Cientistas conseguem transformar células imunes do próprio paciente em caçadoras de câncer
Um teste clínico de pequeno porte, reportado em um estudo publicado recentemente na Nature (1), demonstrou pela primeira vez que o famoso e popular editor genético CRISPR-Cas9 (2) pode ser usado com segurança e alta precisão para alterar células imunes de um paciente com câncer no sentido de torná-las exterminadoras de células cancerígenas.
(2) Leitura recomendada: CRISPR-Cas9: A popularização da edição genética!
O estudo englobou 16 pacientes com tumores sólidos, incluindo nas mamas e no cólon. Os pesquisadores sequenciaram DNA associado a amostras sanguíneas e de biópsias de tumores desses pacientes, buscando por mutações presentes nas células tumorais mas não na circulação sanguínea. Em seguida, usaram algoritmos para prever quais dessas mutações provavelmente seriam capazes de elicitar respostas de células-T - células imunes com receptores capazes de reconhecer mutações em células cancerígenas de forma muito específica. Após várias análises, os pesquisadores desenvolveram receptores - associados a um código genético - que seriam capazes de reconhecer os tumores de cada paciente. Usando o CRISPR-Cas9, eles inseriram os genes codificantes desses receptores em células-T extraídas dos pacientes, multiplicando-as em laboratório. Por fim, os voluntários receberam medicamentos para reduzir o número de células imunes circulantes e receberam infusões com as células-T modificadas.
"É provavelmente a mais complicada terapia já testada em um estudo clínico", disse um dos co-autores do estudo, Dr. Antoni Ribas, em entrevista à Nature (3). "Nós estamos tentando construir um exército com as células-T do próprio paciente."
Cada paciente recebeu células-T com até três inserções genéticas (três alvos tumorais).
Um mês após o tratamento, cinco dos participantes experienciaram um quadro estável da doença, ou seja, os tumores não cresceram. Apenas duas pessoas experienciaram efeitos colaterais provavelmente devido à atividade das células-T editadas.
Embora a eficácia geral do tratamento tenha sido baixa, a dose injetada de anticorpos foi também baixa por precaução (estabelecimento de um limite de segurança). Com base nos resultados do estudo, doses bem maiores podem ser administradas com segurança e potencialmente exibir alta eficácia.
O sucesso do teste clínico abre finalmente as portas para um tratamento personalizado contra o câncer, e com mínimos efeitos colaterais (já que estão sendo usadas células-T dos próprios pacientes).
REFERÊNCIAS
- (1) https://www.nature.com/articles/s41586-022-05531-1
- (3) https://www.nature.com/articles/d41586-022-03676-7