Esses misteriosos cones de cabeça realmente existiram no Antigo Egito
Há muito tempo, os arqueólogos tentavam elucidar o que significavam estranhos cones na cabeça de pessoas retratadas em pinturas e esculturas diversas do Antigo Egito. Essas imagens persistiram desde o Novo Reino até o período Ptolemaico (1549-30 a.C.), e são prevalentes nas tumbas de indivíduos da elite. Devido à falta de evidências físicas, muitos pesquisadores passaram até mesmo a considerar que os cones não passavam de figuras simbólicas (recursos iconográficos). Agora, um novo estudo publicado no periódico Antiquity (1) reportou ter encontrado esqueletos na região de Akhetaten - uma das mais distintas cidades antigas do Egito - que, de fato, traziam uma estrutura de cone acima da cabeça.
O local da descoberta dos túmulos foi ocupado por não mais que ~15 anos durante o século XIV a.C., quando o Egito estava sobre o governo do Faraó Akhenaten (1353-1336 a.C.). Esse faraó desenvolveu um sistema religioso de curta duração focado na adoração de um único Deus (monoteísta), representado pelo Sol (Aten), e foi inclusive considerado pelos faraós subsequentes como um herege. Aliás, Akhenaten parece ter sido o pai de Tutancâmon (1341-1323 a.C). A cidade de Akhenaten era distinta pelo fato de não possuir evidências de templos e celebrações oficiais a deuses que não fossem Aten; cerca de 700 túmulos já foram descobertos na região.
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No novo estudo, foram descritos dois cones de cabeça presentes em túmulos de baixo status social em um cemitério destinado à classe operária. Um dos túmulos estava muito mais preservado do que o outro, o qual foi vítima de saqueadores. Ambos os corpos ainda carregavam toda a cabeça cheia de cabelos, e com um cone amarrado nos cachos. Os cones estavam coloridos de uma cor creme, pareciam ter sido feitos primariamente com cera de abelha (conclusão via análises espectroscópicas) e possuíam cerca de 8 cm de altura. Ambos os cones estavam bastante deteriorados, cheios de buracos feitos por insetos, como pode ser visto na foto abaixo. A descoberta, basicamente, mata a hipótese defendendo que os objetos eram puramente símbolos sócio-religiosos.
Por outro lado, a descoberta também pode enfraquecer outra notável e mais defendida hipótese, a qual argumenta que esses cones eram constituídos de um unguento que lentamente derretia sob a radiação solar (sob o Deus Aten) para perfumar e limpar o corpo, tanto espiritualmente quanto literalmente. A ideia é que, ao derreter e "limpar" os cabelos, os cones podem ter tido a função ritualística de purificar o indivíduo, tornando-os aptos para participar de rituais. No entanto, os pesquisadores não encontraram evidências bioquímicas no túmulo mais bem preservado de que os cones tinham derretido e impregnado essências no cabelo do esqueleto presente no túmulo. Além disso, como mencionado, o constituinte primário dos cones mostrou ser cera de abelha, não gordura ou incenso como às vezes já foi especulado.
No entanto, alguns pesquisadores comentando sobre o novo estudo (2), apontam que os "reais" cones ritualísticos podem ter sido usados apenas por indivíduos de mais alto status social, enquanto que indivíduos de classes mais baixas tentavam imitar o costume ao usar réplicas "não-funcionais", ou seja, tentavam imitar a "moda" da classe de elite.
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No estudo em si, os autores defenderam que os cones podem ter servido como elemento de fertilidade. No túmulo bem preservado, o esqueleto é de uma mulher na idade de gravidez, e portanto, ela pode ter sido enterrada com o cone na esperança de uma maior fertilidade no pós-vida. Mas é válido ressaltar que, seguindo as pinturas onde os cones são retratados, esses acessórios também eram usados em ocasiões diversas, como banquetes ou presença frente ao Faraó. Isso sugere, portanto, que os cones podem não ter ligação com rituais religiosos, sendo usados apenas como 'bonés', uma simples moda de vestuário.
(1) Publicação do estudo: Cambridge
(2) Referência extra: Science Magazine
Esses misteriosos cones de cabeça realmente existiram no Antigo Egito
Reviewed by Saber Atualizado
on
dezembro 11, 2019
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