Cientistas confirmam pela primeira vez a presença do raro gato de Pallas no Monte Everest
Durante uma importante expedição científica comissionada pela National Geographic no Monte Everest, pesquisadores encontraram evidência conclusiva da presença do enigmático e raro gato de Pallas no Parque Nacional de Sagarmatha, no Nepal (Ref.1). Amostras ambientais coletadas em duas localizações - elevações de 5110 e 5190 metros acima do nível do mar - foram geneticamente analisadas e apontaram a presença de DNA do felino - assim como de duas das suas presas: roedores do gênero Ochotona ("Pika") e de doninha das montanhas (Mustela lutreolina).
Região onde amostras fecais do gato de Pallas foram coletadas no Monte Everest. Foto: Anton Seimon/National Geographic |
> O gato de Pallas (Otocolobus manul) é bastante similar a gatos domésticos, mas com óbvias diferenças, como as orelhas curtas e redondas - e posicionadas quase ao lado da cabeça e não "acima" -, rosto peculiarmente achatado e pupilas redondas (!). Com longa e densa pelagem - importante para protegê-los do frio -, os gatos dessa espécie possuem em torno de 60 cm de comprimento e uma massa corporal variando de 1,8 kg até 5 kg. Habitam áreas rochosas, secas e cobertas de arbusto ao longo da Ásia Central, ambientes onde conseguem se camuflar bem visando tanto a caça quanto defesa contra predadores (ex.: leopardos, lobos, águias). Caçam principalmente roedores, mas também podem se alimentar de pequenos lagartos e aves, e preferem realizar emboscadas do que perseguir presas. Existem três subespécies reconhecidas: O. m. manul, O. m. nigripectus e O. m. ferrugineus (Ref.2).
Indivíduo adulto no zoológico de Rotterdam, em Diergaarde Blijdorp. Foto: Wikimedia |
Devido a pressões antropogênicas como caça e devastação de biomas, o gato de Pallas é listado como Quase Ameaçado na IUCN e é considerado ameaçado de extinção no seu habitat natural (Ref.4). Apesar da ampla distribuição na Ásia, suas populações são extremamente fragmentadas (Ref.5).
(!) Aliás, é ainda motivo de debate acadêmico o posicionamento filogenético dessa espécie - representante único do seu gênero (Otocolobus). Tradicionalmente, e com base em análise do genoma nuclear, o gato de Pallas possui um ancestral comum mais próximo compartilhado com felinos do gênero Prionailurus (Ref.2). Porém, uma análise do genoma mitocondrial (mtDNA) dessa espécie publicada em 2018 - e corroborando sugestões prévias - apontou uma proximidade evolutiva maior com felinos do gênero Felis, este o qual engloba o gato doméstico (Felis catus) (Ref.4). Por outro lado, um estudo preprint (ainda sem revisão de pares) mais recente reforçou o posicionamento do gato de Pallas como mais próximo do gênero Prionailurus (Ref.5).
Relação filogenética proposta na mais recente análise do mtDNA da espécie (Flack et al.). Ref.5 |
REFERÊNCIAS
- https://newsroom.wcs.org/News-Releases/articleType/ArticleView/articleId/18604/First-Report-of-Rare-Cat-Discovered-on-Mt-Everest.aspx
- https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ece3.9624
- https://nationalzoo.si.edu/animals/pallas-cat
- https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/23802359.2019.1568207
- https://wildlife.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jwmg.22150