Neandertais tinham estrutura auditiva de criança humana: causa da extinção?

Um dos maiores mistérios da paleo-antropologia continua sendo a extinção dos Neandertais (Homo neanderthalensis), uma das duas espécies evolutivamente mais próximas dos humanos modernos (Homo sapiens). Qual foi a causa que extinguiu esses humanos arcaicos que demostravam ser cognitivamente tão similares a nós? Teria sido uma praga? Insistência na formação de pequenos grupos e relacionamentos consanguíneos excessivos? Condições climáticas não favoráveis na Eurásia? Epidemia de alguma doença letal para essa espécie, talvez após o contato com os humanos modernos? Muitas são as hipóteses, e recentemente a mais curiosa delas foi proposta em um estudo publicado no periódico Anatomical Record (1).

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(2) Para saber mais sobre os Neandertais e outras hipóteses sobre a extinção dessa espécie, acesse: Neandertais, arte e linguagem

No novo estudo, um time de pesquisadores composto por antropólogos e anatomistas de pescoço e de cabeça da Universidade de Ciências Médicas Suny Downstate, EUA, sugeriram que a real causa da extinção dos Neandertais há cerca de 40 mil anos - coincidentemente pouco tempo depois à invasão dos humanos modernos em suas zonas ecológicas - pode ter sido a mais comum e inócua doença que atinge crianças da nossa espécie: infecções no ouvido.

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Reconstruindo os tubos de Eustáquio dos Neandertais a partir do amplo conhecimento anatômico que temos deles e de um número de fósseis já estudados, os pesquisadores descobriram uma notável semelhança dessas estruturas com as crianças humanas muito novas. As infecções no ouvido médio são quase sempre presentes entre crianças menores do 5 anos de idade - aproximadamente 29-50% de todas infeções pediátricas do trato respiratório superior estão associadas a otites no ouvido médio - porque a pouca inclinação dos tubos de Eustáquio nessa faixa de idade torna essa região suscetível ao acúmulo de bactérias que causam otites. E essa mesma pouca inclinação (natureza horizontal) é encontrada nos Neandertais, a qual persiste até a fase adulta. Nas crianças humanas, a partir do ~5 anos de idade esses tubos se alongam e o ângulo deles em relação ao restante do ouvido se torna mais agudo, permitindo uma melhor drenagem e eliminando as infecções recorrentes a partir dos ~6 anos de idade.

Hoje, com a presença de antibióticos, essas infecções no ouvido são fáceis de se tratar e se tornam relativamente benignas para os bebê e crianças. Mas como o ângulo dos tubos de Eustáquio não muda nos Neandertais com o avançar da idade - somando-se com o fato de que há dezenas de milhares de anos não existiam antibióticos - essa espécie provavelmente sofria com infecções no ouvido recorrentes e com suas complicações por toda a vida, incluindo infeções respiratórias, perda de audição e pneumonia. Com tal condição crônica, os Neandertais talvez tivessem, no geral, uma saúde mais fragilizada e menores chances de sobrevivência frente a adversidades variadas em comparação com a nossa espécie, o que pode ter piorado, por exemplo, o cenário onde novas doenças tropicais foram trazidas pelos humanos modernos após a saída destes da África, e em momentos adversos (mudanças climáticas, etc.) de disputas por alimentos e territórios (2).

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Como os Neandertais dominaram a Eurásia por um bom tempo sem muitos competidores a altura, isso pode tê-los favorecido a persistirem por centenas de milhares de anos mesmo com as infecções recorrentes. Esse cenário favorável pode ter mudado radicalmente com a chegada dos humanos modernos.


(1) Publicação do estudo: TAR