Mudanças climáticas fizeram os incêndios na Austrália no mínimo 30% mais prováveis
Uma nova análise publicada esta semana pelo projeto World Weather Attribution (1), e realizada por pesquisadores de várias instituições de pesquisa e universidades ao redor do mundo, encontrou que os incêndios florestais extremos que varreram mais de 18 milhões de hectares na Austrália no final de 2019 - deixando um elevado rastro de destruição, incluindo mais de 1,5 bilhão de animais mortos - foram significativamente mais prováveis de ocorrerem devido às mudanças climáticas induzidas pelas atividades humanas.
- Continua após o anúncio -
Com os países falhando em implantar políticas visando reduzir as emissões de gases de efeito estufa, especialmente dióxido de carbono (CO2) via queima de combustíveis fósseis e desmatamento, o aquecimento global antropogênico continua acelerado e alimentando os piores cenários previstos para as mudanças climáticas. Recordes de temperaturas e emissões de gases estufas continuam sendo quebrados, geleiras estão desaparecendo, o nível e a acidez dos mares continuam subindo, e cada vez mais eventos temporais extremos são observados. Recentemente um estudo confirmou que o Furacão Florence foi, de fato, exacerbado pelo aquecimento global antropogênico (!).
----------
(!) Para mais informações, acesse: Modelos climáticos e as Nuvens: Por que os negacionistas insistem nessas teclas?
Aumento das temperaturas médias globais, ondas de calor mais frequentes e mais eventos de secas em algumas regiões - todos fatores fomentados pelas atuais mudanças climáticas - aumentam a probabilidade de incêndios ao estimular condições quentes e pouco úmidas que promovem o alastramento de fogo nas estações propícias. A Austrália experiencia incêndios florestais quase todos os verões, mas o último evento foi muito além do considerado normal tanto em severidade quanto em escala, coincidindo também com a temperatura média 1°C acima da média de longo prazo no território do país. De fato, foi o ano mais quente e mais seco da Austrália desde o início das observações climáticas (1900-1910).
- Continua após o anúncio -
No novo estudo, os pesquisadores utilizaram quatro modelos climáticos baseados no Índice da Temporada de Fogo (FWI, na sigla em inglês para Fire Weather Index). Esse índice calcula a chance de incêndio em uma localização a partir de variáveis como temperatura, umidade, vento e chuvas. Os modelos climáticos mostraram que a probabilidade de massivos incêndios ocorrerem na Austrália - em particular nas áreas mais afetadas pelos incêndios do ano passado, entre as montanhas (Great Dividing Range) e o mar na região de New South Wales e Victoria - foi aumentada em pelo menos 30% desde 1900 como resultado da mudança climática antropogênica. E, segundo os pesquisadores, esse é um valor provavelmente subestimado, porque os cálculos foram conservativos.
A análise também revelou - a partir de outros modelos climáticos - que as extremas ondas de calor observadas na Austrália em 2019/20 teriam sido de 1 a 2°C mais frias no começo do século XX. Similarmente, uma onda de calor de grande intensidade mostrou-se 10 vezes mais provável agora do que teria sido em torno de 1900.
Além das contribuições do aquecimento global antropogênico, o evento extremo de fogo na Austrália foi amplificado por uma excursão recorde do Dipolo do Oceano Índico e uma anomalia muito forte do Modo Anular do Sul, os quais juntos explicam mais da metade da amplitude da anormal seca na segunda metade de 2019. Nesse caso, a seca anômala não parece ter sido influenciada pelas mudanças climáticas antropogênicas.
O robusto estudo ainda não foi revisado por pares, mas corrobora uma revisão acadêmica prévia publicada na plataforma online ScienceBrief.org (Mudanças climáticas: recordes de temperatura nos oceanos e de incêndios).
(1) Publicação do estudo: WWA
Mudanças climáticas fizeram os incêndios na Austrália no mínimo 30% mais prováveis
Reviewed by Saber Atualizado
on
março 07, 2020
Rating: