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Acúmulo de gordura nos pulmões e danos no cérebro em indivíduos obesos


Enquanto que o sobrepeso e a obesidade são comumente associados com problemas cardíacos e diabetes, o excesso de massa adiposa também está ligado a várias outras doenças e danos em órgãos por todo o organismo, especialmente como fator de risco para o desenvolvimento de cânceres (1). Agora, dois recentes recentes estudos encontraram as primeiras evidências de que gordura em pessoas com sobrepeso-obesidade se acumulam danosamente no tecido pulmonar e que, pelo menos em adolescentes, a obesidade parece induzir danos no cérebro via inflamações.

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No primeiro estudo, publicado no periódico European Respiratory Journal (2), pesquisadores mostraram pela primeira vez que tecido adiposo se acumula nas paredes das vias aéreas, particularmente em pessoas com sobrepeso ou obesas, e isso pode ajudar a explicar o porquê de indivíduos com excesso de massa adiposa sofrerem mais e com mais frequência com chiados pulmonares e asma. O acúmulo adiposo nessas regiões parece alterar a estrutura das vias aéreas, o que aumentaria o risco de ataques asmáticos mais severos, e provavelmente o mesmo para outras doenças similares, como bronquite.

Para o achado, pesquisadores examinaram amostras pós-mortem de tecido pulmonar que foram doadas para pesquisa e armazenadas no Airway Tissue Biobank, na Austrália. No total, eles analisaram amostras de 52 pessoas, incluindo 15 que não sofriam asma, 21 que tinham asma mas morreram por outras causas e 16 que morreram de asma. Usando marcadores (tintas especiais) para uma melhor visualização de 1373 estruturas aéreas via microscópio, foram identificados e quantificados qualquer tecido adiposo presente. Eles compararam, então, esses dados com o índice de massa corporal (IMC) de cada um dos indivíduos analisados.

Pela primeira vez, o estudo mostrou que tecido adiposo (células de gordura) de fato se acumula nas paredes das vias aéreas. Tecido adiposo foi identificado na parede externa de grandes vias aéreas - perímetro membranar de base (Pbm) > 6 mm -, mas raramente identificado em vias aéreas menores (Pbm < 6 mm). E o mais importante, a área de tecido adiposo foi positivamente correlacionada com o IMC e a espessura das paredes das vias aéreas em todos os grupos. A densidade de neutrófilos também foi correlacionada com a área de tecido adiposo nas amostras de controle (Pbm > 6 mm) e tanto neutrófilos e eosinófilos nas amostras oriundas de pacientes que morreram de asma.




Nesse sentido, o estudo mostrou que tecido adiposo está presente dentro das paredes das vias aéreas e está relacionada com o IMC, espessura da parede e o número de células inflamatórias, provavelmente representando um fator de risco a mais na patofisiologia pulmonar.

Estar com sobrepeso ou ser obeso já havia sido fortemente associado com a asma ou com piores sintomas da asma. Pesquisadores já tinham sugerido que essa ligação podia ser explicada pela pressão direta do excesso de peso sobre os pulmões ou por um aumento generalizado na inflamação criado pelo excesso de gordura corporal. Com os novos achados, é adicionado um novo mecanismo deletério. Com uma maior quantidade de tecido adiposo dentro das vias aéreas, tem-se aumentado o estado infamatório nessas regiões e um maior estreitamento para a passagem de ar. Isso pode limitar substancialmente o fluxo de ar (saída e entrada), aumentando os sintomas em indivíduos com asma.

Agora os pesquisadores querem investigar se um emagrecimento pode reverter essa situação e ajudar no tratamento de doenças como a asma.

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Já no segundo estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e apresentado recentemente no 105° Encontro da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA) (3), pesquisadores encontraram sinais de danos cerebrais que podem estar relacionados a inflamação no cérebro de adolescentes obesos.

Para essa conclusão, os pesquisadores utilizaram uma técnica de imagem por ressonância magnética (MRI) chamada de imagem por tensor de difusão (DTI), a qual rastreia a difusão da água ao longo das regiões de matéria branca (conjunto de axônios e sinapses). Com essa técnica, eles analisaram 59 adolescentes obesos e 61 adolescentes saudáveis, com idades de 12 a 16 anos. A partir dos dados gerados pelo DTI, eles usaram uma medida chamada de anisotropia fracionária (FA), a qual correlaciona com o estado da matéria branca no cérebro. Uma redução no FA é um indicativo de um aumento nos danos nessas regiões.

As análises mostraram uma redução nos valores de FA nos adolescentes obesos nas regiões localizadas no corpo caloso, um maço de fibras nervosas que conecta o hemisfério esquerdo ao hemisfério direito, importante para funções cognitivas diversas, e também no giro orbitofrontal médio, uma região do cérebro relacionada ao controle emocional e ao circuito de recompensa (como controle de apetite). Nenhuma das regiões cerebrais em pacientes obesos tinham FA aumentado.




O padrão de danos encontrado correlacionou-se com alguns marcadores inflamatórios, como leptina, um hormônio produzido por células adiposas que ajuda a regular os níveis de energia e estoques de gordura no corpo. Em algumas pessoas obesas, o cérebro não responde à leptina, fazendo com que elas continuem comendo apesar do adequado ou excessivo armazenamento de gordura. Essa resistência à leptina faz as células adiposas produzirem ainda mais leptina.

Piores condições da matéria branca também foram associadas com níveis de insulina, um hormônio produzido no pâncreas que ajuda a regular os níveis de glicose no sangue. Pessoas obesas frequentemente sofrem com a resistência à insulina.

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Apesar de serem necessários mais estudos de alta qualidade para confirmarem ambas as descobertas, os reportes trazem uma preocupação ainda maior em relação ao dramático aumento das taxas de obesidade ao redor do mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de crianças muito novas (<5 anos de idade) com sobrepeso ou obesidade aumentou de 32 milhões em 1990 para 41 milhões em 2016. Já os níveis de obesidade entre crianças e adolescentes aumentaram 10 vezes nas últimas quatro décadas (hoje, acima de 124 milhões de meninas e meninos estão acima do peso recomendado). Segundo o Ministério da Saúde, entre 2006 e 2018 o número de obesos aqui no Brasil aumentou 67,8%, representando 19,8% da população em 2018. Mais da metade da população Brasileira (55,7%) estava com sobrepeso em 2018.


(1) Leitura recomendada: Fique alerta: A obesidade caminha com o câncer

(2) Publicação do estudo: ERS

(3) Apresentação do estudo: RSNA

Acúmulo de gordura nos pulmões e danos no cérebro em indivíduos obesos Acúmulo de gordura nos pulmões e danos no cérebro em indivíduos obesos Reviewed by Saber Atualizado on dezembro 02, 2019 Rating: 5

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