Exercícios físicos reduzem o total diário de batimentos cardíacos e tornam o corpo mais eficiente, aponta estudo
Existe uma crença ainda muito disseminada de que exercícios físicos "gastam a energia vital do corpo", acelerando o fim da "vida útil" dos órgãos. Essa crença tem sido popularizada nos últimos anos pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Segundo Trump, o corpo humano é como uma "bateria com uma quantidade finita de energia". Trump acredita que exercícios físicos são desnecessários, apenas gastam a "bateria do corpo" e que as pessoas deveriam conservar energia para prolongar a vida. Obviamente, isso não possui suporte científico e a verdade é o contrário: diversos estudos mostram que a prática regular de exercícios físicos prolonga a vida e torna o envelhecimento mais saudável. E um novo estudo experimental publicado no periódico JACC Advances (Ref.1) reforçou que o mesmo se aplica ao coração.
Pessoas em melhor forma física usam menos batidas cardíacas por dia - potencialmente adicionando anos extras à expectativa de vida. O estudo mostrou que atletas exibem uma taxa cardíaca média de 68 batidas por minuto (bpm) durante dias de treinamento, enquanto o valor é de 76 bpm em pessoas comuns (não atletas). Isso é traduzido para um total de 97920 batidas por dia para atletas e 109440 batidas por dia para pessoas comuns - uma diferença de quase 11%, mesmo levando em conta os picos de frequência cardíaca durante os treinos físicos.
"Essa é uma incrível economia em torno de 11500 batidas por dia," disse em entrevista o autor principal do novo estudo, Dr. Andre La Gerche, do Laboratório HEART (Ref.2). "Mesmo o coração de atletas trabalhando com mais vigor durante exercícios, a taxa cardíaca reduzida em repouso mais do que compensa o esforço."
É sugerido de que, ao longo das espécies de mamíferos, a duração da vida é predeterminada pela bioenergética básica das células vivas. Considerando a frequência cardíaca como um marcador da taxa metabólica, a expectativa de vida seria inversamente proporcional à frequência cardíaca. Esse conceito ressoa com o fato bem estabelecido de que um aumento na taxa cardíaca de repouso está associado com um risco cardiovascular. No entanto, exercícios físicos também reduzem a taxa cardíaca a longo prazo, provavelmente compensando um aumento de curto prazo (esforço físico) na taxa cardíaca.
O novo estudo buscou explorar a resposta adaptativa do sistema cardiovascular ao aumento da demanda metabólica durante exercícios físicos. Para isso, dados de aptidão física de 109 atletas e 38 adultos saudáveis (controle) australianos foram analisados, todos com idades similares. Os dados foram gerados por um estudo prospectivo prévio (Prospective Athletic Heart).
Os atletas apresentaram frequências cardíacas em repouso tão baixas quanto 40 bpm, em comparação com a média de 70 a 80 bpm do grupo de controle. Na média diária entre os dois grupos, uma diferença notável de 10,6% no total de batimentos cardíacos.
Isso significa que, ao longo de 24 horas, os atletas utilizam significativamente menos batimentos cardíacos no total do que pessoas sedentárias, mesmo após considerar os picos de frequência cardíaca durante os treinos - com duração, por exemplo, de 2 horas por dia.
"Quanto mais em forma você está, mais eficiente metabolicamente seu corpo se torna”, disse La Gerche (Ref.2). "Mesmo que você treine pesado por uma hora por dia, seu coração bate mais devagar nas outras 23 horas. O efeito final é um menor número de batimentos cardíacos no geral."
"O corpo é inerentemente preguiçoso - ele sempre tentará encontrar a maneira mais fácil de funcionar – e, portanto, nos atletas, o organismo se torna extremamente eficiente no uso do oxigênio que está sendo bombeado."
Porém, os pesquisadores alertaram que esforços físicos extremos e muito prolongados podem aumentar o número médio de batidas cardíacas diárias durante o período do esforço. Isso foi apontado por uma análise de 22 homens e 35 mulheres, todos ciclistas profissionais, que participaram do Tour de France 2023. Embora seja incerto os efeitos a longo prazo.
A relação entre exercício e frequência cardíaca em atletas de elite corrobora a premissa de que o metabolismo energético pode ser otimizada por meio de treinamento físico regular, mas também pode ser comprometida por períodos prolongados de exercício intenso. Um tônus vagal mais elevado pode representar um mecanismo de proteção que liga a frequência cardíaca de repouso mais baixa em atletas a uma função metabólica mais eficiente.
Considerando a taxa cardíaca de repouso como um indicador de saúde cardiovascular, o estudo reforça que a prática regular de exercícios físicos moderados a intensos, mas sem exageros, reduz o risco de mortalidade.
> A taxa cardíaca normal de repouso varia entre 60 e 100 batidas por minuto (bpm), mas pode variar ao longo do dia e de pessoa para pessoa.
REFERÊNCIAS
- Puyvelde et al. (2025). Balancing Exercise Benefits Against Heartbeat Consumption in Elite Cyclists. JACC: Advances, Volume 4, Number 10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jacadv.2025.102140
 - https://www.victorchang.edu.au/news/exercise-heartbeats-study
 
 
        Reviewed by Saber Atualizado
        on 
        
novembro 03, 2025
 
        Rating: 


