Cientistas deveriam partir para a desobediência civil, defende artigo publicado na Nature
Um importante, mas pouco repercutido, estudo publicado recentemente no periódico Science (Ref.1) e conduzido por um time internacional de pesquisadores, concluiu que múltiplos pontos de virada no clima podem ser engatilhados se a temperatura superficial global do planeta superar 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais (hoje esse valor já está em +1,1°C). Em outras palavras, seria um valor suficiente para provocar várias e dramáticas mudanças climáticas e biogeográficas na Terra. E nos atuais níveis de aquecimento global, o mundo já está em risco de passar de 5 perigosos pontos de virada (de um total de 16) - aumentando a cada +0,1°C -, onde podemos citar o colapso das geleiras da Groenlândia e do Giro Subpolar no Mar Labrador, e morte dos recifes de corais em baixa latitude. Essas conclusões foram baseadas em uma robusta revisão de >200 papers publicados desde 2008.
O mais preocupante é que as atuais políticas globais de devastação ambiental e de uso de combustíveis fósseis - e grande desinteresse por parte dos governos com o tema - estão conduzindo o planeta a um aquecimento de até 3,2°C até o final deste século (provável faixa de +2-3°C). Um estudo também recente publicado no periódico PNAS (Ref.2) alertou para uma potencial perda de 10% da população global até uma eventual extinção humana caso o cenário de +3°C de aquecimento se torne uma realidade.
Nesse sentido, um grupo de cientistas defendeu em um artigo-comentário publicado na Nature Climate Change (Ref.3) que a comunidade científica deveria começar a considerar desobediência civil como resposta ao negacionismo governamental frente ao acúmulo extraordinário de evidências, adotando estratégias mais expressivas e "agressivas" (mas sem violência) para pressionar por real e significativa ação climática. Segundo o artigo, é hora dos cientistas tomarem ação política, intensificar a militância e abandonar qualquer tentativa de neutralidade.
Respondendo ao potencial contra-argumento de que tal ato de desobediência civil poderia "arriscar a integridade da ciência", os autores escreveram que enquanto a separação entre ciência e política é "baseada sobre precedente histórico", é preciso questionar "o quão bem essas normas históricas estão nos servindo em um tempo de crise ambiental existencial".
REFERÊNCIAS