Descoberta célula imune com o potencial de curar qualquer tipo de câncer
Em um estudo publicado ontem na Nature Immunology (1), e realizado por pesquisadores da Universidade de Cardiff, foi reportado a descoberta de células presentes no nosso próprio sistema imune que mostraram ser capazes de destruir células tumorais de vários tipos de cânceres, como próstata, mama e pulmão em testes clínicos in vitro e in vivo. Além disso, essas células imunes mostraram-se extremamente seletivas, ignorando células saudáveis de diferentes tecidos e atacando apenas as cancerosas. Apesar de pacientes humanos não terem ainda sido testados com a nova imunoterapia, segundo os pesquisadores a nova estratégia possui enorme potencial e pode representar uma cura talvez universal para o câncer.
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O câncer é uma coleção de doenças caracterizadas por um incontrolável crescimento e disseminação de células anormais, devido geralmente a mutações genéticas. É a segunda causa mais comum de morte no mundo e engloba mais de 100 distintas doenças baseadas nas diferenças entre seus tecidos de origem e tipos de células envolvidas. Por isso, estratégias de tratamento tendem a ser específicas para distintos cânceres, dependendo do seu tipo e o tecido afetado. Um tratamento universal é algo perseguido, mas até o momento poucos foram os avanços dados nesse sentido.
Nosso sistema imune - representando a defesa natural do nosso corpo - combate não apenas infecções e outros agentes exógenos invasores, mas também problemas endógenos, incluindo células cancerígenas. Entre os soldados do sistema imune, temos as células-T, amplamente reconhecidas por serem o alvo do vírus do HIV. Essas células imunes podem escanear o corpo buscando ameaças que precisam ser eliminadas, interagindo via ligantes e receptores moleculares nas membranas celulares. Já existem imunoterapias que usam as células-T, como o CAR-T, onde células-T extraídas do paciente são geneticamente modificadas para buscar e destruir células cancerosas. No entanto, esse tipo de imunoterapia é muito específico e só funciona para um número limitado de cânceres onde existe um claro alvo de ação para as células-T.
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No novo estudo, os pesquisadores usaram a ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9 para uma análise genômica-ampla visando encontrar células-T que tivessem o potencial de destruir tumores em qualquer paciente. Nessa busca, eles encontraram um receptor de célula-T (TCR) - no caso, o MC.7.G5 TCR - capaz de reconhecer e matar a maioria dos tipos de câncer através da proteína monomórfica MHC classe I-relacionada (MR1), mas permanecendo inerte frente a células não-cancerosas.
Testada em laboratório, in vivo e in vitro, essa célula-T - e seu receptor - conseguiu encontrar e destruir um amplo número de células cancerosas, incluindo no pulmão, pele, sangue, cólon, mama, ossos, próstata, ovário, rins e células cervicais. Ratos tratados com essas células-T tiveram regressão de leucemia. E o mais importante: nenhuma célula saudável foi afetada durante os testes e nenhuma patologia induzida no doador das células-T foi encontrada. E desde que o MC.7.G5 TCR pode reconhecer diversos tipos de células tumorais, incluindo células primárias de câncer, isso cria o potencial para um tratamento universal do câncer (pan-câncer, pan-população).
Ainda não se sabe, contudo, a natureza do ligante - molécula MR1 - reconhecido pelo MC.7.G5 TCR, e como o reconhecimento específico de células tumorais é feito. É pensado que o MR1 é capaz de 'denunciar' o metabolismo distorcido ocorrendo dentro de uma célula cancerosa para o sistema imune. Esclarecer essa questão pode abrir as portas para outras estratégias de tratamento além da imunoterapia, como uma vacinação terapêutica para vários cânceres em todos os indivíduos.
(1) Publicação do estudo: Nature
Descoberta célula imune com o potencial de curar qualquer tipo de câncer
Reviewed by Saber Atualizado
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janeiro 21, 2020
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