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Hormônios androgênicos no desenvolvimento fetal estão associados à não-conformidade de gênero, aponta estudo

 
A identidade de gênero é o senso interno do indivíduo de afinidade (ou de não-afinidade) a padrões biológicos e sócio-culturais atribuídos ao sexo masculino ou ao sexo feminino, e cada vez mais evidências científicas apontam para uma distinta assinatura neurobiológica associada a esse senso interno, determinada por fatores hormonal-uterinos, genéticos e/ou epigenéticos (1). Em uma pequena parcela dos indivíduos essa identidade de gênero não entra em conformidade com o sexo biológico (a nível cromossômico e/ou fenotípico) da pessoa (ex.: transgêneros). Essa identidade de gênero é expressa tão cedo quanto seis meses a 5 anos de idade em diferentes graus de extensão.


Comportamentos sexualmente diferenciados (ex.: nível de agressividade e preferências no início da infância por diferentes tipos de brinquedos) parecem emergir de uma complexa interação entre fatores biológicos e sócio-culturais, com exposição pré-natal a hormônios esteroides (ex.: testosterona) apontada como sendo um fator crucial nesse sentido. Esses comportamentos são observados em outros mamíferos e parecem ter origem evolucionária.


Uma vez que a diferenciação dos órgãos sexuais é completa no desenvolvimento fetal, e o sexo gonadal é estabelecido (ovários vs. testículos), a diferenciação sexual do cérebro começa a ser estabelecida na segunda metade da gravidez. Então, os testículos começam a secretar testosterona, enquanto os ovários permanecem quiescentes. Testosterona, a qual é também essencial para completar a diferenciação dos órgãos sexuais masculinos, irá penetrar o cérebro e agir através dos receptores androgênicos (AR), ou após sua aromatização ativar os receptores estrogênicos ERα e ERβ, respectivamente envolvidos na masculinização e desfeminização do sistema nervoso. Exposição à testosterona, através da ativação do AR durante esse período crítico, é um pré-requisito para a masculinização do cérebro, assegurando que o sexo gonadal coincide com o sexo cerebral. A organização do cérebro pela ação de hormônios durante esse período embriônico, e os subsequentes efeitos de ativação sobre o comportamento sexual na vida adulta, forma a base da organização da hipótese cérebro-comportamental (Ref.1).


De fato, certos comportamentos na infância associados ao sexo feminino e ao sexo masculino, estão entre as maiores diferenças sexuais psico-comportamentais em humanos (2). Experimentos laboratoriais em animais não-humanos mostram que hormônios produzidos pelos testículos durante o desenvolvimento uterino contribuem para essas diferenças comportamentais (3), mas tais experimentos em humanos seriam eticamente condenáveis. Em mamíferos não-humanos, administração de andrógenos no início do desenvolvimento masculiniza comportamentos ao influenciar a expressão de genes no cérebro em desenvolvimento. Ao influenciar na anatomia externa, andrógenos também influenciam as interações dos organismos com o ambiente, incluindo ambiente social. 


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Em um estudo publicado recentemente no periódico Psychological Science (Ref.2), pesquisadores trouxeram mais evidência suportando o papel de andrógenos no desenvolvimento uterino para a manifestação da não-conformidade de gênero. No estudo, foram analisados indivíduos com ou sem uma condição conhecida como deficiência isolada do hormônio liberador da gonadotrofina (IGD), uma rara desordem endócrina. A IGD é caracterizada por produção baixa ou ausente do hormônio gonadal após o primeiro trimestre de gestação, mas sem interferir no desenvolvimento da genitália externa (ou seja, o fenótipo é tipicamente concordante com os cromossomos sexuais). 


Investigando 65 homens e 32 mulheres com IGD e 463 homens e 1207 mulheres sem a condição, os pesquisadores mostraram que homens com IGD estavam associados com elevada não-conformidade de gênero durante a infância, particularmente se era reportada criptorquidia (testículos não descidos), um marcador de baixa exposição a andrógenos perinatais. Nas mulheres, a condição não influenciou significativamente nas variações comportamentais observadas.


Os resultados do estudo - apesar de limitados - suportam que exposição a andrógenos contribuem para comportamentos típicos do sexo masculino na infância (ex.: preferências por certos brinquedos, também exibidas em primatas não-humanos) independentes de fatores sociais, e também reforçam a importância de fatores genéticos e hormonal-uterinos na construção da identidade de gênero de um indivíduo.


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(1) Para mais informações, acesseO que é a tal da Ideologia de Gênero?


(2) IMPORTANTE: Esses comportamentos diferenciados não estão ligados a papeis de gênero impostos por fatores culturais, ou seja, falácias, por exemplo, de que certos esportes ou tarefas são para meninos ou meninas. Essas preferências ligadas à polarização sócio-cultural de gêneros são explicadas pela teoria dos papeis sociais, e inclui diferenças observadas em funções executivas (habilidades que permitem um indivíduo organizar seu comportamento para responder a situações ambientais e planejar para o futuro). Comportamentos sexualmente diferenciados fazem menção, por exemplo, a diferentes níveis de agressividade, sendo explicados pela teoria da seleção sexual. Fatores sociais podem amplificar ou reduzir certos comportamentos inatos (maior ou menor empatia, maior ou menor agressividade, etc.).


(3) Fatores genéticos também já foram mostrados cruciais na determinação de comportamentos sexo-dependentes em animais não-humanos: Comportamentos e preferências sexuais em ratos variam ao se ativar ou desativar uma região específica do cérebro

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REFERÊNCIA

  1. Fernández et al. (2022). The Biological Basis of Gender Incongruence. Human Sexuality [Book]. https://doi.org/10.5772/intechopen.103664
  2. Shirazi et al. (2022). Low Perinatal Androgens Predict Recalled Childhood Gender Nonconformity in Men. Psychological Science, Vol. 33, Issue 3. https://doi.org/10.1177%2F09567976211036075

Hormônios androgênicos no desenvolvimento fetal estão associados à não-conformidade de gênero, aponta estudo Hormônios androgênicos no desenvolvimento fetal estão associados à não-conformidade de gênero, aponta estudo Reviewed by Saber Atualizado on junho 28, 2022 Rating: 5

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