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Cientistas redescobrem inseticida altamente eficiente perdido na Segunda Guerra


Em um novo estudo publicado no periódico Journal of the American Chemical Society (1), pesquisadores da Universidade de New York, EUA, exploraram a química, efetividade assim como a curiosa, complicada e alarmante história do DFDT, um inseticida de ação rápida praticamente perdido no pós-Segunda Guerra devido à rivalidade entre as nações. Os resultados das análises laboratoriais mostraram que o re-descoberto inseticida é extremamente eficaz, rápido e ambientalmente menos prejudicial, sendo um potencial novo candidato na luta contra a rápida disseminação de doenças transmitidas por mosquitos e contra a resistência evolutiva dos insetos a esses controladores químicos.

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Estudando o crescimento de cristais, os autores do novo estudo descobriram há dois anos uma nova forma de cristal a partir do notório inseticida (1,1,1-tricloro-2,2-bis(4-clorofenil)etano ['DDT'], este o qual é bem conhecido pelos seus efeitos deletérios ao meio ambiente e à vida selvagem (2). Mas a nova forma desenvolvida se mostrou mais efetiva contra insetos, e em menores quantidades, minimizando potenciais impactos ambientais. Nesse sentido, os pesquisadores continuaram explorando as estruturas cristalinas de inseticidas, focando dessa vez em formas fluoretadas, substituindo átomos de cloro por átomos de flúor na estrutura química do composto. Isso culminou na síntese de dois derivados sólidos do DDT - um análogo monofluorado e um difluorado -, os quais foram testados em moscas-da-fruta (Drosophila) e em mosquitos conhecidos de transmitirem doenças como dengue (Aedes) e malária (Anopheles).  Os derivados sólidos fluoretados do DDT mataram os insetos mais rapidamente do que o DDT; em particular, o derivado difluoretado, conhecido como DFDT, matou os mosquitos de duas a quatro vezes mais rapidamente.

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(2) Leitura recomendada: O desaparecimento das abelhas

Uma maior rapidez na morte dos insetos significa uma maior dificuldade das espécies diversas evoluírem resistência ao composto tóxico, e também significa uma necessidade de menores doses do composto. Inseticidas mais efetivos provavelmente matam os insetos antes mesmo deles serem capazes de se reproduzirem. Os cristais inseticidas mostraram matar os mosquitos quando eram absorvidos através das almofadas das patas.

Análises subsequentes mostraram também que os derivados sólidos fluoretados do DDT termodinamicamente menos estáveis - liberando mais facilmente moléculas da sua estrutura (degradação) - eram mais efetivos na aniquilação dos insetos.


HISTÓRIA ESQUECIDA

Além das análises físico-químicas e biológicas, os pesquisadores também buscaram determinar se a criação dessas substâncias (derivados sólidos do DDT) tinha algum precedente. Investigando documentos históricos, eles inesperadamente descobriram que o DFDT tinha sido criado como um inseticida pelos cientistas Germânicos durante a Segunda Guerra Mundial e que foi usado pelos militares Germânicos para o controle de insetos na União Soviética (frente oriental) e no Norte da África, em paralelo com o uso de DDT pelas Forças Armadas dos EUA na Europa e no Pacífico Sul.


A Höchst manufaturava 40 toneladas de DFDT por mês durante a Segunda Guerra para o exército Germânico, e reportavam grande efetividade e maior segurança. Enquanto isso, as autoridades Norte-Americanas consideravam o DDT como uma "bala mágica" para o controle de insetos e superior a quaisquer outros compostos de mesmo fim. Combinando o uso militar e civil pós-guerra, foram lançados na superfície do planeta mais de 2 milhões de toneladas do altamente tóxico DDT.

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No caos do pós-guerra, no entanto, a fabricação do DFDT acabou sendo abruptamente finalizada. Os oficiais militares Aliados vitoriosos que interrogaram os cientistas do Terceiro Reich ignoraram e esconderam as alegações de que o DFDT era mais rápido e menos tóxicos para os mamíferos do que o DDT, chamando seus estudos de "deficientes" e "inadequados" nos reportes de inteligência do exército.

Mesmo assim, no seu discurso de recebimento do Prêmio Nobel de 1948, o descobridor das capacidades inseticidas do DDT, Paul Müller, fez questão de mencionar que o DFDT deveria ser o inseticida do futuro, dado que trabalhava mais rapidamente do que o DDT. Apesar desse esforço, o DFDT acabou sendo amplamente esquecido e se tornou desconhecido para os entomologistas mais contemporâneos.

Em outras palavras, o DFDT acabou perdendo um lugar de destaque para o DDT por motivos simplesmente geopolíticos e econômicos, com as evidências científicas sendo atropeladas. Sendo um pesticida muito mais efetivo do que o DDT, o DFDT poderia ter mudado o curso do século XX de acordo com os pesquisadores do no estudo, tanto na maior prevenção de danos ambientais e à saúde humana quanto por dar potencial base para o desenvolvimento de inseticidas ainda mais efetivos. Aliás, o DDT está fortemente associado com um aumento nos casos de autismo (3).

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(3) Leitura recomendada: A problemática questão do autismo


NECESSIDADE DE NOVOS INSETICIDAS

Doenças transmitidas por mosquitos diversos, como a malária - a qual mata uma criança a cada dois minutos ao redor do mundo - são graves problemas de saúde pública, resultando em mais de 200 milhões de novos casos anualmente. Novas doenças, como a Zika, trazem ainda mais preocupações, especialmente considerando as mudanças climáticas (o contínuo aquecimento global abre novas áreas de ocupação para esses insetos).

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Para piorar ainda mais, os mosquitos estão se tornando cada vez mais resistentes (4) e falhando em responder aos inseticidas piretroides colocados em redes de cama. Autoridades de saúde pública estão cada vez mais preocupadas e já inclusive reconsideraram o uso de DDT - o qual foi banido há décadas em grande parte do mundo, com a exceção do uso seletivo para o controle de malária -, algo mais do que controverso considerando o histórico de graves impactos ambientais dessa substância.

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(4) Leitura recomendada: Mosquitos estão evoluindo em São Paulo

Nesse contexto, o DFDT e outros inseticidas baseados em sua estrutura ou no seu modo de ação podem ser excelentes alternativas, por serem muito mais efetivos, bem menos tóxicos e requisitarem de menores quantidades para o mesmo serviço. As alegações dos cientistas Germânicos eram legítimas: a substituição de flúor para os átomos para-cloros no DDT dramaticamente acelera a ação do DFDT e do MFDT em comparação.

Mais análises precisam ser feitas agora para um melhor entendimento do real perfil de segurança ambiental do DFDT.


(1) Publicação do estudo: JACS

Cientistas redescobrem inseticida altamente eficiente perdido na Segunda Guerra Cientistas redescobrem inseticida altamente eficiente perdido na Segunda Guerra Reviewed by Saber Atualizado on novembro 30, 2019 Rating: 5

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