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Grande declínio nas taxas de alergia ao amendoim após intervenção pública baseada em evidência científica


Amendoim representa uma das causas mais comuns de alergia alimentar anafilática ou mediada por imunoglobulina E (IgE). Entre as alergias alimentares pediátricas, é a mais forma mais comum. Nos EUA, alergia ao amendoim afeta mais de 2% das crianças. Após acúmulo de robusta evidência científica, guias de saúde ao longo dos últimos 10 anos passaram a recomendar a introdução de alimentos alergênicos a partir dos 4-6 meses de idade visando reduzir o risco para o desenvolvimento de alergias alimentares nas crianças. Agora, um estudo publicado no periódico Pediatrics (Ref.1) mostrou que houve redução significativa no diagnóstico de alergias alimentares na população norte-americana seguindo a aplicação dessa recomendação como medida preventiva de saúde pública.


O estudo estimou que 60 mil crianças evitaram o desenvolvimento de alergia ao amendoim desde 2015 no país. Notavelmente, incidência de alergia ao amendoim em bebês e crianças de 0 a 3 anos de idade declinou em 43% após expansão da recomendação de exposição precoce aos alérgenos alimentares pelas agências de saúde a partir de 2017.


Casos esperados de alergias alimentares em geral caíram 30-35% no mesmo período (pós-expansão da nova diretriz).


"Todos se perguntam se essas intervenções na saúde pública tiveram algum impacto na redução das taxas de alergias alimentares mediadas por IgE nos EUA", disse em entrevista o autor principal do novo estudo, Dr. Stanislaw Gabryszewski (Ref.2). "Agora temos dados sugestivos de que o efeito dessa intervenção histórica está ocorrendo."


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A alergia ao amendoim afeta 1-3% das crianças ao redor do mundo e frequentemente é severa e persiste até a adolescência e a fase adulta. Em países ocidentais, estima-se que mais de 2% da população possui alergia ao amendoim. É uma reação de hipersensibilidade mediada por IgE, na qual proteínas do amendoim desencadeiam uma resposta imune específica. Pelo menos 16 proteínas nas sementes da planta do amendoim (Arachis hypogaea) estão envolvidas com essa reação alérgica (Ref.3-4). As três principais proteínas alergênicas do amendoim são: Ara h 1, Ara h 2 e Ara h 3. 


Proteínas como a Ara h 2 se ligam aos anticorpos IgE nos mastócitos e, após a reexposição, essas proteínas fazem com que os mastócitos liberem mediadores inflamatórios. Esses mediadores, juntamente com citocinas, levam aos sintomas de reação alérgica, que podem incluir reações cutâneas, inchaço, dificuldade respiratória, problemas gastrointestinais (ex.: vômitos) e, em casos graves, anafilaxia - reação de hipersensibilidade aguda potencialmente fatal (link da SBAI para mais informações). Até ~70% das crianças com alergia ao amendoim podem experienciar complicações muito graves após segunda exposição (Ref.3).


Nas últimas décadas, tem sido postulado que a alergia alimentar mediada por IgE pode ser prevenida através da exposição precoce do antígeno alimentar ao intestino de bebês - um ambiente caracterizado por tolerância imunológica. Essa hipótese ganhou grande suporte científico com um notável estudo clínico randomizado publicado em 2015 no periódico New England Journal of Medicine (Ref.5). 


O estudo (LEAP) envolveu 640 bebês de 4 a 11 meses de idade com eczema severo e/ou alergia ao ovo, sem sinais clínicos de alergia ao amendoim. Os participantes foram expostos regularmente ou evitaram o amendoim na alimentação até os 5 anos de idade. No grupo exposto ao amendoim, foi observada uma redução de 81% no risco de alergia ao amendoim até os 5 anos de idade. E o efeito protetor persistiu até a adolescência.


Seguindo esse estudo, múltiplas organizações de saúde e especialistas começaram a produzir guias recomendando a exposição segura e precoce de alimentos alérgenos - para alguns bebês até 2017 e para todos os bebês após 2017. Atualmente, recomenda-se a introdução segura e sob orientação médica de amendoim, ovos e outros principais alérgenos alimentares a partir de 4 a 6 meses de idade, independentemente do histórico atópico ou alérgico (!). 


Antes dessas recomendações, pais eram frequentemente orientados a atrasar a exposição alimentar de amendoim aos filhos para evitar possíveis reações alérgicas ou gatilhos nesse sentido.


Novo estudo


Usando dados de registros eletrônicos de saúde da rede multi-estadual de Pesquisa de Eficácia Comparativa por meio de Relatórios Eletrônicos Colaborativos (CER2) da Academia Americana de Pediatria, baseada em cuidados primários, os pesquisadores no novo estudo compararam as taxas de diagnóstico de alergia alimentar em diferentes períodos de tempo, antes do estabelecimento de diretrizes de introdução precoce ao amendoim, assim como diretrizes - e expansões dessas diretrizes - posteriores. Dados analisados cobriram o período de setembro de 2012 até o início de 2019. 


O estudo encontrou reduções significativas na prevalência de alergia alimentar mediada por IgE ao amendoim (de 0,79% para 0,45% da população estudada) e de qualquer alergia alimentar mediada por IgE (1,46% para 0,93% da população) entre o períodos anterior e posterior às diretrizes. O amendoim passou do primeiro para o segundo alérgeno alimentar mais comum após a aprovação das diretrizes, superado pelo ovo. 


Os autores do estudo estimaram que, para cada 200 bebês expostos a alérgenos alimentares no início da vida, uma criança teria sido prevenida de desenvolver alergia alimentar. Isso significa que, atualmente, existem ~60 mil casos a menos de alergia ao amendoim nos EUA, entre crianças, graças às mudanças de diretrizes.


Embora a estratégia de introdução precoce de alérgenos não elimine completamente alergias alimentares mediadas por IgE, a redução nas taxas de diagnóstico de alergia alimentar é um avanço mais do que promissor que ressalta a importância de políticas públicas baseadas em evidência científica.


Curiosamente, na população estudada, as taxas de alergia ao ovo não mudaram após 2015, enquanto que as taxas de eczema aumentaram no período analisado pós-intervenção. As causas para essas observações são incertas.


Importante também realçar que os achados foram baseados em registros médicos e não em testes cutâneos de alergia ao amendoim.

 


(!) Epidemia de Alergia Alimentar


A alergia alimentar tem emergido como uma grande e crescente preocupação de saúde no século XXI. Conhecida como a "segunda onda" da alergia epidêmica, a alergia alimentar é uma resposta imunológica específica - geralmente mediada por IgE - a um alimento específico qualquer que pode causar efeitos adversos à saúde de forma reproduzível após a exposição. É a causa mais comum de anafilaxia em crianças e resulta em vários efeitos deletérios crônicos e agudos ao longo da vida do indivíduo. Estudos epidemiológicos em países ocidentais sugerem que a prevalência de alergia alimentar clínica entre crianças em idade pré-escolar pode chegar a 10% (Ref.6). No mundo, alergias alimentares afetam ~4% das crianças.


Quando o bebê está pronto para iniciar o consumo de alimentos sólidos, preparações adequadas com amendoim podem ser introduzidos. Introdução precoce de ovo e de outros alérgenos alimentares comuns é também encorajada, com base na preferência dos hábitos alimentares da família. Idealmente, busque orientações pediátricas nesse sentido.


> Bebês se tornam interessados em alimentos sólidos ao redor de 4 a 6 meses de idade. Mas NÃO adicione açúcar, sal ou especiarias nessa fase. Além disso, leite bovino, suco ou mel não deve ser introduzido até 1 ano de vida. Introdução do mel, em particular, antes dos 12 meses de idade pode causar infecção botulínica, a qual é severa nesse contexto. 


> Alimentos sólidos duros (ex.: sementes), redondos e pegajosos (ex.: pasta de amendoim) devem ser evitados até 4 de idade, para evitar risco de engasgo e outros eventos adversos. E a introdução de alimentos sólidos precisa ser gradual, em termos tanto de variedade quanto de quantidade.


> Amamentação materna e, em caso de necessidade médica, fórmula infantil devem continuar sendo oferecidos ao bebê até pelo menos 1 ano de idade, independentemente do consumo concomitante de alimentos sólidos. Sugestão de leitura: Fórmulas modernas são equivalentes ao leite materno?


> Evidência clínica recente também sugere que expor crianças novas com alergia alimentar a quantidades diminutas do alimento alergênico é mais seguro do que evitar por completo o alérgeno, esse último cenário potencialmente muito perigoso caso exposição acidental aconteça. Esse tipo de estratégia (imunoterapia oral) pode reduzir a severidade de uma reação alérgica no caso de exposições acidentais. Porém, busque orientação médica antes de adotá-la. Ref.8


REFERÊNCIAS

  1. Hill et al. (2025). Guidelines for Early Food Introduction and Patterns of Food Allergy. Pediatrics, e2024070516. https://doi.org/10.1542/peds.2024-070516
  2. https://www.chop.edu/news/childrens-hospital-philadelphia-researchers-observe-significant-reduction-diagnosis-food
  3. https://www.mdpi.com/2304-8158/12/6/1253
  4. Breiteneder & Palladino (2018). Peanut allergens. Molecular Immunology, Volume 100, Pages 58-70. https://doi.org/10.1016/j.molimm.2018.04.005
  5. Toit et al. (2015). Randomized Trial of Peanut Consumption in Infants at Risk for Peanut Allergy. NEJM, 372:803-813. https://doi.org/10.1056/NEJMoa1414850
  6. Gohen et al. (2024). Peanut allergen characterization and allergenicity throughout development. Frontiers in Allergy, Volume 5. https://doi.org/10.3389/falgy.2024.1395834
  7. Gupta et al. (2025). Pediatric Clinician Adherence to Peanut Allergy Prevention Guidelines: A Randomized Trial. Pediatrics, e2025071233. https://doi.org/10.1542/peds.2025-071233
  8. Soller et al. (2025). Oral Immunotherapy Should Play a Key Role in Preschool Food Allergy Management. Clinical & Experimental Allergy, Volume 55, Issue 4, Pages 294-306. https://doi.org/10.1111/cea.70013
Grande declínio nas taxas de alergia ao amendoim após intervenção pública baseada em evidência científica Grande declínio nas taxas de alergia ao amendoim após intervenção pública baseada em evidência científica Reviewed by Saber Atualizado on outubro 24, 2025 Rating: 5

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