Últimas da pandemia: Martas parecem transmitir o novo coronavírus para humanos

Últimas atualizações - estudos revisados por pares mais relevantes - sobre a pandemia provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e sua doença associada (COVID-19). No momento, já são quase 954 mil mortes confirmadas e mais mais de 30,5 milhões de casos registrados, números provavelmente muito subestimados (número real de mortes pode ser até 30% maior). Nas últimas semanas, recordes e mais recordes de casos diários registrados continuam sendo divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, ultrapassamos as 135 mil mortes confirmadas e já temos mais de 4,4 milhões de casos registrados.

> Proporção de gatos e de cães infectados pelo SARS-CoV-2 pode ser bem maior do que o pensado. Um pequeno estudo que será apresentado em breve na Conferência ECCVID (ESCMID Conference on Coronavirus Disease) (Ref.1) sugere que uma substancial proporção de cães e gatos domésticos podem ser infectados pelo SARS-CoV-2 através dos seus donos, e em vários casos foram reportados sintomas respiratórios nesses animais semelhantes à COVID-19. Entre outras análises realizadas no estudo, os pesquisadores testaram 8 gatos e 10 cães que conviveram com donos infectados para anticorpos (IgG ou IgM) SARS-CoV-2-específicos. Os resultados deram positivo para 4 gatos (50%) e 3 (38%) cães. Já um estudo publicado no periódico Emerging Microbes & Infections (Ref.2), pesquisadores analisaram amostras de sangue de 102 gatos entre janeiro e março de 2020 na cidade Chinesa de Wuhan (epicentro inicial da pandemia), encontrando a presença de anticorpos SARS-CoV-2-específicos em 15 amostras. Entre os gatos infectados, 11 deles tinham anticorpos neutralizantes (proteínas imunoglobulinas que se ligam de forma eficiente ao vírus e bloqueiam a infecção). As amostras incluíram 46 gatos abandonados de 3 abrigos (4 deles infectados), 41 gatos de 5 hospitais veterinários (4 deles infectados) e 15 gatos de pacientes com COVID-19 (7 deles infectados). Três dos gatos com os mais altos níveis de anticorpos eram de pacientes infectados. Os achados de ambos os estudos corroboram estudos clínicos e experimentais prévios.

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> SARS-CoV-2 consegue pular entre humanos e martas... Transmissão zoonótica? Já foi demonstrado - confirmado na prática ou teoricamente - que vários animais podem ser infectados pelo SARS-CoV-2, especialmente gatos e martas (gênero Mustela) (!). Na Holanda, milhares de martas já foram sacrificadas (em polêmicas fazendas de produção de pele) e mais recentemente o vírus se alastrou também pelas fazendas de martas dos EUA. Em um estudo que será em breve apresentado na Conferência ECCVID (Ref.3) pesquisadores encontraram forte evidência dando suporte para a transmissão de animais não-humanos para humanos, após a análise de 16 fazendas de martas na Holanda afetadas pela disseminação do SARS-CoV-2. Os pesquisadores analisaram cuidadosamente as fazendas (comportando mais de 720 mil martas) e seus funcionários - usando também técnicas de sequenciamento genômico inteiro - para esclarecer as dinâmicas de infecção. No total, 66 de 97 (67%) pessoas diretamente associadas à fazenda testaram positivo para o SARS-CoV-2 (PCR ou teste sorológico), e pelo menos duas pessoas parecem ter sido infectadas a partir das martas. (!) Leitura recomendada: Gatos e outros animais não-humanos podem ser infectados pelo novo coronavírus?

> COVID-19 pode potencialmente interagir com as bactérias do nosso corpo, agravando a severidade da doença em obesos e diabéticos. Dois fatores estão fortemente associados com uma maior severidade da COVID-19, independentemente do sexo: obesidade e diabetes. É pensado que um dos motivos para isso ocorrer seja a maior presença de receptores ACE2 (proteínas na superfície celular essenciais para a entrada do SARS-CoV-2 nas células hospedeiras) em pessoas obesas e/ou com diabetes. Agora, em um estudo publicado no eLife (Ref.) pesquisadores propuseram que a nossa microbiota bacteriana - associada a mais de 100 trilhões de bactérias no corpo de cada pessoa - pode também estar envolvida. No caso, uma deficiência em ACE2 causada pela COVID-19, junto com a diabetes/obesidade, levaria a danos na funcionalidade da barreira e do tecido endotelial intestinais, permitindo que bactérias e suas toxinas (em particular lipopolissacarídeos, já demonstrados induzir SARS em porcos) entrem na circulação sanguínea. Nos pulmões, essas bactérias e suas toxinas acabam trabalhando junto com o vírus para causar lesões pulmonares mais severas. Esse envolvimento da microbiota pode potencialmente ajudar a explicar quadros severos em outros grupos de risco, como idosos e portadores de doenças cardíacas.

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> Pulmão perfurado afeta até 1% dos pacientes com COVID-19. Pesquisadores da Universidade de Cambridge, em um estudo publicado no periódico European Respiratory Journal (Ref.4), encontraram que quase 1 a cada 100 pacientes admitidos em hospitais com COVID-19 desenvolvem pneumotórax (um 'pulmão perfurado'). O estudo examinou os dados clínicos de 71 pacientes de 16 hospitais ao longo do Reino Unido que apresentaram pneumotórax ou pneumomediastino, e revelaram uma incidência de 0,91% de pneumotórax entre os pacientes com COVID-19. Dois pacientes com COVID-19 tiveram dois eventos de perfuração pulmonar. A taxa de sobrevivência em pacientes com COVID-19 e pneumotórax é pouco acima de 60%, sendo especialmente letal em pacientes idosos. Danos ao pulmão podem levar a verdadeiros buracos nesse órgão. À medida que o ar vaza pelo local perfurado, esse passa a se acumular na cavidade entre o pulmão e a parede do peitoral, fazendo com que o pulmão colapse. Essa condição tipicamente afeta homens jovens muito altos ou pacientes mais velhos com graves doenças pulmonares. O novo estudo revela, portanto, que pneumotórax é uma complicação da COVID-19, um alerta para os médicos tratando esses pacientes.

> Fumo de tabaco e uso de e-cigarro (cigarro eletrônico) aumentam substancialmente o risco de COVID-19. Em um estudo publicado no periódico Frontiers in Pharmacology (Ref.5), pesquisadores mostraram - através de análises de RNA do tecido pulmonar de fumantes, não fumantes, e pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (COPD) e fibrose idiopática pulmonar (IPF) - que o fumo de tabaco, uso de e-cigarro, IPF e COPD, combinados com a idade, alteram mais de 20 genes envolvidos na função das células pulmonares e resultam em um aumento da expressão de receptores ACE2 e de outras três proteínas associadas com o novo coronavírus (TMPRSS2, furina, e DPP4), facilitando a infecção pelo SARS-CoV-2. De fato, vários estudos prévios ligavam o hábito de fumo e o uso de e-cigarro com uma maior expressão de ACE2 no trato respiratório superior e inferior, e o IPF e o COPD são fatores de risco bem estabelecidos para a COVID-19.

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> Pacientes com COVID-19 sob ventilação pode ter dano nervoso permanente. Pacientes com COVID-19 severa sob ventilação mecânica são colocados em uma posição pronada (de barriga para baixo) para facilitar a respiração e reduzir a mortalidade. Porém, em um estudo publicado no periódico British Journal of Anaesthesia (Ref.6), pesquisadores reportaram que essa posição pode causar dano nervoso permanente nesses pacientes. Eles acreditam que o dano nervoso é o resultado de fluxo sanguíneo reduzido e inflamação, especialmente porque outros pacientes sem COVID-19 sob ventilação e também na posição pronada raramente experienciam qualquer dano nervoso. No estudo foi sugerido que 12-15% dos pacientes com COVID-19 mais grave acabam ficando com dano nervoso permanente. Isso significa que milhares de pacientes ao redor do mundo foram afetados. Durante reabilitação dos pacientes com danos nervosos permanentes, frequentemente articulações como aquelas no pulso, calcanhar e ombros, acabam ficando completamente paralisadas em um dos lados do corpo, incluindo perda de funcionalidade da mão. Pacientes com certas comorbidades prévias, como diabetes, podem ter dificuldade em recuperar nervos danificados mesmo que de forma parcial.

Leituras complementares:

REFERÊNCIAS (links para os estudos reportados)