Estudo mostra mais uma vez que a hidroxicloroquina é ineficaz contra o novo coronavírus
Em meio à preocupante pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), diversas pesquisas vêm sendo realizadas na busca por um medicamento ou terapia efetiva para tratar os pacientes desenvolvendo a doença associada (COVID-19). No entanto, por enquanto, os únicos medicamentos com boa evidência científica de leve-moderada eficácia terapêutica é o Remdesivir, a Dexametasona, anti-coagulantes derivados da heparina e certos inibidores de sinalização inflamatória. Nesse sentido, em paralelo, busca-se também por medidas farmacêuticas profiláticas que possam complementar as medidas não-farmacêuticas visando prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2 ou impedir que a infecção progrida para o desenvolvimento da COVID-19. O método profilático ideal seria uma vacina, porém esta ainda não se encontra disponível em massa para o público.
É especulado que certos antivirais possam também cumprir um papel profilático. Um desses candidatos sugeridos é a hidroxicloroquina, a qual inclusive estava sendo promovida sem qualquer embasamento científico para a prevenção da COVID-19. Pelo contrário, a hidroxicloroquina tem se mostrado completamente ineficaz contra a infecção do SARS-CoV-2, seja como tratamento seja como profilaxia pré- e pós-exposição.
Em um novo estudo publicado no periódico Annals of the Rheumatic Diseases (1) - corroborando um estudo padrão-ouro prévio publicado no periódico The New England Journal of Medicine -, pesquisadores da Case Western Reserve University encontraram que a hidroxicloroquina não é efetiva na prevenção da COVID-19 em pacientes com lúpus e artrite reumatoide, sugerindo fortemente que esse fármaco é inefetivo como método preventivo para a população em geral.
Pacientes com essas doenças (lúpus e artrite reumatoide) frequentemente utilizam a hidroxicloroquina como tratamento padrão. Os pesquisadores usaram dados clínicos de 36 sistemas de saúde (TriNetX Research Network), englobando 159 pacientes com COVID-19 que também tinham artrite reumatoide e/ou lúpus eritematosa sistêmica, e todos acima de 18 anos de idade. A análise desses dados mostraram que os pacientes com essas doenças auto-imunes que contraíam COVID-19 eram tão prováveis de estarem tomando hidroxicloroquina quanto aqueles que não desenvolveram COVID-19. No geral, não houve diferenças estatisticamente significativas entre o uso de hidroxicloroquina e a emergência de infecções no trato respiratório inferior, incluindo gripe e pneumonia.
Os pesquisadores concluíram que a hidroxicloroquina não possui atividade antiviral contra o SARS-CoV-2.
Os resultados do estudo também corroboraram uma análise realizada pela Global Rheumatology Alliance (GRA) (2), a qual reportou que entre 80 pacientes com lúpus usando ou não hidroxicloroquina, não houve diferença na taxa de hospitalização ou requerimento de oxigênio suplementar devido à COVID-19. A GRA também encontrou nos seus registros que entre 600 pacientes com artrite reumatoide, usando ou não hidroxicloroquina, não houve diferenças nas taxas de hospitalização após ajuste para idade, sexo, fumo, comorbidades prévias, entre outros co-fatores de risco.
As evidências científicas acumuladas até o momento apontam claramente que a hidroxicloroquina não previne a COVID-19 e não reduz sua severidade.
(1) Publicação do estudo: ARD
(2) Referência adicional: BMJ