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Estudo aponta que atividade de caça era pratica por ambos os sexos na América pré-histórica

 

A divisão sexual do trabalho entre humanos modernos (Homo sapiens) com fêmeas sendo coletoras e machos sendo caçadores têm sido amplamente proposta como um resultado evolutivo que moldou as antigas populações humanas. De fato, essa divisão ainda pode ser observada em grupos mais primitivos de nativos ao redor do mundo. Isso sempre sugeriu um padrão comportamental marcando a ancestralidade das primeiras civilizações humanas. Agora, em um estudo arqueológico e de meta-análise publicado no periódico Science Advances (1), pesquisadores reportaram e analisaram 11 locais de enterro com vestígios de antigos humanos na região do Andes trazendo mulheres [sexo feminino] associadas com ferramentas de caça. Segundo os autores do estudo, os achados fortemente sugerem que a atividade de caça visando grandes animais entre antigos humanos não era exclusiva do sexo masculino.


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Desde 1966, a hipótese do "homem caçador" tem prevalecido quase intocada na literatura acadêmica, especialmente com a observação de que em grupos de caçadores-coletores modernos, como os Hadza na Tanzânia e os San na África do Sul, as mulheres coletam raízes, frutos e sementes, e homens caçam grandes animais, como regra geral. Essas observações sugerem que esse padrão comportamental pode não ser apenas o resultado de uma construção sócio-cultural, mas um comportamento antigo, geneticamente determinado e derivado do nosso ancestral em comum com outros humanos arcaicos (Homo). Essa hipótese relaciona tal divisão sexo-baseada do trabalho com a gravidez e o cuidado dos filhos limitando as atividades das mulheres à coleta de alimentos, com os homens ficando mais livres para o trabalho mais árduo e complexo de caçarem grandes animais.


No entanto, nas últimas décadas, um número de acadêmicos têm teorizado que tal divisão de trabalho pode ter sido menos pronunciada, ausente em alguma extensão, ou estruturalmente diferente entre os nossos ancestrais caçadores-coletores mais antigos. Nesse sentido, antigas economias de subsistência que enfatizavam a caça de grandes animais podem ter encorajado a participação de todos os indivíduos capazes. Soma-se a isso o fato da nossa espécie possuir uma distinta característica em relação a outros primatas: a presença de pais (2). A paternidade parece ter antigas raízes entre os humanos modernos, permitindo um compartilhamento das tarefas associadas aos cuidados dos filhos entre os sexos, e deixando as mulheres mais livres para caçarem.


(2) Leitura recomendada: Nova teoria evolutiva proposta para a origem da paternidade humana


Nessa mesma linha, a caça comunitária, a qual também parece ter profundas raízes evolucionárias no H. sapiens pode ter encorajado a contribuição de fêmeas, machos e crianças em diversas tarefas associadas à atividade, seja na manipulação de armas seja na condução dos animais para áreas de emboscada. Esse último cenário é reforçado pela limitação tecnológica dos artefatos primários de caça usados pelos antigos humanos - em particular, o propulsor atlatl, uma das primeiras armas de arremesso produzida pela nossa espécie, e datado desde o Paleolítico. O atlatl possuía baixa acuracidade e era lento para ser recarregado. Um robusto trabalho comunitário poderia compensar essas limitações tecnológicas.


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No novo estudo, pesquisadores da Universidade da Califórnia, Davis, e da Universidade do Arizona, EUA, realizaram um estudo de campo e também um estudo de revisão buscando esclarecer melhor essa questão. Primeiro, eles descobriram e analisaram locais de enterro na região Andina de Wilamaya Patjxa, no Peru, contendo vestígios ósseos e ferramentas de caça para grandes animais - incluindo projéteis com pontas de pedra - de dois indivíduos do Holoceno Inicial, datados entre 8-9 mil anos atrás. Um dos indivíduos era um macho, com idade estimada de 25-35 anos. O segundo indivíduo era uma fêmea, com idade estimada de 17-19 anos. As estimativas de idade foram feitas com base na análise do desenvolvimento dental. O sexo foi determinado com base em um peptídeo macho-específico na estrutura dental (proteína amelogenina no esmalte).




O indivíduo fêmea estava acompanhada por várias ferramentas de pedra, incluindo pontas de projeteis (visando anexá-las em lanças curtas para caça), várias lâminas de corte, uma possível faca, e ferramentas de raspagem provavelmente usadas para o processamento de peles e de carne. Foram também encontrados na cova vestígios ósseos de quatro mamíferos terrestres de grande porte, um deles representando a vértebra lombar ou de um taruca (camelídeo da espécie Hippocamelus antisensis) ou de um veado-Andino. No local associado à cova, foram encontrados vestígios ósseos de vários outros mamíferos de grande porte, entre camelídeos e veados.


Em antigas culturas, seja na América seja ao redor do mundo, é consensualmente aceito no meio acadêmico que os objetos que acompanham as pessoas em morte tendem a ser aqueles que as acompanharam em vida. Ou seja, a antiga mulher em Wilamaya Patjx certamente era uma caçadora.


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Para reforçar o achado e a hipótese de participação de ambos os sexos nas atividades de caça de antigos povos Nativos Americanos, os pesquisadores realizaram também uma meta-análise da literatura acadêmica na busca por mais locais de enterro contendo mulheres e ferramentas de caça associados. A busca resultou em 107 outros locais na América mais antigos do que 8 mil anos, onde em 10 deles foram encontrados mulheres e em 16 foram encontrados homens associados com ferramentas de caça. Essa evidência reforça que a atividade de caça de grandes animais parecia ser bastante prevalente entre as antigas mulheres ao longo do continente Americano.


> Outro exemplo de quebra do padrão comportamental tradicional entre os sexos pode ser também observado entre os Vikings, onde existiam mulheres guerreiras, inclusive de alta patente. Para mais informações, acesse: Vikings: A Era Subestimada da Sociedade Nórdica


(1) Publicação do estudo: https://advances.sciencemag.org/content/6/45/eabd0310

Estudo aponta que atividade de caça era pratica por ambos os sexos na América pré-histórica Estudo aponta que atividade de caça era pratica por ambos os sexos na América pré-histórica Reviewed by Saber Atualizado on novembro 06, 2020 Rating: 5

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