Besouro polinizador preservado em âmbar corrobora hipótese de Darwin

Há um longo tempo - desde Darwin - os cientistas defendem a hipótese que a polinização por insetos representou um fator crucial para a rápida disseminação, diversificação e domínio das plantas com flores (angiospermas) no ambiente terrestre durante o período Cretáceo, há cerca de 145 milhões e 66 milhões de anos. Esse fator se somaria com a persistente alta frequência de duplicações genômicas nesse grupo de plantas que fomenta os processos evolutivos (1). No entanto, no caso do cenário de polinização (entomofilia), não existia sólidas evidências fósseis desse período ligando diretamente os insetos com a busca incessante de pólen nas flores.

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(1) Para saber mais, acesse: Resolvendo o abominável mistério evolucionário das angiospermas

Agora, em um estudo publicado no periódico PNAS (2), pesquisadores descreveram uma antiga espécie de besouro (Angimordella burmitina) que ficou presa e preservada em um fragmento de âmbar (material constituído de resinas fossilizadas excretadas pelo tronco de árvores em climas temperados). O fragmento de âmbar em questão foi encontrado no norte de Myanmar e obtido pelos cientistas em 2012, e inicialmente foi ignorado. Porém, análises posteriores mais detalhadas via tomografia micro-computadorizada de raios-X (micro-CT) e microscopia de escaneamento a laser confocal (CLSM) revelaram 62 partículas de pólen anexados aos pelos do tórax, abdômen e pernas do inseto ali encrustado.

As análises revelaram várias adaptações no corpo do inseto - o qual possuía uma extensão total de 4 milímetros - visando otimizar a alimentação em flores: corpo curvo e lateralmente comprimido, e cabeça fortemente declinada, para facilitar a alimentação no interior das flores; peças bucais incluindo apêndices na forma de semi-pernas para a coleta e transporte de pólen similar à quelas de besouros polinizadores modernos; meta-coxas e meta-femorais grossos e fortes, e estruturas espinhosas nas pernas traseiras, que tornam mais fácil a movimentação na corola e de uma flor para outra; pelos nas regiões do tórax e do abdômen mais longos do que o normal e espaçados, facilitando a anexação de pólen.

Além disso, os grãos de pólen exibiam atributos zoófilos de polinização, incluindo características de ornamentação, tamanho e agrupamento, que agem para atrair e otimizar a anexação no corpo de animais polinizadores. Os grãos de pólen parecem pertencer a uma espécie no grupo de angiospermas chamado de Eudicotyledoneae, o qual engloba várias das árvores hoje existentes.

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Os pesquisadores dataram o besouro em 99 milhões de anos atrás, com base na datação radioativa U-Pb (3) de partículas de zircônio associadas à matriz vulcanoclástica onde o fragmento de âmbar estava encrustado, na Vila de Noije Bum, cidade de Danai, Myanmar. Essa datação é suportada pela presença de um espécime de amonoide (grupo de moluscos cefalópodes extinto no final do Cretáceo) presente dentro do âmbar.

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(3) Para entender mais sobre as datações geológicas, acesse: Como calcular a idade dos fósseis e da Terra?

O achado empurra a história evolutiva dos insetos polinizadores no mínimo em cerca de 50 milhões de anos mais cedo do que as atuais evidências fósseis conhecidas sugeririam. Segundo a conclusão do novo estudo, é provável que essa co-evolução com as plantas com flores começou bem antes, corroborando a hipótese de polinização por insetos que ajuda a explicar a rápida radiação das angiospermas no ambiente terrestre.


(2) Publicação do estudo: PNAS