Primeiro caso de reinfecção nos EUA e o paciente evoluiu para um quadro grave
Reportado no periódico The Lancet Infectious Diseases (1), o primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) nos EUA. No caso, um jovem adulto de 25 anos do estado de Nevada, que não possuía nenhuma desordem imune conhecida, e cuja primeira infecção pelo SARS-CoV-2 foi confirmada via teste PCR em abril deste ano. Com sintomas leves (garganta irritada, tosse, dor de cabeça, náusea e diarreia), o paciente se recuperou em quarentena, testando negativo via RT-PCR em dois períodos consecutivos pós-recuperação. No entanto, 48 dias depois do teste inicial, o paciente testou positivo novamente via RT-PCR. O sequencialmente genômico viral mostrou que ambas as cepas virais que infectaram o paciente pertenciam ao clado 20C, um clado predominante visto no norte de Nevada. Porém, as sequências genômicas da cepa associada à primeira infecção mostraram-se significativamente diferentes da cepa responsável pela reinfecção. Ou seja, eram populações virais diferentes, confirmando o quadro de reinfecção.
O mais problemático e preocupante do caso é que a reinfecção pelo SARS-CoV-2 nesse paciente resultou em uma doença (COVID-19) bem mais grave do que a observada na primeira infecção, requerendo hospitalização e suporte de oxigênio. Após a reinfecção, o paciente expressou anticorpos SARS-CoV-2-específicos, mas é incerto se houve produção de anticorpos após a primeira infecção ou se os anticorpos produzidos caíram drasticamente. É o quarto caso de reinfecção confirmado por sequenciamento viral.
Os cientistas ainda não sabem se as reinfecções estão ocorrendo por causa do declínio de anticorpos no período pós-recuperação, como vem sendo reportado em um número de estudos (Pacientes recuperados que continuam ou voltam a testar positivo são infecciosos?). Dos quatro casos de reinfecção, nenhum dos indivíduos tinham deficiências imunes conhecidas. Até o momento, apenas dois desses indivíduos tiveram dados serológicos da primeira infecção e um tinha comprovadamente anticorpos pré-existentes (IgM) contra o SARS-CoV-2. Mesmo assim, a imunidade conferida pela primeira infecção parece não necessariamente proteger os reinfectados da COVID-19. O paciente de Nevada e o paciente do Equador tiveram quadros piores na segunda infecção.
Apesar de por enquanto não existir substancial preocupação quanto à eficácia das vacinas sendo testadas - devido ao fato das variantes virais até o momento isoladas não mostrarem marcantes diferenças genômicas e estruturais -, os casos de reinfecção reportados indicam que não podemos confiar na imunidade adquirida via infecção natural para "estratégias" de controle epidêmico baseadas em imunidade de rebanho ou nos polêmicos 'passaportes de imunidade'. Soma-se a isso o fato da carga viral detectada nos casos de reinfecção terem sido suficientemente altas para permitir transmissão do vírus. Imunidade de rebanho precisa vir através de uma vacina efetiva e segura, tanto por questões éticas quanto em termos de efetividade.
Até uma vacina estar disponível, indivíduos previamente infectados ou não precisam continuar seguindo as mesmas medidas de prevenção para evitar infecção com o SARs-CoV-2, especialmente aqueles nos grupos de risco.
(1) Publicação do estudo: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(20)30764-7/fulltext
Referência adicional: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(20)30764-7/fulltext
Reviewed by Saber Atualizado
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outubro 13, 2020
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