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Cientistas flagram lobos brincando de buscar a bola com humanos


Animais domesticados expressam dramáticas alterações fenotípicas comparados com suas espécies ancestrais. Esses novos fenótipos podem emergir como traços completamente originais a partir de mutações, e/ou podem também ter origem de variações selecionadas já pré-existentes no ancestral. No caso dos cães, a capacidade destes de lerem pistas humanas é pensada de ter evoluído de  forma exclusiva durante a domesticação a partir dos lobos. Porém, em um estudo publicado esta semana na iScience (1), pesquisadores inesperadamente encontraram que um traço comportamental bastante característico da relação entre cães e humanos também emerge de forma espontânea em lobos: a clássica brincadeira de 'pegar a bola'.

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As atuais evidências sugerem que a domesticação dos cães ocorreu de forma independente em várias partes do mundo, a partir de lobos (gênero Canis). No sudoeste Asiático, esse processo tomou lugar no Natufiano Epipaleolítico Superior  (~14500-11600 anos atrás), com a mais antiga evidência tendo origem da zona Mediterrânea do sul do Levante. Em outras regiões do mundo, esse processo pode ter sido iniciado há cerca de 15-30 mil anos. No entanto, é ainda incerto se o início da domesticação dos cães ocorreu por acidente ou se os humanos naquela época conscientemente e sistematicamente começaram a empregar lobos mais mansos para ajudar a protegê-los (alertar contra o perigo), fazê-los companhia e/ou mesmo como uma ferramenta de caça.

De qualquer forma, o potencial para fenótipos de domesticação derivarem de variações pré-existentes já foi bem demonstrado em experimentos com raposas (I), onde fortes regimes de seleção baseados em variações observáveis de comportamentos ligados à domação (reduzida agressão, maior docilidade, etc.) entre raposas pré-selecionadas trouxeram uma rápida ocorrência de fenótipos morfológicos classicamente associados com a domesticação. Entender quais traços são pré-selecionados e quais emergem durante a domesticação é essencial para um melhor entendimento de como esse tipo de processo evolutivo ocorre.

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(I) Para mais informações, acesse: Cientistas revelam um importante gene envolvido no processo evolutivo de domesticação

Nos cães, apesar de uma grande quantidade de variações resultados ser pensada originar do ancestral comum das inúmeras linhagens de cruzamentos hoje existentes, novas mutações também tiveram um substancial impacto nesse processo. Para exemplificar, a cor preta na pelagem, condrodisplasia (membros dianteiros curtos), e braquicefalia (focinho patologicamente curto) são todos traços selecionados que ocorreram nos cães modernos via novas mutações. Por outro lado, outra mutação essencial para a convivência inicial dos cães primitivos com os humanos foi um aumento no número de cópias (duplicações genéticas) do locus amilase (AMY2B), algo pensado ter sido uma nova adaptação que emergiu de forma exclusiva na domesticação para uma dieta rica em amido. No entanto, investigações posteriores mostraram que essa mutação também é encontrada em populações modernas de lobos. Ou seja, ainda existem incertezas sobre quais variações são realmente novas ou apenas pré-selecionadas do ancestral lobo.

Uma habilidade comportamental que tem sido amplamente sugerida de ser nova e exclusiva dos cães quando comparados com os lobos é a competência social interespecífica desses animais. Especificamente, tem sido estabelecido que, ao contrário de lobos, os cães possuem habilidades únicas para interpretar pistas humanas e que essas habilidades podem ter emergido após o processo de domesticação a partir do lobo-cinzento (Canis lupus) ter se iniciado. Mesmo quando interagindo com um humano não familiar, cães conseguem entender gestos e participar de uma variedade de brincadeiras humana-específicas, ou sejam, eles ajustam um repertório comportamental diferente de quando estão interagindo com indivíduos da sua espécie. Mas ainda é incerto se essa habilidade é inexistente entre os lobos.

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No novo estudo, pesquisadores da Universidade de Estocolmo, Suécia, buscaram esclarecer melhor essa questão, realizando um experimento de longo prazo para avaliar como lobos-cinzentos se socializam uns com os outros e com humanos. Ao longo de 3 anos, eles adotaram três filhotes novos dessa espécie - um total de 13 filhotes - a partir de parques na Europa, criando-os em uma estação florestal há cerca de 100 quilômetros a sudoeste da universidade.

Quando os lobos chegaram à estação, eles possuíam apenas 10 dias de idade, e os pesquisadores se revezaram para que eles tivessem contato com humanos 24 horas todos os dias (ao contrário dos cães, lobos não ficam confortáveis ao redor de humanos, independentemente se são criados desde filhotes, e precisam de muito tempo de socialização para um mínimo de tolerância). Os cientistas dormiram com os filhotes em sacos de dormir e acordavam a cada 3 horas para alimentá-los em mamadeiras.

À medida que o tempo passava, os pesquisadores inesperadamente perceberam que alguns dos filhotes traziam de volta uma bola de tênis jogada dentro do espaço controlado onde estavam sendo criados. Intrigados com o achado, eles testaram todos os filhotes para essa habilidade. Quando os lobos alcançaram 7-9 semanas de idade, os pesquisadores trouxeram cada um deles para uma grande sala vazia - como mostrado no vídeo abaixo - junto com uma pessoa que os filhotes nunca tinham conhecido antes. O estranho foi, então, orientado a jogar uma bola para cada um dos filhotes. A maioria deles ignoraram a bola, mas dois - chamados de Lemmy e Elvis (todos os cães ganharam nomes de músicos famosos) - retornaram a bola duas vezes, e na terceira vez apenas brincaram com a bola (uma forma também de interação com o estranho). E um dos filhotes, chamado Sting (8 semanas de idade) e mostrado no vídeo abaixo, retornou a bola para o estranho todas as três vezes em que foi lançada.


            


Mesmo o estudo envolvendo um grupo pequeno de lobos, ficou claro que esse comportamento baseado em pistas humanas sócio-comunicativas - mesmo podendo não ser exatamente como ocorre nos cães - emerge espontaneamente em lobos. Isso suporta a ideia que muitas das características pensadas serem exclusivas de cães, especialmente comportamentais, não emergiram durante a domesticação, mas já estavam presentes em alguma forma nos ancestrais selvagens. Então, ao longo de várias gerações, humanos intensificaram e aumentaram a frequência desses traços via seleção artificial de filhotes.

Nesse sentido, iniciativas de brincadeiras e outros traços comportamentais podem ter sido os fatores que primeiro atraíram os humanos a adotarem esses animais e trazê-los cada vez mais para dentro da nossa sociedade. Pode ser, por exemplo, que alguns começaram a perceber que alguns filhotes criados com humanos espontaneamente recuperavam objetos atirados e viram um potencial de utilidade nisso, iniciando uma verdadeira 'fábrica' de domesticação.


(1) Publicação do estudo: Cell

Cientistas flagram lobos brincando de buscar a bola com humanos Cientistas flagram lobos brincando de buscar a bola com humanos Reviewed by Saber Atualizado on janeiro 19, 2020 Rating: 5

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