A sonda Voyager 2 alcançou oficialmente o espaço interestelar

Em um estudo publicado ontem na Nature Astronomy (1), pesquisadores da Universidade de Iowa, EUA, reportaram que a sonda Voyager 2 entrou no meio interestelar, a região do espaço fora da fronteira produzida pelos ventos energéticos emanados pelo Sol (contendo partículas, como prótons e elétrons, a altas velocidades). A Voyager 2, portanto, se tornou o segundo objeto feiro pelo homem a escapar da influência da nossa estrela, seguindo a fuga da Voyager 1 em 2012.

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No novo estudo, os pesquisadores confirmaram a passagem da Voyager 2 para fora do domínio solar em 5 de novembro de 2018, ao observarem um salto definitivo na densidade do plasma detectado por um instrumento de onda de plasma associado à sonda. A densidade de plasma na camada externa da heliosfera é tipicamente em torno de 0,002 cm-3, e, no dia 30 de janeiro de 2019, a medida de densidade de elétrons feita pela Voyager 2 foi de ~0,039 cm-3. O notável aumento na densidade do plasma - salto por um fator de quase 20 - é uma evidência de que a Voyager 2 está passando do plasma quente e de menor densidade característico do vento solar para o plasma frio e de maior densidade do espaço interestelar. O sinal também foi similar àquele detectado pelo sonda Voyager 1 (densidade de 0,055 cm-3) quando esta cruzou a fronteira para o espaço interestelar.

A fuga da Voyager 2 ocorreu a uma distância de 119,7 unidades astronômicas (AU) - 1 AU equivale a aproximadamente 150 milhões de quilômetros e representa a distância média entre a Terra e o Sol -, enquanto a Voyager 1 fez o mesmo a uma distância de 122,6 AU. As duas sondas foram lançadas dentro de um intervalo de semanas uma da outra no ano de 1977, com diferentes objetivos de missão e trajetórias no espaço. Mesmo assim, ainda passaram a fronteira interestelar praticamente à mesma distância do Sol. Isso implica que a heliosfera é simétrica, pelo menos nos dois pontos onde as duas sondas cruzaram.

Ainda segundo os pesquisadores, os dados obtidos indicam que a heliosheath - a região externa da heliosfera, onde o vento solar se acumula contra o vento interestelar - possui variada espessura. Isso porque a Voyager 1 viajou 10 AU mais longe do que a Voyager 2 para alcançar a heliopausa, uma fronteira onde o vento solar e o vento interestelar estão em balanço e considerado o ponto de cruzamento para o espaço interestelar. Alguns cientistas pensavam que a Voyager 2 faria a passagem primeiro, baseando-se em modelos propostos para a heliosfera.

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A última medida obtida da Voyager 1 foi quando a sonda estava a cerca de 146 AU de distância do Sol e o seu instrumento de onda de plasma registrou que a densidade de plasma está aumentando. A sonda está tão longe que demora mais de 19 horas para a informação dela - na velocidade da luz - viajar até nós.

Agora, as duas sondas viajam sobre suas próprias orbitas ao redor da galáxia pelos próximos 5 bilhões de anos ou mais, e a probabilidade delas se chocarem com algo no meio interestelar é quase zero. Estão à deriva na Via Láctea, levando a assinatura humana para longe do Sistema Solar.


(1) Publicação do estudo: Nature Astronomy

Referência adicional: Iowa University

> OBS.: Foram um total de 5 estudos publicados na Nature sobre essa passagem, realizados por diferentes grupos de pesquisa ao redor do mundo, e cada um deles descrevendo diferentes aspectos do evento, da heliosfera e dos ventos interestelares (fluxo de partículas, influência de campos magnéticos, etc.). Por exemplo, no estudo II, os pesquisadores descobriram uma 'barreira magnética' na heliosheath adjacente à heliopausa que fortemente influencia a entrada de raios cósmicos dentro da heliosfera. Links para os estudos:

I. Voyager 2 plasma observations of the heliopause and interstellar medium

II. Magnetic field and particle measurements made by Voyager 2 at and near the heliopause

III. Energetic charged particle measurements from Voyager 2 at the heliopause and beyond 

IV. Cosmic ray measurements from Voyager 2 as it crossed into interstellar space