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Aumento das queimadas no Brasil está ligado ao desmatamento, afirmam os cientistas



Dados do Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostram que as queimadas no Brasil aumentaram 82% em relação ao ano de 2018, se compararmos o mesmo período de janeiro a agosto - foram 71497 focos neste ano, contra 39194 no ano passado, e com mais da metade (52,5%) deles este ano concentrados na Amazônia, uma floresta úmida que sofre muito com as queimadas. Enquanto outros biomas, como as savanas, possuem adaptações para esse tipo de evento, e podem inclusive se beneficiar de queimadas controladas ou naturais, as florestas tropicais e temperadas úmidas não evoluíram adaptações para esse tipo de resposta ou proteção, porque as queimadas são raras nesses ambientes em condições naturais devido à natureza úmida deles.

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Segundo o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles - já condenado em processo de fraude ambiental e alvo de mais duas investigações (uma a qual - sobre enriquecimento ilícito - que pode levá-lo à prisão) - o "clima seco, ventos e tempo quente" foram os fatores responsáveis pelo aumento no número de queimadas na Amazônia este ano, algo que supostamente é "natural" e ocorre todos os anos. De fato, no início de agosto a Amazônia Brasileira é marcada por um período de maior seca, mas devemos nos lembrar que ela continua sendo uma floresta úmida, e gerando inclusive grande parte das suas chuvas via reciclagem hídrica intermediada pela massiva evapotranspiração.

Cientistas no Brasil e no mundo inteiro chegaram à mesma conclusão sobre o crescente aumento nas queimadas na Amazônia Brasileira e de outros países, como a Bolívia: maior desflorestamento. Segundo o Físico Atmosférico da USP, Paulo Artaxo, as chamas das queimadas estão emergindo em um padrão típico de clareamento florestal, junto às fronteiras de atividade agropecuária. Dados históricos mostram que os dois fenômenos estão ligados: a derrubada descontrolada e excessiva de árvores, e então o gado e outras formas de exploração da terra que entram. "Não existe dúvida de que o aumento nas atividades de fogo está associado com um rápido aumento no desflorestamento", afirmou Artaxo, em entrevista para a Science (1).

O projeto Global Fire Emissions Database (Banco de Dados Global de Emissões de Fogo), o qual inclui cientistas da NASA, da Universidade da Califórnia e da Universidade de Amsterdã, vê a mesma tendência de aumento anormal das queimadas na Amazônia Brasileira, e ainda um pouco maior do que o indicado pelo Inpe, devido a um sistema algorítmico diferenciado de análise dos dados, estes os quais são oriundos de um espectrorradiômetro presente nos satélites Terra e Aqua da NASA usados por ambas as agências científicas.

Este ano o número de focos de queimadas é o maior desde 2010, quando o El Niño causou uma seca severa e o Inpe registrou 58 mil queimadas no mesmo período. Dessa vez, anomalias climáticas não podem explicar o novo aumento. Pelo contrário: a temporada seca deste ano têm sido pouco intensa. "Se nós tivéssemos outro ano com o mesmo nível de seca dos anos anteriores, a situação estaria muito pior", afirmou Paulo Moutinho, um ecólogo que faz pesquisa no Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), uma organização não-governamental localizada em Belém, Pará. Todas as evidências apontam para o desmatamento.

Pelos dados do Inpe de agosto deste ano, houve um recorde histórico do número de focos de queimadas no estado do Amazonas, ou seja, desde 1998. Foram 6145 focos verificados até o dia 27. O recorde anterior era justamente quando houve um recorde absurdo no desmatamento, em 2005. Segundo Ane Alencar, diretora do Ipam, o Amazonas, especialmente o sul do estado, protagoniza hoje uma das novas fronteiras do desmatamento, de expansão da agropecuária, e com os dados do Inpe confirmando que o estado está cada vez mais ameaçado (4). No Acre e em Rondônia, os focos superaram a média histórica para o mês de agosto.

Segundo Douglas Morton, líder do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, em Greenbelt, Maryland, o qual monitora o uso de terra e mudanças ambientais através de dados de satélites, os padrões de desmatamento e de fogo diferem da trajetória dos últimos doze anos (5). Morton afirma que este ano, até o momento, houve um aumento de atividade de fogo em localizações previamente identificadas como desflorestadas, e com plumas de fumaça de intensas queimadas se elevando alto na atmosfera e se espalhando com o vento. Além disso, foram mostradas queimadas na mesma localização persistindo por múltiplos dias, algo só possível caso madeira esteja sendo queimada. Ou seja, reforçando a ligação entre um maior pressão de desmatamento e uma maior número de queimadas para clarear as áreas desmatadas.

Os 10 municípios com as maiores taxas de atividade de fogo - alguns dos quais são do tamanho de pequenos países Europeus - são também aqueles com as maiores taxas de desmatamento registradas este ano.

Após uma área de floresta ser clareada e madeira valiosa retirada, os agentes antropogênicos (pecuaristas, agricultores, etc.) colocam fogo para remover o excesso de vegetação. Pode levar meses para as árvores tombadas se tornarem secas o suficiente para serem queimadas, mas eventualmente cada área florestal desmatada tem que ser incinerada antes de ser convertida em pasto ou fazenda agricultural. No entanto, nem todas as queimadas estão associadas ao desmatamento ilegal. Fogo também é usado rotineiramente para clarear pastos com excesso de crescimento vegetativo, resíduos de lavouras e vegetação no entorno de estradas. Esses últimos casos resultam em queimadas menos intensas.

Vários dos focos de queimadas recentemente detectados pelos satélites estão ativos por várias dias, queimando com intenso calor e produzindo colunas de fumaça que são altas e grossas - todos indicadores de que enormes quantidades de biomassa estão queimando. "É uma perfeita tempestade de fogo e desmatamento ao longo da floresta", afirmou Moutinho.

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De fato, dados recentes têm mostrado claramente que o desmatamento no Brasil voltou a subir drasticamente. De acordo com o Inpe - o qual o presidente Jair Bolsonaro e o Ministro Salles chamaram de mentiroso, sem nenhuma base científica para tal - mostrou que de janeiro até julho, cerca de 6,8 mil quilômetros quadrados foram devastados na Amazônia, 50% mais do que no ano passado. No mês de julho em específico, houve um aumento de três vezes o desmatamento em relação ao mesmo período do ano passado. E isso são estimativas mínimas, porque foram feitas com base no sistema Deter.

A taxa oficial da destruição será dada no fim do ano pelo sistema Prodes, também do Inpe. E mostrará um quadro ainda mais grave. Isso porque o Deter é um sistema “míope”, que não é feito para calcular a área desmatada, mas sim para orientar a fiscalização do Ibama. Para isso, ele faz detecções de desmatamento em tempo quase real, só que com resolução bem mais baixa que a do Prodes. Portanto, parte do desmatamento o sistema simplesmente não pega.

É muito difícil extrapolar dados do Prodes a partir do Deter, devido às diferenças de resolução. Mas, apenas como experimento mental, se o Prodes mostrar uma alta percentual equivalente à do Deter, o país verá um desmatamento de 11200 quilômetros quadrados em 2019. Será a primeira vez desde 2008 que o número fica em cinco dígitos.

E esse novo aumento brusco na devastação da Amazônia segue a retórica anti-ambientalista do presidente Bolsonaro e de seus aliados - incluindo o Ministro Salles - de fomento à expansão agressiva do agronegócio e de apoio à flexibilização das leis ambientais. O Fundo Amazônia está paralisado devido a acusações infundadas do governo de mal uso dos recursos, ONGs de proteção ambiental estão sendo atacadas, e os órgãos de fiscalização foram sufocados, praticamente não possuindo mais força nenhuma na Amazônia, especialmente o Ibama. Nesse último caso, o presidente acusa a existência de uma suposta indústria das multas ambientais e determinou que o Ibama precisa dar avisos prévios antes de realizar suas ações de fiscalização e combate às atividades ilegais, além de deixar o órgão sem recursos suficientes. E essas são apenas algumas das ações anti-ambientais.

Aliás, o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), defende o fim das reservas ambientais, mesmo sobre o protesto de lideranças do agronegócio com medo de que tal ação leve a danos irreparáveis às exportações.

"Nada disso é um acidente", Artaxo afirmou. "Nós estamos vendo o resultado de uma série de ações e inações por parte do governo Brasileiro." Carlos Peres, um ecólogo Brasileiro na Universidade de East Anglia, Reino Unido, reafirmou essa preocupação em uma declaração no dia 23 de agosto, dizendo que o Brasil "claramente possui o pior clima político anti-ambiental já visto na minha vida".

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Além de fomentar as queimadas, o desmatamento leva à liberação de massivas quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera (a curto e a longo prazo), o que ajuda a acelerar o aquecimento global. No âmbito nacional, a massa florestal da Amazônia também atua interferindo positivamente com o ciclo de chuvas dentro e fora do bioma, ao liberar enormes quantidades de umidade via evapotranspiração. Isso sem contar, voltando para as queimadas, que a combustão associada às fumaças geram uma massiva quantidade de fuligem e aerossóis que podem interferir com os padrões climáticos regionais e também afetar a saúde das pessoas.

Em um momento onde as mudanças climáticas associadas ao aquecimento global estão se intensificando, produzindo temperaturas mais quentes, mais raios de tempestade, períodos de seca mais prolongados e condições mais secas dentro das florestas, é preciso deixar a ideologia de lado e focar na prevenção de problemas mais graves, ou as queimadas só tenderão aumentar ainda mais, para dizer apenas um das consequências.


(1) Referência: Science

Referência adicional:
2. https://www.nature.com/articles/s41586-019-1474-y
3. http://www.observatoriodoclima.eco.br/desmatamento-subiu-50-em-2019-indicam-alertas-inpe/
4. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/08/28/amazonas-bate-recorde-historico-de-focos-de-queimadas-em-agosto.ghtml
5. https://www.sciencemag.org/news/2019/08/little-bit-everything-burning-nasa-scientist-dissects-amazon-fires

(ATUALIZADO 31/08)
Aumento das queimadas no Brasil está ligado ao desmatamento, afirmam os cientistas Aumento das queimadas no Brasil está ligado ao desmatamento, afirmam os cientistas Reviewed by Saber Atualizado on agosto 27, 2019 Rating: 5

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