Alerta: Esse medicamento pode causar danos sérios na retina

Um medicamento amplamente prescrito por décadas para uma condição na bexiga conhecida como cistite intersticial, agora está se mostrando tóxica para a retina, o tecido sensível a luz na parte de trás do olho que nos permite enxergar. Após reportes iniciais em 2018 de que o Elmiron (pentosano polissulfato de sódio) pode estar associado com danos retinais, três pesquisadores oftalmologistas conduziram um estudo de revisão com foco em pacientes no Kaiser Permanente (KP, um consórcio Norte-Americano de cuidados gerenciados), na Califórnia do Norte. Eles encontraram que cerca de 1 em cada 4 pacientes com significativa exposição ao Elmiron mostraram notáveis sinais de danos oculares, e que a toxicidade desse medicamento pode mascarar outras condições retinais, como degeneração macular associada com a idade (1). Os achados foram apresentados esta semana no 123° Encontro Anual da Academia Americana de Oftalmologia (2).

(1) Para saber mais sobre o assunto, acesse: Suplementos de Luteína e Zeaxantina são realmente remédios para os olhos?

A cistite intersticial causa dor crônica na bexiga urinária e na área da pélvis. Só nos EUA, mais de 1 milhão de pessoas, a maior parte mulheres, são estimadas de possuir a condição. O Elmiro é o único medicamento aprovado pelo FDA (Agência Norte-Americana de Alimentos e Drogas) para tratar a condição. Figurando como base terapêutica central por décadas, centenas de milhares de pessoas têm sido provavelmente expostas ao princípio ativo desse medicamento ao redor do mundo.

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No ano passado, no Centro Ocular Emory, em Atlanta, EUA, foram reportados seis pacientes que vinham consumindo o Elmiron por cerca de 15 anos e que desenvolveram estranhas mudanças na mácula, a parte central da retina responsável por fornecer uma límpida e rápida visão central (3). Como nada no histórico médico dos pacientes e testes diagnósticos explicavam as mudanças súbitas e anormais nessa estrutura ocular, surgiu a primeira forte suspeita que o uso a longo prazo de Elmiron pode causar danos na retina.

No novo estudo, os pesquisadores Robin A. Vora, M.D , Amar P. Patel, M.D., e Ronald Melles M.D. resolveram investigar mais a fundo a questão, focando inicialmente no histórico dos seus pacientes. Eles encontraram uma mulher sob tratamento de longo prazo que tinha sido erroneamente diagnosticada como tendo distrofia retinal. Isso os levou a realizar uma robusta pesquisa nos cerca de 4,3 milhões de pacientes do KP.

Os pesquisadores encontraram 140 pacientes que tinham tomado uma média de 5 mil pílulas do medicamento cada um ao longo de 15 anos. Desses 140 pacientes, 91 concordaram de ir realizar um exame ocular. Após imagens detalhadas da parte de trás dos olhos, os participantes foram divididos em três categorias: normal, possíveis anormalidades e anormalidades conclusivas. Do total, 22 deles mostraram claros sinais de toxicidade medicamentosa. E a taxa de toxicidade mostrou-se dose-dependente, com 11% daqueles intoxicados tomando de 500 a 1000 gramas e 42% tomando 1500 gramas ou mais.

"É uma infelicidade," disse Dr. Vora. "Você tem um paciente com uma condição crônica como cistite intersticial, para a qual não existe cura e nenhum tratamento efetivo. Eles são submetidos a esses medicamentos porque são pensados terem poucos efeitos colaterais e riscos, e ninguém mais questiona. E, ano após ano, o número de pílulas consumidas só aumenta."

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Como ainda não é claro qual nível de consumo da medicação é considerado excessivo e tóxico, os pesquisadores recomendam que os pacientes que não mostraram sinais de toxicidade sejam examinados por um oftalmologista para descartar ou confirmar danos na retina, pelo menos 1 vez ao ano. Para aqueles mostrando sinais de danos, é recomendada que eles conversem com seus urologias ou ginecologistas sobre a descontinuação do medicamento.

De acordo ainda com os pesquisadores, a boa notícia é que, se identificados no início, os danos podem ser amenizados com a interrupção do medicamento. No último estágio, porém, os danos de toxicidade podem ser similares ao último estágio da degeneração macular seca atrófica associada com a idade e resultar em perda permanente de visão.


(2) Referência: American Academy of Ophtalmology

(3) Referência: AAO