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Jejum intermitente mostrou reverter o quadro de diabetes Tipo 2 em um estudo clínico conduzido na China

 
- Atualizado no dia 29 de janeiro de 2023 -

Entre 400 e 600 milhões de pessoas vivem com diabetes ao redor do mundo (diagnosticada ou não). O diabetes Tipo 2 responde por mais de 90% dos pacientes com diabetes e promove complicações microvasculares e macrovasculares que causam profundos fardos psicológicos, físicos e financeiros tanto nos indivíduos diretamente afetados quanto nos sistemas de saúde. Em um estudo publicado recentemente no periódico The Journal of Clinical Endrocrinology & Metabolism (Ref.1), pesquisadores conduziram um teste clínico randomizado e controlado que mostrou completa remissão do diabetes Tipo 2 em quase 50% dos participantes no grupo de intervenção, através do uso de jejum intermitente aliado com restrição calórica. Além de oferecer uma estratégia de baixo custo para o tratamento da doença, o estudo também desafiou a ideia de que remissão do diabetes do Tipo 2 só pode ser alcançada naqueles com a condição há menos de 6 anos.


"Diabetes Tipo 2 não é necessariamente uma doença permanente e vitalícia. Remissão do diabetes é possível se os pacientes emagrecerem ao mudar seus hábitos alimentares e de exercícios físicos," disse Dr. Dongbo Liu, da Universidade Agricultural de Hunan, em Changsha, China, e um dos autores do novo estudo, em entrevista ao jornal da The Endocrine Society (Ref.2). "Nosso estudo mostra que uma dieta intermitente na forma de Terapia de Nutrição Médica Chinesa pode levar a uma remissão do diabetes Tipo 2, e os achados podem ter um grande impacto nos mais de 537 milhões adultos ao redor do mundo que sofrem com a doença."


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O Diabetes Mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade desse hormônio exercer adequadamente seus efeitos, resultando em resistência insulínica. Caracteriza-se pela presença de hiperglicemia crônica (nível elevado e de longo prazo da glicose circulante), frequentemente acompanhada de dislipidemia, hipertensão arterial e disfunção endotelial. O diabetes Tipo 2, em específico, é caracterizado por deficiência relativa de insulina causada por disfunção das células-Beta pancreáticas e por resistência à insulina em múltiplos órgãos (fígado, musculatura esquelética, cérebro, rins, intestino delgado e tecido adiposo). A condição também leva a distúrbios no cólon e no microbioma associado, desregulação imune e maior nível de inflamação no corpo.


A patologia da diabetes Tipo 2 envolve fatores genéticos e ambientais, os quais tornam as pessoas mais ou menos suscetíveis ao desenvolvimento de um quadro diabético. Fatores genéticos são expressos seguindo exposição a um ambiente obesogênico caracterizado por comportamento sedentário e consumo excessivo de açúcares e de gordura. A crescente crise de obesidade no mundo e a prevalência cada vez maior de um estilo de vida sedentário e consumo de dietas com denso conteúdo energético e pobre em outros nutrientes (calorias vazias) têm levado a um aumento dramático na incidência de diabetes Tipo 2 nas últimas décadas.


Doenças cardiovasculares são a principal causa de morbidade e de mortalidade associadas com o diabetes Tipo 2, com consequente necessidade de tratamento intensivo para o controle lipídico e de glicose no sangue assim como para a pressão sanguínea, objetivando minimizar o risco de complicações (ex.: retinopatia, nefropatia, neuropatia, cardiopatia) e de progressão do quadro diabético.


Nesse sentido, essa enfermidade representa um elevado fardo econômico para o indivíduo diabético e para a sociedade, especialmente quando mal controlada, sendo a maior parte dos custos diretos de seu tratamento relacionada às suas complicações, que comprometem a produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos, e que, muitas vezes, podem ser reduzidas, retardadas ou evitadas. 


A modificação do comportamento alimentar inadequado, redução da massa adiposa (emagrecimento) e mudanças no estilo de vida (ex.: maior prática de exercícios físicos regulares) são consideradas terapias de primeira escolha para o tratamento do diabetes Tipo 2 e de síndromes metabólicas em geral.


O Jejum Intermitente é uma estratégia alimentar ficando muito popular, e também intensamente investigada em estudos clínicos. Evidências científicas acumuladas nos últimos anos sugerem que além de potencialmente auxiliar o emagrecimento e manutenção da perda de gordura corporal (1), esse protocolo alimentar ainda pode trazer benefícios à saúde.


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(1) Importante realçar que para o emagrecimento, simples restrição calórica é suficiente - a qual tipicamente acompanha a estratégia do jejum intermitente (e obrigatoriamente caso o objetivo seja emagrecimento). Para mais informações: Jejum Intermitente emagrece e traz benefícios à saúde?

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O Jejum é uma abstinência voluntária do consumo de alimentos por um específico período de tempo. O jejum intermitente é tipicamente definido como uma completa ou parcial restrição no consumo calórico (50-100%) de 1 a 3 dias por semana, ou uma completa restrição no consumo calórico durante um certo período do dia que ultrapassa o período de jejum durante o sono. Também pode ser feito de forma alternada (um dia com um consumo calórico normal e o outro com um consumo geralmente entre 0% e 25% do normal). O protocolo mais seguido é aquele onde diariamente existe um janela limite de 4-8 horas para todas as refeições, com o resto do dia em total jejum.


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No novo estudo clínico, os pesquisadores recrutaram 72 pessoas (66,7% do sexo masculino) com idades entre 38 e 72 anos, diagnosticadas com diabetes Tipo 2 (duração de 1 a 11 anos), exibindo índice de massa corporal (IMC) de 19,1 até 30,4, e com histórico de uso de medicamentos antidiabéticos e/ou injeção de insulina. Os participantes foram aleatoriamente colocados ou em um grupo de intervenção (jejum intermitente + restrição calórica) ou em um grupo de controle. O resultado primário visado era remissão diabética, definida como um nível estável de hemoglobina A1C (HbA1C) inferior a 48 mmol/mol (<6,5%) por pelo menos 3 meses após descontinuidade de todas medicações antidiabéticas. Resultados secundários incluíram nível de HbA1C, nível de glicose sanguínea em jejum, pressão sanguínea, massa corporal, qualidade de vida e custo de medicamentos. 


O grupo de intervenção foi submetido a um ciclo de dieta onde por 5 dias os participantes ingeriam cerca de 840 kcal por dia divididos em três janelas de refeição: café da manhã entre 6:30 e 8:30 a.m., almoço entre 11 a.m. e 1 p.m., e almoço entre 5 e 7 p.m. (e sem substituição de alimentos, apenas redução no consumo calórico). Após os 5 dias de jejum intermitente, os participantes nesse grupo eram permitidos de comer o que quisessem pelos próximos 10 dias, e assim por diante, ao longo de 90 dias (seis ciclos no total). Essa estratégia alimentar foi adotada para se aproximar ao máximo da rotina já seguida previamente pelos participantes, permitindo uma melhor adaptação e manutenção da dieta a longo prazo. Já o grupo de controle foi permitido de comer a vontade (dieta normalmente seguida pelos participantes no dia-a-dia) ao longo dos 90 dias.


Após completar 3 meses de intervenção e mais 3 meses de acompanhamento, 47,2% (17/36) dos participantes alcançaram remissão do quadro diabético no grupo sob jejum intermitente e restrição calórica, enquanto que apenas 2,8% (1/36) dos indivíduos no grupo de controle alcançou remissão. A massa corporal média foi reduzida em ~6 kg no grupo de intervenção e apenas 0,27 kg no grupo de controle. Após 12 meses de acompanhamento, 44,4% dos participantes (16/36) alcançaram remissão sustentada do quadro diabético. O gasto financeiro em medicamentos foi 77,22% menor no grupo de intervenção em relação ao grupo de controle.


Os achados do estudo, portanto, suportam que simples intervenção alimentar com redução calórica e jejum intermitente é suficiente para remissão do diabetes Tipo 2, e contrariam a ideia de que remissão diabética só pode ser alcançada naqueles enfrentando a condição por menos de 6 anos. De fato, 65% dos pacientes no estudo que alcançaram remissão do diabetes tinham um quadro diabético por mais de 6 anos (6-11 anos).


O ciclo do metabolismo energético do nosso corpo - conhecido tradicionalmente como ciclo glicose-ácido graxo (ou ciclo alimentado-jejum) - engloba quatro estágios: estado alimentado, estado pós-absortivo, estado de jejum e estado de jejum prolongado. Durante uma típica rotina alimentar onde o indivíduo ingere alimentos ao longo de todo o dia (com exceção do período de sono), os únicos estados relevantes são o alimentado e o pós-absortivo, onde glicose é a principal fonte energética, insulina é constantemente liberada para o controle glicêmico e gordura é armazenada como triglicerídeos no tecido adiposo. 


Durante prolongados períodos de jejum, o glucagon se torna o hormônio primário, o corpo usa glicogênio armazenado no fígado para energia, e triglicerídeos do tecido adiposo são convertidos em ácidos graxos e glicerol, os quais são subsequentemente metabolizados para energia. O fígado, então, converte ácidos graxos em corpos cetônicos, estes os quais se tornam a principal fonte de energia para vários tecidos, especialmente o cérebro (2). No regime de dieta intermitente, o indivíduo frequentemente atravessa os estados alimentado, pós-absortivo e de jejum.


(2) Leitura recomendada: Qual é o real papel da insulina no controle da hiperglicemia? 


A troca de estado metabólico (alimentado para jejum) é o ponto de balanço energético negativo no qual as reservas de glicogênio no fígado são esvaziadas e ácidos graxos são metabolizados. Isso tipicamente ocorre após 12 horas seguindo a última refeição (!), e representa uma estratégia evolucionária permitindo o animal continuar vivo durante períodos de prolongada escassez ou falta de alimento. Nesse sentido, indivíduos seguindo uma janela diária de alimentação limitada a apenas 6 horas durante o jejum intermitente tipicamente passam 6 horas do dia sob o estado de jejum, ou seja, sob influência primária do hormônio glucagon em termos de metabolismo energético.


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(!) Dependendo do nível de calorias consumidas ao longo do dia. Obviamente, uma substancial redução calórica (como observada no estudo clínico aqui explorado) irá encurtar esse tempo mínimo para a troca de estado metabólico.

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Estudos conduzidos nos últimos anos têm apontado que essa contínua troca de estados metabólicos resulta em significativos benefícios metabólicos (ex.: melhor sensibilidade insulínica e responsividade das células-Beta) e de longevidade através de múltiplos processos fisiológicos e moleculares (Ref.5). Além disso, sustentada redução do consumo calórico reduz a massa adiposa do corpo (e inflamação crônica associada) e a produção de insulina, potencialmente reduzindo o desenvolvimento de resistência à insulina nos tecidos do corpo e melhorando a homeostase da glicose.


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IMPORTANTE: Jejum intermitente deve ser realizado idealmente sob orientação e supervisão de um nutricionista, especialmente no sentido de evitar uma dieta nutricionalmente deficiente.

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REFERÊNCIAS

  1. Liu et al. (2022). Effect of an Intermittent Calorie-restricted Diet on Type 2 Diabetes Remission: A Randomized Controlled Trial. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, dgac661. https://doi.org/10.1210/clinem/dgac661
  2. https://endocrinenews.endocrine.org/intermittent-fasting-may-reverse-type-2-diabetes/
  3. Chatterjee et al. (2017). Type 2 diabetes. The Lancet, 389(10085), 2239–2251. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)30058-2
  4. https://www.scielo.br/j/rn/a/ML9Qxf4DSBJPMLnn5pWT3Fd/
  5. Vasim et al. (2022). Intermittent Fasting and Metabolic Health. Nutrients 14(3), 631. https://doi.org/10.3390/nu14030631

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