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Cientistas revelam poderoso antibiótico medieval


A resistência de bactérias aos antibióticos é um problema cada vez crescente e uma das maiores crises de saúde pública que enfrentamos. Nesse sentido, novas estratégias terapêuticas precisam ser desenvolvidas para derrubar as superbactérias. Pesquisadores da Universidade de Warwick e associados, em um estudo publicado no periódico Scientific Reports (1), reportaram que uma receita medieval natural é realmente eficaz contra biofilmes bacterianos resistentes aos atuais antibióticos. O achado pode abrir caminho para um novo espectro de armas contra as superbactérias.

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Atualmente, só nos EUA, as doenças ligadas à resistência bacteriana já atingem cerca de 2 milhões de pessoas ao ano, com cerca de 23 mil mortes associadas. Na União Europeia, estima-se que cerca de 33 mil mortes anuais estejam diretamente associadas à resistência bacteriana, com 75% delas ocorrendo em instalações hospitalares ou durante tratamentos médicos, a maioria atingindo idosos e crianças muitos novas, e 39% ligadas a bactérias resistentes aos antibióticos mais potentes hoje disponíveis, como a colistina e os carbapenemos. É estimado um extra anual de 10 milhões de mortes a partir de 2050 se nenhuma medida de prevenção for adotada ou se novas estratégias terapêuticas efetivas não forem desenvolvidas.

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Uma área particularmente problemática são as infecções bacterianas associadas a biofilmes, as quais geram enormes custos para os sistemas nacionais de saúde. Biofilmes são comunidades de bactérias que produzem uma matriz extracelular e que são especialmente persistentes. A erradicação dos biofilmes bacterianos frequentemente requer 100-1000 vezes maiores concentrações de antibióticos em relação à mesma bactéria do biofilme alvo se disseminando planctonicamente (como células individuais de livre-flutuação). In vivo, biofilmes podem ser essencialmente inexoráveis a tratamentos com antibióticos.

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No novo estudo, o qual reuniu microbiólogos, químicos, farmacêuticos, analistas de dados e medievalistas de Warwick, Nottingham e dos EUA, os pesquisadores reconstruíram um remédio medieval de 1000 anos de idade contendo cebola, alho, vinho e sais biliares - uma mistura conhecida na época como Bald's eyesalve ("Pomada do Bald") - que mostrou uma atividade antimicrobiana muito mais promissora do que antes sugerido, inclusive em biofilmes bacterianos. E mais: os ingredientes mostraram funcionar de forma muito mais eficiente em conjunto do que atividades microbianas de um ou outro ingrediente isolado.



A receita foi encontrada em um manuscrito do século X conhecido como Bald's Leechbook ("Livro Medicinal de Bald"). A receita do remédio requer que volumes iguais de alho (Allium sativum) e outra espécie do gênero Allium (referida como cropleac no Antigo Inglês original) sejam amassados juntos e misturados com iguais volumes de vinho e de bile de boi. Em investigações prévias, a pomada anti-bacteriana havia se mostrado eficiente in vitro contra culturas planctônicas de Pseudomonas aeruginosa e, mais recentemente, na bactéria causadora da gonorreia (Neisseria gonorrhoeae), esta a qual vem se mostrando cada vez mais invencível contra antibióticos diversos.

Os pesquisadores agora encontraram que o remédio medieval foi efetivo contra um amplo espectro de patógenos Gram-positivos e Gram-negativos em culturas celulares planctônicas imitando fluído sintético de feridas. Além disso, essa atividade se manteve contra os seguintes patógenos crescendo em biofilmes (associados a modelos semi-in vivo de feridas em tecido mole):

- Acinetobacter baumanii (comumente associado com feridas infectadas em soldados retornando de zonas de conflito);

- Stenotrophomonas maltophilia (comumente associada com infecções respiratórias em humanos);

- Staphlococcus aureus (uma causa comum de infecções na pele, incluindo abscessos, infecções respiratórias como sinusite, e intoxicação alimentar);

- Staphylococcus epidermidis (uma causa comum de infecções envolvendo a introdução invasiva de instrumentos médicos, como cateteres, infecções de lesões cirúrgicas, e bacteremia em pacientes imunocomprometidos);

- Streptococcus pyogenes (causa numerosas infecções em humanos, incluindo faringite, amigdalite, febre escarlate, celulite, febre reumática e glomerulonefrite pós-estreptococal).

Todos esses biofilmes bacterianos citados podem ser encontrados em úlceras nos pés de pacientes diabéticos e os quais podem ser muito difíceis de serem tratados. Essas graves infecções podem levar a amputações e até mesmo letal bacteremia.

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Na segunda parte do estudo, os pesquisadores resolveram investigar se um único componente da receita medicinal - especialmente o composto sulforoso alicina, do alho - podia explicar sua poderosa atividade antibacteriana. Eles encontraram que nenhum componente único recapturava a atividade anti-biofilme do remédio, e que a presença da alicina não podia explicar a total habilidade da mistura de matar as bactérias - seja planctônicas ou em biofilmes. A combinação dos ingredientes era chave para a alta eficácia do remédio. O vinho, por exemplo, mostrou possuir uma ação antimicrobiana muito limitada contra os biofilmes de S. aureus, mas tirá-lo da receita dramaticamente diminuía a eficácia do remédio.

Somando-se aos achados, os pesquisadores também mostraram que o remédio possuía baixa toxicidade às células humanas, sugerindo excelente perfil de segurança.

Os pesquisadores querem agora investigar outras preparações medicinais descritas em livros e manuscritos antigos que até o momento representavam apenas curiosidades históricas.


(1) Publicação do estudo: Nature
Cientistas revelam poderoso antibiótico medieval Cientistas revelam poderoso antibiótico medieval Reviewed by Saber Atualizado on agosto 04, 2020 Rating: 5

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