Este texto [parcial] foi originalmente publicado no Journal da USP. Para mais informações, acesse aqui o texto completo.