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Cientistas do mundo inteiro declaram estado de emergência climática


O acúmulo de evidências científicas nas últimas décadas deixa mais do que claro o papel determinante das atividades humanas no atual processo de Aquecimento Global e de mudanças climáticas associadas, a partir da massiva emissão antropogênica direta e indireta de gases de efeito estufa, especialmente dióxido de carbono (1). Agora, um time global de cientistas, em uma publicação de alerta no periódico BioScience (2), afirmou que um "sofrimento humano sem precedentes" é inevitável caso ações profundas e efetivas a longo prazo não sejam tomadas para frear drasticamente as emissões de gases estufas e outros fatores relacionados às mudanças climáticas.

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(1) Leitura recomendada: Aquecimento Global: Uma problemática Verdade

A declaração dos cientistas é baseada em análises científicas sobre dados publicamente disponíveis e acumulados nos últimos mais de 40 anos cobrindo um amplo espectro de medidas, incluindo uso de energia, temperatura superficial, crescimento populacional, uso da terra, desmatamento, variações nas massas de gelo polares, taxas de fertilidade, produto interno bruto (PIB) e emissões de carbono (gases estufas como metano e dióxido de carbono).

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"Cientistas possuem uma obrigação moral de alertar a humanidade de qualquer grande ameaça", disse o Dr. Thomas Newsome da Escola de Ciências Biológicas e Ambientais da Universidade de Sydney, Austrália, e um dos responsáveis pelo alerta (3). "Considerando os dados que temos, está claro que nós estamos enfrentando uma emergência climática."

No artigo publicado na Bioscience, os autores da Universidade de Sydney, Universidade do Estado de Oregon, Universidade do Cabo e Universidade de Tufts, junto com mais de 11 mil cientistas signatários oriundos de 153 países, declararam um estado de emergência climática, apresentando dados que realçam a gravidade da crise climática e seis áreas de ação para mitigar os piores efeitos das mudanças climáticas sendo induzidas pelas atividades humanas.

Segundo os pesquisadores, as mudanças climáticas estão se acelerando mais rápido do que muitos cientistas esperavam e que, enquanto é importante continuar medindo as temperaturas superficiais globais, um mais amplo conjunto de indicadores deveriam também ser monitorados de forma mais dedicada, como crescimento da população humana, consumo de carne, perda de cobertura de árvores, consumo de energia, subsídios para os combustíveis fósseis e perdas anuais econômicas devido aos eventos de extremos climáticos. Esses indicadores propostos seriam úteis para o público, governo e comunidade comercial seguirem o progresso das ações planejadas ao longo do tempo.

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Os cientistas no estudo apontaram seis áreas nas quais a humanidade deveria tomar passos imediatos para desacelerar os efeitos do aquecimento global:

1. Energia: Implementar massivas práticas de conservação; substituir combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral) por fontes energéticas renováveis; deixar os estoques restantes de combustíveis fósseis no subsolo; eliminar os subsídios para as companhias que usam combustíveis fósseis (em 2018, o subsídio anual de combustíveis fósseis para companhias de energia somaram mais de US$400 bilhões); e impor taxas de carbono altas o suficiente para limitar o uso de combustíveis fósseis.

2. Poluentes de vida curta: Rapidamente cortar as emissões de metano, hidrofluorcarbonos, fuligem e outros poluentes climáticos que persistem por relativo pouco tempo na atmosfera. Isso possui o potencial de reduzir as tendências de aquecimento global a curto prazo em mais de 50% ao longo das próximas décadas, além de melhorar a qualidade de vida da população ao reduzir drasticamente a poluição do ar.

3. Natureza: Limitar o clareamento excessivo da terra. Restaurar e proteger ecossistemas como as florestas manguezais e savanas contribuem enormemente para o sequestro de dióxido de carbono atmosférico, um crucial gás estufa. Aliás, dois robustos estudos publicados recentemente na Science concluíram que reflorestar enormes áreas do planeta não só é possível mas como pode solucionar o problema das mudanças climáticas e salvar diversas espécies de plantas e de animais em risco de extinção (Para saber mais, acesse: Cientistas revelam enorme potencial de reflorestamento na superfície da Terra).

4. Alimentação: Um consumo majoritário de plantas e limitar ao máximo o consumo de carnes reduziria dramaticamente as emissões de metano e de outros gases do efeito estufa, liberando também mais espaço de terra para plantações ao invés de criação de animais (o que também aumenta o sequestro de carbono). Reduzir o gasto de alimentos também é crucial, onde atualmente 1/3 ou mais de todo alimento produzido no mundo acaba no lixo.

5. Economia: Converter a economia dependente de combustíveis fósseis para adereçar a dependência humana da biosfera. Segundo os cientistas, o foco deveria sair de um crescimento excessivo do PIB e do acúmulo de riqueza, visando limitar a extração de materiais e a exploração de ecossistemas para manter a biosfera sustentável a longo prazo.

6. População: Estabilizar a população global, a qual hoje está crescendo a uma taxa de ~200 mil indivíduos por dia e ~80 milhões ao ano, a partir de estratégias que assegurem justiça social e econômica.

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Ao longo das últimas décadas, alguns sinais de progresso estavam sendo vistos, como a tendência de declínio das taxas de nascimentos, a desaceleração do desmatamento na Amazônia e um robusto aumento no uso de energia solar e eólica. Porém, sinais de piora e mesmo reversão desses indicadores estão sendo vistos ao redor de todo o mundo, como a desaceleração no declínio das taxas de nascimento e um aumento nas taxas de desmatamento na Amazônia nos últimos anos, especialmente este ano. E apesar do aumento de 373% por década no consumo de energia solar e eólica, isso não representa hoje nem 1/28 do consumo de combustíveis fósseis. Isso sem contar que as taxas globais de emissão de gases estufas estão aumentando rapidamente.

Segundo o estudo, "mitigar e adaptar às mudanças climáticas significa transformar o modo como nós governamos, administramos, comemos e preenchemos requerimentos materiais e energéticos." E o Dr. William Ripple (3), professor de ecologia da Universidade do Estado de Oregon, EUA, reforça que a  "a temperatura global superficial, o conteúdo de energia térmica nos oceanos, climas extremos e seus custos, nível dos mares, acidez oceânica e uso da terra estão todos aumentando. Gelo está rapidamente desaparecendo como mostra as tendências em declínio no mínimo de verão no gelo marinho do Ártico, Groenlândia e camadas de gelo Antárticas, e a espessura das geleiras. Todas essas rápidas mudanças realçam a urgente necessidade para ação."

Há exatos 40 anos, cientistas de 50 nações se encontraram na Primeira Conferência Climática Mundial, em Genebra, Suíça, no ano de 1979, e concordaram que as tendências alarmantes para as mudanças climáticas fizeram urgente a necessidade de agir. Desde então, alarmes similares têm sido feitos ao longo da Reunião do Rio em 1992, do Protocolo de Kyoto em 1997 e, o mais recente, do Acordo de Paris em 2015, do qual os EUA sob a administração Trump (um negacionista climático) está oficialmente se retirando este ano. O mundo continuou ignorando os alertas climáticos, e agora estamos em meio a uma emergência e crise climática que exige de nós profundas mudanças, ou podemos estar cavando um catástrofe para as próximas décadas. Eventos climáticos extremos estão gritando cada vez mais e por todo o globo.


(2) Publicação do estudo: BioScience

(3) Referência adicional: University of Sydney

Cientistas do mundo inteiro declaram estado de emergência climática Cientistas do mundo inteiro declaram estado de emergência climática Reviewed by Saber Atualizado on novembro 05, 2019 Rating: 5

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