Mais de 500 espécies de vertebrados estão a um passo da extinção
Um preocupante estudo publicado recentemente no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (1) encontrou que mais de 500 vertebrados estão no limiar da extinção ao redor do mundo. Especificamente, existem 515 espécies de vertebrados agora com menos do que 1000 espécimes/membros em suas populações. Cerca de 543 espécies de vertebrados foram perdidos no último século, a uma taxa 100 vezes maior do que aquela que ocorre naturalmente, obviamente indicando que o fator causal são as atividades humanas. Nossa espécie (Homo sapiens) está causando a sexta extinção em massa registrada na história do nosso planeta. É a primeira extinção em massa desde o evento que há 66 milhões de anos dizimou os dinossauros não-aviários. Esse catastrófico cenário pode ser agravado com as consequências futuras das mudanças climáticas induzidas pelo aquecimento global antropogênico.
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Durante mais de 4,5 bilhões de anos da história da Terra, nunca houve tanta riqueza de biodiversidade comparável ao que existe na atual era, no Antropoceno. Apesar de terem existido cinco episódios de extinção em massa ao longo dos últimos 450 milhões de anos, cada um eliminando 70% até 95% das espécies de plantas, animais e microrganismos que existiram previamente, a vida sempre se recuperou e se multiplicou extensivamente. Esses eventos de extinção foram causados por catastróficas alterações do ambiente, como massivas erupções vulcânicas, depleção do oxigênio nos oceanos, ou colisão com um asteroide. Em cada caso, levou milhões de anos para a recuperação do número de espécies comparável àqueles que existiram antes do particular evento de extinção.
Mesmo com apenas um estimado de 2% de todas as espécies que já viveram na Terra ainda vivas hoje, o número absoluto de espécies é maior agora do que jamais foi. E foi em tal mundo com tamanha biodiversidade que os humanos evoluíram, e é esse mundo que nós estamos destruindo. De fato, entramos nas últimas centenas de anos, especialmente nas últimas décadas, no sexto processo de extinção em massa.
Esse evento acelerado de extinção em massa é provavelmente o mais sério problema ambiental que enfrentamos, porque a perda de uma espécie é permanente, e cada uma delas atua em maior ou menor extensão nos sistemas vivos nos quais estão inseridas e dos quais nossa espécie depende. Essa grande perda de espécies sendo testemunhada vem ocorrendo em maior parte desde o início do século XIX, e é causada diretamente ou indiretamente pelas atividades dos humanos modernos (Homo sapiens). Quase toda essa perda ocorreu desde que nossos ancestrais intra-espécie desenvolveram agricultura, há cerca de 11 mil anos. Nessa época, nós tínhamos uma população total de ~1 milhão de pessoas ao redor do mundo. Agora, somos 7,7 bilhões de pessoas explorando os recursos naturais do planeta - na maior parte das vezes de forma não-sustentável - e ameaçando nossos companheiros vivos, e o número populacional continua crescendo rápido.
Hoje, as taxas de extinção de espécies são centenas ou milhares de vezes maior do que a taxa 'normal' observada nas últimas dezenas de milhões de anos, mesmo no contexto de várias substanciais mudanças climáticas naturais e cíclicas (períodos glaciais-interglaciais).
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No novo estudo, os pesquisadores analisaram 29400 espécies de vertebrados terrestres hoje ainda existentes, visando determinar quais estão muito próximas da extinção por terem menos do que 1000 indivíduos dentro da população total. Os resultados da análise mostraram que existem 515 espécies nessa situação (1,7% dos vertebrados avaliados). Cerca de 94% das populações de 77 espécies de mamíferos de de aves foram perdidas apenas no último século. Segundo o estudo, assumindo que todas as espécies no limiar da extinção possuam tendências populacionais similares, mais de 237 mil populações dessas espécies teriam desaparecido desde 1900.
O estudo concluiu que a sexta extinção em massa antropogênica está provavelmente acelerando por várias razões. Primeiro, várias dessas espécies que foram empurradas para o limiar da extinção provavelmente se tornarão extintas em breve. Segundo, a distribuição dessas espécies coincide fortemente com centenas de outras espécies ameaçadas de conservação, sobrevivendo em regiões com altos impactos das atividades humanas, e sugerindo colapsos em andamento de biodiversidade regional. Terceiro, interações ecológicas próximas de espécies no limiar da extinção tendem a mover outras espécies no sentido de aniquilação quando as primeiras desaparecem (extinções fomentam extinções por causarem graves desequilíbrios ecológicos).
Por fim, essa aceleração do evento de extinção no Antropoceno é reforçada pelo fato de que as pressões antropogênicas sobre a biosfera estão crescendo rápido - desmatamento, aquecimento global, poluição ambiental, etc. -, e um recente exemplo é a atual pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), provavelmente oriunda de interações zoonóticas promovidas pelo tráfico ilegal de animais (I).
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(I) Leitura recomendada: Afinal, o novo coronavírus foi criado em um laboratório da China?
Os autores responsáveis pelo estudo enfatizaram que uma extrema urgência é necessária na tomada de ações para salvar as espécies selvagens e os sistemas ecológicos que suportam a própria existência do ser humano.
> Reforçando essa preocupação, um estudo de meta-análise publicado previamente na Science (2) mostrou que está havendo um declínio médio de ~9% da abundância de insetos terrestres por década, especialmente nas regiões da Europa e da América do Norte. Por outro lado, o estudo observou um aumento médio de abundância de ~11% por década nos insetos aquáticos. Essas bruscas variações de biodiversidade, fomentadas por fatores como o aquecimento global antropogênico, também acabam levando a sérios desequilíbrios ambientais.
(1) Publicação do estudo: PNAS
(2) Publicação do estudo: Science
Mais de 500 espécies de vertebrados estão a um passo da extinção
Reviewed by Saber Atualizado
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junho 21, 2020
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