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Por que filhas adultas estão ausentes em antigos cemitérios Germânicos?


Revelar e entender os mecanismos por trás da desigualdade social nas sociedades pré-históricas é um grande desafio. Nesse sentido, em um estudo recentemente publicado na Science (1), pesquisadores combinaram amplos dados genômicos, evidências isotópicas e dados antropológicos e arqueológicos para esclarecer importantes aspectos associados à complexidade do status social, regras herdadas e mobilidade durante a Idade do Bronze (3000 a.C. - 1200 a.C.). Os resultados das análises revelaram interessantes detalhes sobre as relações e padrões de herança entre as famílias dessa época, e uma curiosa ausência: por que as filhas adultas não eram enterradas com seus familiares?

O grupo interdisciplinar de pesquisadores, incluindo cientistas do Instituto Max Planck, Alemanha, e da Escola de Medicina de Harvard, EUA, trabalharam com os vestígios e túmulos escavados há mas de 20 anos no sul do território Germânico, datados de uma época quando não existia ninguém para escrever os acontecimentos do dia-a-dia e dos grandes eventos históricos (pré-história). Os túmulos, artefatos e dentes analisados possuem origem especificamente de um período quando as terras ao longo do Rio Lech, no sul de Augsburg, foram cavadas para o desenvolvimento de um grupo de moradias densamente povoado na região.

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Dados de análises radiocarbônicas mostraram que os agricultores desenterrados da região viveram entre 4750 anos e 3300 anos atrás, do período do Neolítico Tardio até a Idade do Bronze Média. Foram analisados os genomas de 104 pessoas no total, determinando-se o sexo dos indivíduos e como eram relacionados entre si (em termos genéticos, de parentesco). Os pesquisadores, então, recalibraram as datas obtidas via radiocarbono, limitando-as para dentro de 200 anos em alguns casos, e identificando quatro a cinco gerações de ancestrais e descendentes que viveram nesse espaço de tempo. Foram também realizadas análises genômicas comparativas com centenas de indivíduos de períodos modernos a partir de dois bancos de dados genéticos.

Entre os mais notáveis achados, o estudo mostrou que famílias individuais persistindo por várias gerações consistiam de um núcleo familiar de alto status e de indivíduos não-relacionados de baixo-status, marcando uma organização social acompanhada por patrilocalidade e exogamia das mulheres, e constituindo um sistema que se manteve estável ao longo de 700 anos. Razões isotópicas de estrôncio e de oxigênio revelaram significativamente mais mulheres não-locais do que homens e crianças.

Alguns dos mais antigos agricultores estudados faziam parte da cultura Neolítica Bell Beaker ('Taça de Sino'), chamada assim devido ao formato dos seus potes e que perdurou de 2480 a 2150 a.C. Gerações posteriores de homens da Idade do Bronze que retiveram DNA Bell Beaker eram de alto status social, e eram enterrados com adagas de bronze e de cobre, machados e artefatos esculpidos. Aqueles homens carregavam uma variante do cromossomo Y (linhagem R1B-P312) que ainda é comum hoje na Europa. Em contraste, homens de baixo status social enterrados sem pertences pessoais tinham cromossomos Y substancialmente diferentes, mostrando uma ancestralidade diferentes no lado paterno, e sugerindo que homens com ancestralidade Bell Beaker eram mais ricos e tinham mais filhos, cujos genes persistiram até os dias atuais.


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Um terço das mulheres eram também enterradas com grande riqueza - artefatos de cobre bem elaborados, grossos anéis de perna feitos de bronze, e pingentes de bronze decorados. No entanto, o mais curioso: elas eram 'estrangeiras', não pertenciam aos grupos familiares da região analisada. O DNA dessas mulheres as colocavam a parte de outros familiares enterrados, e isótopos de estrôncio nos seus dentes, os quais refletem os minerais na água sendo consumida, mostraram que elas nasceram e viveram até a adolescência bem longe do Rio Lech. Alguns dos pertences nos túmulos dessas mulheres - talvez lembranças de infância - as ligam à cultura Únětice, conhecida por seus distintos objetos metálicos, e situada a pelo menos 350 quilômetros ao leste no que é hoje a Alemanha Oriental e a República Checa.

Além disso, não foram encontrados sinais das filhas dessas mulheres nos túmulos da região, o que sugere que elas também eram enviadas para longe visando provavelmente casamentos arranjados, em um padrão que persistiu por 700 anos. As únicas mulheres locais nos túmulos eram garotas de famílias de alto status que morriam antes de completarem 15-17 anos de idade, e de mulheres pobres e não-relacionadas que não possuíam pertences em seus túmulos, provavelmente servas do núcleo familiar rico.

Já as análises de isótopos de estrôncio dos dentes de três homens, em contraste, mostraram que, apesar deles terem deixado a região durante a adolescência, eles retornaram quando adultos. Talvez um rito de passagem na vida dos homens nessa época.


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Os túmulos das pessoas não-relacionadas e pobres sugeriram aos pesquisadores que a desigualdade social marcava profundamente as famílias dessa época. Tais complexas estruturas sociais mesmo em uma sociedade rural relativamente modesta surpreendeu os pesquisadores, já que os registros arqueológicos na Europa até o momento conhecidos sugeriam que os primeiros servos ou escravos vivendo sob o mesmo teto de pessoas de alto status social e poder apareceram 1500 anos mais tarde, na Grécia Clássica.

Os pesquisadores esperam que esse novo tipo de metodologia interdisciplinar de análise possa ser aplicado em outras regiões ao redor do mundo para melhor destrinchar as relações sociais dos humanos modernos (Homo sapiens) pré-históricos.


(1) Publicação do estudo: Science

Referência adicional: Science Magazine

Por que filhas adultas estão ausentes em antigos cemitérios Germânicos? Por que filhas adultas estão ausentes em antigos cemitérios Germânicos? Reviewed by Saber Atualizado on outubro 15, 2019 Rating: 5

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