Para prevenir problemas cardíacos, o melhor é a redução de carboidratos
Segundo um robusto estudo de revisão publicado no periódico BMJ Evidence Based Medicine (1), não existe evidência de suporte para recomendar uma dieta com corte acentuado de gorduras saturadas e de colesterol alimentar para reduzir o colesterol sanguíneo visando principalmente indivíduos afetados com a hipercolesterolemia familiar, uma condição genética na qual existe um aumento acima do normal da lipoproteína de colesterol de baixa densidade (LDL-C), o que por sua vez está associado com um aumento no risco de doença cardíaca coronária. Os autores do estudo, ao invés disso, encontraram forte evidência de que o corte de carboidratos é a melhor opção.
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A hipercolesterolemia familiar é uma condição genética - transmitida de maneira autossômica dominante - que causa altos níveis de colesterol LDL no sangue - também conhecido como "colesterol ruim". O colesterol - uma molécula lipídica essencial para o corpo mas cujo excesso é um fator de risco para doenças cardiovasculares - é carregado na corrente sanguínea por pequenos pacotes lipoproteicos, os quais são constituídos de uma estrutura interna de gordura (lipídios) e por uma estrutura externa de proteínas. Existem primariamente dois tipos desses pequenos pacotes lipoproteicos: o LDL-C e a lipoproteína de colesterol de alta densidade (HDL-C). O colesterol HDL é popularmente chamado de "bom colesterol" (I).
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(I) Leitura recomendada: O HDL realmente protege o coração?
O colesterol LDL é considerado ruim por remover o excesso de colesterol no sangue e depositá-lo nas paredes dos vasos sanguíneos, onde um excesso dessa lipoproteína pode promover o acúmulo de placas nesses vasos e aumentar substancialmente o risco de ataques e doenças cardíacas. Na hipercolesterolemia familiar, o indivíduo não consegue remover o LDL-C do sangue - processo feito pelo fígado - de forma apropriada. Homens que possuem hipercolesterolemia familiar geralmente têm ataques cardíacos aos 40-50 anos, e 85% deles acabam tendo um ataque cardíaco aos 60 anos de idade. Mulheres com a condição geralmente têm um ataque cardíaco aos 50-60 anos de idade. Indivíduos que são homozigóticos para a condição possuem uma forma mais grave da hipercolesterolemia, e frequentemente acabam morrendo antes dos 30 anos de idade.
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Historicamente, agências de saúde têm sugerido que evitar comer alimentos de origem animal, como carne, ovos e queijo, e evitar óleo de coco (II), seria o mais adequado para indivíduos com a condição. Nesse sentido, no novo estudo, um time internacional de especialistas, incluindo cinco cientistas na área de cardiologia, resolveu realizar uma revisão das guias de recomendação alimentar para pessoas com hipercolesterolemia familiar. Eles concluíram que não existe qualquer justificativa para a recomendar uma dieta de baixa gordura saturada para essas pessoas, recomendação baseada na 'Hipótese da Dieta Cardíaca'. As evidências disponíveis até o momento não indicam que uma alimentação com baixo nível de colesterol e de gordura saturada reduzem o risco de eventos coronários nessas pessoas.
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(II) Leitura recomendada: O óleo de coco emagrece e cura doenças?
Na Hipótese da Dieta Cardíaca, é postulado que o consumo de gorduras saturadas aumentam os níveis de colesterol circulante na corrente sanguínea, aumentando o risco do indivíduo de desenvolver doenças ou ataques cardíacos. No caso dos pacientes com hipercolesterolemia, o excesso de colesterol sanguíneo com o excesso de colesterol LDL acabam sendo uma combinação mortal.
Contrário às recomendações oficiais, os pesquisadores encontraram que um subconjunto de pacientes que desenvolvem doenças cardíacas coronárias exibe fatores de risco associados com um fenótipo de resistência à insulina (triglicerídeos elevados, alta glicose sanguínea, hemoglobina A1c, obesidade, hiperinsulinemia, proteína de alta-sensibilidade C reativa, hipertensão) ou suscetibilidade aumentada de desenvolver coagulopatia. O fenótipo de resistência à insulina, também referido como síndrome metabólica, se manifesta como uma intolerância a carboidratos, algo que é mais efetivamente solucionado por uma dieta de baixo consumo desse tipo de nutriente, especialmente açúcar e outros carboidratos de alto índice glicêmico.
Com base nas evidências analisadas, os pesquisadores recomendaram que para pessoas com hipercolesterolemia familiar e para aqueles com risco de doenças cardíacas em geral, como indivíduos com sobrepeso/obesidade, hipertensão e diabetes, uma dieta com baixo teor de carboidratos seria a ideal, ou seja, uma dieta que não aumenta muito o nível de glicose no sangue.
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E não é a primeira vez que a dieta com baixo teor de colesterol e de gordura saturada têm sido desafiada. Inúmeras evidências na última década têm sugerido que o consumo de gorduras saturadas e de colesterol alimentar não aumentam o risco de doenças cardiovasculares ou o aumento específico de colesterol circulante no corpo (III). Uma publicação múltipla ano passado, por exemplo, envolvendo 5 estudos de revisão sistemática e 3 meta-análises, não encontrou associação entre o consumo de carne vermelha ou processada com um aumento no risco de cânceres ou problemas cardiometabólicos (IV).
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Para mais informações, acesse:
(1) Publicação do estudo: BMJ
Referência adicional: Genome.gov/NIH
Para prevenir problemas cardíacos, o melhor é a redução de carboidratos
Reviewed by Saber Atualizado
on
julho 06, 2020
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