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Nossas doenças podem ter extinto os Neandertais


Evidências arqueológicas sugerem que o encontro inicial entre Neandertais Eurasianos e humanos modernos recém-saídos da África ocorreu há mais de 130 mil anos na região do Levante (no leste do Mediterrâneo). Ali permaneceram juntos por dezenas de milhares de anos antes da disseminação dos humanos modernos para o resto da Eurásia. Então por que demorou tanto para que os Neandertais fossem extintos considerando a nossa espécie como a causa direta? E por que o evento de extinção foi tão rápido quando iniciado? Um estudo publicado esta semana na Nature Communications (1) empregou modelos matemáticos de transmissão de doenças e de fluxo genético para responder ambas as perguntas, argumentando que doenças passadas por nós foram a principal causa da extinção.

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As linhagens levando aos humanos modernos (Homo sapiens) e Neandertais (H. neanderthalensis) divergiram 500-800 mil anos atrás, com os Neandertais habitando a Eurásia e os humanos modernos a África (2). Após migrarem para fora da África (há cerca de 180-120 mil anos atrás), nossa espécie alcançou o Levante dezenas de milhares de anos antes de se disseminarem para a Eurásia, e com os Neandertais se espalhando ao sul do Levante vindos da Eurásia. As duas espécies provavelmente interagiram nessa região - com essa interação podendo ter se estendido para regiões da Península Árabe -, pelo menos de forma intermitente, por longos períodos de tempo, ao longo de um estreito fronte, e com esse contato acompanhado por um baixo nível de repetidas hibridizações. Mais tarde, ao redor de 45-50 mil anos atrás, os humanos modernos se espalharam mais profundamente pela Eurásia, substituindo os Neandertais dentro de poucos milhares de anos, há cerca de 39-40 mil anos atrás.

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(2) Para mais informações, acesse: Neandertais, arte e linguagem

Neandertais e humanos modernos foram separados por várias centenas de milhares de anos, com a nossa espécie co-evoluindo com os patógenos na África e os Neandertais co-evoluindo com os patógenos de climas temperados na Eurásia. De acordo com novo estudo, no começo do nosso encontro com os Neandertais, ambas as espécies teriam ficado afastadas uma da outra após a exposição às doenças únicas carregadas por cada uma delas, gerando um ambiente estável de ocupação conjunta devido à barreira natural imposta pela desagradável experiência inicial de contato.

Com o tempo, via eventuais hibridizações entre as duas espécies - estudos genômicos nos últimos anos mostram que humanos não-africanos hoje carregam 1-3% do DNA oriundo de Neandertais -, ambas acabaram ganhando genes de resistência contra essas doenças. À medida que esses genes se propagavam, a barreira natural separando nossa espécie dos Neandertais acabou derrubada. Seleção de novas mutações imune-relacionados também teriam contribuído para esse processo junto com a introgressão adaptativa. Estava aberta a porteira para um contato mais profundo entre as duas espécies, após dezenas de milhares de anos de substancial afastamento mútuo. Porém, áreas tropicais geralmente estão associadas a doenças mais letais e mais numerosas, e, nesse sentido, os humanos modernos podem ter se beneficiado mais rapidamente do fluxo genético com os Neandertais do que esses últimos. Com o fluxo genético, diversas doenças também teriam passado mais facilmente entre ambos os lados junto com os genes de resistência.

Apesar de muitos dos vários patógenos que podem ter sido transmitidos entre humanos modernos e Neandertais não mais existirem hoje, vários estudos genômicos registram potenciais assinaturas de eventos nos quais patógenos foram transmitidos entre essas duas espécies, ou entre nossa espécie e humanos arcaicos em geral, especialmente Denisovanos (3). Além disso, existem estudos que já evidenciaram assinaturas de seleção positiva nos humanos modernos em genes oriundos dos Neandertais associados com o sistema imune, o que mais uma vez sugere que a carga de transmissão inter-espécies de doenças era mais do que significativa.

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(3) Para mais informações, acesse: Denisovanos e a suruba inter-espécies na Ásia

Nesse sentido, além do maior prejuízo patogênico para os Neandertais nas áreas de contato, os humanos modernos já imunizados provavelmente teriam levado graves epidemias quando encontravam populações Neandertais mais isoladas sem resistência alguma (similar ao contato entre Europeus e Nativos Americanos nos séculos XV e XVI). Algo parecido teria ocorrido quando populações migrantes de Neandertais encontravam populações humanas mais isoladas, porém com um poderio patogênico menos letal. Essa dinâmica desvantajosa para os Neandertais teria levado, ao longo de milhares de anos, a um crescente colapso populacional dessa espécie, acompanhado ou não por outros fatores (mudanças climáticas, diferenças tecnológicas em relação aos rivais modernos, laços sociais mais fracos, entre outros). Novamente lembrando, a colonização das Américas foi seguida por uma rápida substituição dos Nativos Americanos facilitada pela disseminação de doenças.

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Reforçando o novo cenário proposto, existem evidências de que os Neandertais formavam redes sociais bem menos robustas do que os humanos modernos, preferindo o estabelecimento de grupos menores, mais isolados e de menor variabilidade genética. Isso pode ter favorecido um pesado fardo epidêmico em diversas populações de Neandertais ao longo da Eurásia após contato inicial com os humanos modernos imunizados.

Outra evidência que reforça a conclusão do novo estudo é que os humanos modernos e os Neandertais pareciam possuir um potencial cognitivo similar, com base nos últimos achados arqueológicos e paleontológicos, incluindo uso de avançadas tecnologias e de simbolismos por ambas as espécies. Doenças podem ter representado o fator decisivo de desbalanço entre as forças.


(1) Publicação do estudo: Nature Communications

Nossas doenças podem ter extinto os Neandertais Nossas doenças podem ter extinto os Neandertais Reviewed by Saber Atualizado on novembro 09, 2019 Rating: 5

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