Esse besouro consegue escapar vivo pelo ânus de rãs após ser engolido
Pressões de predação podem levar à evolução de comportamento de escape em presas. Os predadores podem danificar a presa ao morder ou mastigar, com o sistema digestivo do predador ultimamente matando quase todas as presas após o ato de engolir. No entanto, várias espécies podem sobreviver à passagem através do intestino de um predador e eventualmente sobreviverem ao serem excretadas com as fezes. Tais fugas através das ventas (cloaca ou ânus) têm sido historicamente consideradas passivas. Agora, um estudo publicado no periódico Current Biology (1), descreveu a primeira espécie a escapar ativamente e rapidamente do corpo do predador após ser engolida.
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Mesmo em predadores que não mastigam a presa - como sapos e outros anfíbios -, sobrevivência ao extremo pH e condições anaeróbicas do trato digestivo do predador é difícil, e dependerá da velocidade da passagem e atividade da presa. Esse ambiente letal pode impor pressões seletivas na evolução de rápido e ativo comportamento de escape em espécies que são presas.
Nesse sentido, no novo estudo, o pesquisador Shinji Sugiura, da Universidade de Kobe, Japão, encontrou que a espécie de besouro aquático Regimbartia attenuata consegue ativamente escapar pelo ânus da rã da espécie Pelophylax nigromalatus. Além disso, experimentos laboratoriais sugeriram que o besouro consegue promover excreção no sapo para facilitar sua fuga.
Muitas espécies de sapos expressam ausência de qualquer sistema eficiente de mastigação e são incapazes de matar as presas antes de engoli-las. Portanto, o sistema digestivo desses anfíbios atuam de forma muito importante na predação e alimentação. Para investigar as defesas de insetos contra anfíbios, Sugiura forneceu a um número de sapos P. nigromaculatus várias espécies de insetos.
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O besouro R. attenuata e a rã P. nigromaculatus são frequentemente encontrados no mesmo habitat no Japão. Para investigar as respostas desse besouro ao P. nigromaculatus, o pesquisador deixou à disposição de vários sapos adultos (22,5-74,2 mm) vários besouros R. attenuata adultos (3,8-5,0 mm) e juvenis sob condições laboratoriais. Todos os adultos foram facilmente engolidos pelos sapos. No entanto, 93,3% dos besouros engolidos eram excretados dentro de 6 horas (6 minutos a 6 horas) após serem engolidos. Ou seja, mesmo com o sistema digestivo do sapo constituído de uma longa estrutura tubular englobando o esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso, começando na boca e terminando no ânus, o tempo mínimo requerido para o besouro escapar foi de apenas 6 minutos. E todos os besouros excretados durante os experimentos laboratoriais saiam vivos e ativos.
Mas o mais importante: quando o pesquisador prendeu as pernas dos besouros com cera, todos foram engolidos e mortos no sistema digestivo, e finalmente excretados após >24 horas (38,3-150,3 horas) de consumo. Ou seja, os besouros engolidos provavelmente usaram suas pernas para se moverem através do trato digestivo até o ânus da rã, acelerando sua fuga. No vídeo abaixo, é possível ver uma dessas fugas.
Adaptações morfológicas do R. attenuata para viver no ambiente aquático podem ajudar a explicar como esse inseto sobrevive no intestino do sapo, mesmo após longas horas. Primeiro, esse besouro armazena pequenas bolsas de ar na abertura dos seus espiráculos, sugerindo que isso promove sua resistência ao ambiente anaeróbico do sistema digestivo de anfíbios. O duro exoesqueleto desse besouro pode protegê-lo contra os sucos ácidos e alcalinos dos compartimentos digestivos. Somando-se a isso, seu comportamento aquático de nado e a forma do seu corpo parecem facilitar sua movimentação pelo ambiente digestivo.
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Além disso, como o músculo do esfincter força a venta da rã a ficar fechada, os pequenos besouros são incapazes de sair por essa via sem antes induzir o sapo a abri-la. Portanto, o R. attenuata pode estimular o intestino do sapo visando promover excreção. E mais: o mesmo comportamento foi observado quando essa espécie de besouro foi engolida por quatro outras espécies de rãs: Pelophylax porosus, Glandirana rugosa, Fejervarya kawamurai, e Hyla japonica. No gráfico abaixo, são mostradas as taxas de sucesso de fuga do besouro em cinco espécies de rãs.
É o primeiro estudo a documentar um escape ativo da presa através do ânus do predador e mostrar que uma presa pode promover a defecação do predador para acelerar sua fuga de dentro do seu corpo.
(1) Publicação do estudo: Current Biology
Esse besouro consegue escapar vivo pelo ânus de rãs após ser engolido
Reviewed by Saber Atualizado
on
agosto 06, 2020
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