É FALSO que pessoas com doenças autoimunes não podem tomar vacina contra a COVID-19

No início deste mês, durante sessão na CPI da COVID-19, a polêmica médica Nise Yamaguchi chegou a declarar que não iria tomar a vacina porque possuía doença autoimune (Ref.1):

"Eu não posso me vacinar, porque tenho uma doença autoimune. Existem pessoas que não podem se vacinar, principalmente aquelas que têm vasculites, como é o meu caso, eu tenho uma síndrome de Raynaud. Outras pessoas que têm doenças maiores, hepáticas ou renais que sejam situações graves," disse Nise.

Após o comentário, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) imediatamente desmentiu Nise. Em seu site, a SBR declarou (Ref.2):

"A Comissão de Doenças Endêmicas e Infecciosas da Sociedade Brasileira de Reumatologia esclarece a população que doenças reumáticas (DR), incluindo artrite reumatoide, espondiloartrites, artrite psoriásica, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica (esclerodermia), Síndrome de Sjögren primária, miopatias inflamatórias e vasculites não representam, por si só, contraindicação específica para receber qualquer vacina contra a COVID-19."

Vale ressaltar que todas as vacinas para COVD-19 disponíveis e aprovadas atualmente no Brasil são vacinas que não contêm componentes vivos e que não transmitem a doença viral, nem alteram o material genético. Essas vacinas podem ser usadas em pacientes com doenças reumáticas, bem como em pacientes recebendo medicamentos que influenciam o sistema imunológico. Além disso, não há razão, à luz das evidências atuais, para contraindicar essas vacinas em pacientes com doenças reumáticas e pacientes em tratamento com medicamentos imunossupressores.

A SBR recomenda que os pacientes de doenças reumáticas procurem o reumatologista para orientação sobre vacinação contra COVID-19."

Essa posição da SBR entra em acordo com o Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), os quais não recomendam contra a vacinação desse grupo (Ref.3-4). Segundo a OMS, pacientes com doença autoimune, sendo tratadas adequadamente e sob orientação médica, podem receber a vacina contra a COVID-19. Estudos diversos publicados sobre esse tópico reforçam que a presença de doença autoimune não deveria ser um motivo de hesitação e recusa à imunização (Ref.5-8). Aliás, um estudo recentemente publicado no periódico The Lancet Reumatology (Ref.9), analisando reportes de eventos adversos em pessoas com doenças autoimunes sistêmicas morando em Amsterdã, Holanda, que receberam vacinas da AstraZeneca (ChAdOx1 nCoV-19), Pfizer (BNT162b2) ou Moderna (CX-024414), concluiu que esses imunizantes são bem tolerados pelos indivíduos com doenças autoimunes e mostraram-se muito seguros.

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Importante mencionar que indivíduos com doenças autoimunes são mais suscetíveis ao agravamento da COVID-19, com evidência indicando um risco até 3,6 vezes maior de hospitalização e até 3,3 vezes maior para morte (!). Portanto, deveria ser um grupo de priorização da vacina. Em desordens autoimunes, o sistema imune do corpo já está hiperativo, e causa danos às próprias células do corpo. Doenças autoimunes podem ser caracterizadas pela presença de autoanticorpos e aumentada resposta inflamatória devido à redução da tolerância imune e sistema imune desregulado, resultando em danos aos órgãos. Como a COVID-19 é caracterizada por uma deletéria resposta imune exagerada (tempestade de citocinas), a doença autoimune pode agravar o quadro do paciente.

(!) Para mais informações, acesse: Quais são as condições médicas de risco para uma COVID-19 mais severa?

REFERÊNCIAS