Popular tratamento invasivo para osteoartrite de joelho não difere de placebo, conclui estudo
Um estudo conduzido por pesquisadores Australianos das Universidades de Melbourne, Universidade de Sydney e da Universidade de Monash, e publicado no periódico JAMA (Ref.1), mostrou que a cada vez mais popular técnica de injeção intra-articular de plasma rico em plaquetas, visando o tratamento de osteoartrite de joelho, não possui eficácia superior a um placebo.
A osteoartrose (ou osteoartrite) do joelho é uma síndrome de caráter inflamatório que compreende uma variedade de condições clínicas distintas, provocando a destruição da cartilagem e produzindo uma diminuição do espaço articular, levando a uma deformidade da articulação e consequentemente incapacitando o paciente. Considerada a patologia reumática mais relevante e com um forte poder incapacitante, e consequente forte impacto socioeconômico, essa condição é responsável pela ordem de 7,5% dos afastamentos ao trabalho, representando a quarta principal causa de aposentadoria no Brasil (6,2% dos casos) e a segunda nos EUA, ficando atrás apenas de causas cardiovasculares.
A osteoartrite do joelho atinge geralmente indivíduos com mais de 40 anos de idade, com evidências radiológicas e/ou clínicas da doença em 85% da população a partir dos 75 anos. A osteoartrite pode ocorrer da forma assintomática ("muda") e da forma sintomática ("doença"). Os primeiros sintomas podem ser uma rigidez fugaz e transitória, dor incipiente, crepitação articular discreta e/ou ligeira limitação da mobilidade. Os sintomas geralmente melhoraram com o movimento da articulação ou dos seguimentos afetados, piorando na parte da manhã e após períodos de inatividade.
Existem várias vias terapêuticas sendo testadas para a osteoartrite de joelho, e uma ficando cada vez mais popular é a injeção intra-articular de plasma rico em plaquetas para osteoartrite de joelho. Com custo tipicamente elevado, a técnica em questão é baseada no processamento por centrifugação do sangue do próprio paciente, onde é extraído a maior concentração possível de plaquetas. O plasma resultante rico em plaqueta é então injetado no local acometido pela doença (diretamente na articulação). Essa e outras técnicas de infiltração (ex.: uso de corticoesteroides injetáveis) são usadas quando os pacientes não respondem bem aos tratamentos orais de alívio dos sintomas.
Em defesa do uso de infiltrado de plasma rico em plaquetas como estratégia terapêutica efetiva contra a osteoartrite de joelho (e osteoartrite em geral), é alegado que esse tratamento possui efeitos regenerativos, e supostamente a degranulação de plaquetas levaria à liberação de diversos fatores de crescimento e citocinas que desempenham um papel crucial na homeostasia articular, promovendo a quimiotaxia celular, síntese de matriz e proliferação da cartilagem, além de proporcionar alívio de longo prazo às dores associadas. Porém, até o momento, as evidências de suporte a esse tratamento são limitadas.
No novo estudo clínico (RESTORE) - randomizado, triplo-cego e placebo-controlado (alta qualidade) - os pesquisadores analisaram 288 participantes com osteoartrite de joelho leve a moderada, todos com mais de 50 anos de idade e residindo em Sydney ou em Melbourne, Austrália. Os participantes foram divididos em dois grupos: um recebendo injeções intra-articulares ricas em plaquetas (144 participantes) e um recebendo injeções intra-articulares de solução salina (placebo, 144 participantes). Após a intervenção, os dois grupos foram acompanhados por um período de 12 meses.
Enquanto que os resultados mostraram que as injeções ricas em plaquetas implicaram em significativa melhora da dor nos joelhos ao longo dos 12 meses, o nível de melhora não foi significativamente diferente da injeção com solução salina. Além disso, em termos de estrutura articular (ex.: volume médio da cartilagem tibial), imagem por ressonância magnética (MRI) não mostrou diferença entre os dois grupos.
Segundo os autores do estudo, os resultados não suportam o uso de plasma rico em plaquetas para pessoas com osteoartrite no joelho leve a moderada. Em entrevista ao jornal da Universidade de Melbourne (Ref.3), o autor principal do estudo, Professor Kim Bennell, aconselhou as pessoas com osteoartrite no joelho a usar tratamentos como exercícios físicos e, caso estejam acima do peso ideal, esforços de emagrecimento para o alívio dos sintomas e melhora da qualidade de vida.
> O estudo é mais um realçando o poder terapêutico do placebo (em particular para o alívio de dor), e o porquê de medicinas alternativas serem tão populares e, à primeira vista, efetivas. Para mais informações, acesse: O que é o efeito placebo? E qual a relação entre vudu e nocebo?
REFERÊNCIAS
- Bennell et al. (2021). Effect of Intra-articular Platelet-Rich Plasma vs Placebo Injection on Pain and Medial Tibial Cartilage Volume in Patients With Knee Osteoarthritis: The RESTORE Randomized Clinical Trial. JAMA, 326(20):2021–2030. https://doi.org/10.1001/jama.2021.19415
- Boller & Lopes (2021). Injeção intra-articular de plasma rico em plaquetas para osteoartrite de joelho: parecer técnico científico a respeito do uso. Research, Society and Development, v. 10, n. 1, e15710111606. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i1.11606
- https://about.unimelb.edu.au/newsroom/news/2021/november/clinical-trial-denounces-use-of-platelet-rich-plasma-injections-for-knee-joint-osteoarthritis
Reviewed by Saber Atualizado
on
novembro 28, 2021
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