EUA e União Soviética quase trabalharam juntos para a missão lunar

Em meio ao interesse do governo Norte-Americano de retornar o homem à Lua e às tensões entre EUA e Rússia, um artigo-comentário publicado no blog da Nature esta semana (1) - escrito pelo ex-Historiador chefe da NASA Roger D. Launius - trouxe uma curiosidade amplamente ignorada. Durante a tão emblemática Guerra Fria, a Corrida Espacial foi um dos mais marcantes eventos representando a acirrada rivalidade entre EUA e União Soviética. Porém apesar dessa rivalidade toda na busca pelo pouso tripulado no nosso satélite natural, os Norte-Americanos e os Soviéticos estiveram próximo de estabelecerem uma cooperação nessa empreitada espacial.

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Em 25 de maio de 1961, o Presidente John F. Kennedy anunciou o comprometimento dos EUA  em colocar astronautas na Lua até o final da década, objetivando inflamar o patriotismo e o espírito pioneiro do país frente à potência inimiga no Leste Europeu. No entanto, pouco tempo depois, Kennedy explorou a possibilidade de trazer a União Soviética - até então a única nação investindo em programas espaciais - para uma completa parceria. Caso esse inesperado plano de parceria tivesse tido sucesso, a competitividade teria se transformado uma poderosa cooperação científica internacional.

Kennedy tinha proposto a ambiciosa parceria ao líder Soviético, Nikita Khrushchev, na primeira reunião de ambos em junho de 1961. Khrushchev insistiu que tal discussão deveria esperar a negociação de um tratado de banimento de testes nucleares. Kennedy, posteriormente, revisitou a ideia de cooperação várias vezes, e, já no outono de 1963, sua visão era de criar um programa Apollo que construiria uma ponte entre as duas super-potências, ao invés de uma escalada de tensão.

Porém, uma série de conflitos entre as duas nações de 1961 até 1962 - englobando eventos que levaram à construção do Muro de Berlim, à crise dos mísseis Cubanos, entre outros - foram um grande empecilho para uma genuína cooperação. De qualquer forma, em setembro de 1963 as relações entre os dois lados melhoraram e Kennedy convidou a União Soviética para trabalhar com os EUA, oferecendo a visão de uma expedição lunar conjunta em uma reunião das Nações Unidas. Kennedy na reunião falou sobre enviar cientistas para a Lua como representativos de todos os países, não de uma única nação: "Espaço não oferece nenhum problema de fronteiras", disse o presidente Norte-Americano em discurso.

Nessa época, Khrushchev tinha começado a considerar que a ideia tinha mérito, mas o assassinato de Kennedy em 22 de novembro de 1963 acabou com o plano. Os Norte-Americanos seguiram independentes no programa espacial e venceram a corrida espacial, pousando os astronautas da missão Apollo seis vezes entre julho de 1969 e dezembro de 1972. Os Soviéticos tentaram e falharam em colocar cosmonautas (astronautas da União Soviética) na Lua, apesar das suas missões robóticas de retorno de amostras lunares terem tido sucesso.

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Ainda assim, a cooperação entre os EUA e a União Soviética no Espaço continuou permeando a Guerra Fria. Frequentemente informais, essas parcerias esporádicas recebiam diferentes graus de suporte dos líderes de ambos os lados. O mais significativo empreendimento conjunto veio como resultado da detente (intervalo de relativa tranquilidade durante a Guerra Fria ocorrido entre 1965 e 1975), no início da década de 1970, culminando no Projeto de Teste Soyuz, em 1975, o qual teve grande sucesso. Nesse projeto, um veículo espacial de aportamento dos EUA e da União Soviética foi colocado em órbita, com cosmonautas e astronautas trabalhando juntos em experimentos científicos.

Com o fim da Guerra Fria, várias projetos espaciais de cooperação internacional foram promovidos. Desde o programa US Space Shuttle (entre 1981 e 2011) e a Estação Espacial Internacional (ISS; continuamente ocupada desde 2000), a NASA vêm trabalhando com várias parceiros ao redor do mundo. Desde 1992, isso incluiu a agência espacial Russa, Roscosmos. Aliás, a Rússia participou da construção da ISS a partir do seu início, em 1993. Mas desde a grave crise que se instaurou com a anexação ilegal da Crimeia (região da Ucrânia) pela Rússia em 2014, as relações diplomáticas com os EUA e com grande parte do Ocidente vêm se deteriorando profundamente, ameaçando os esforços de maior cooperação científica internacional.

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NOVAS MISSÕES LUNARES

A cooperação científica internacional pode ser crucial para levar de volta os homem à Lua, à Marte e além. O governo Norte-Americano anunciou recentemente que a NASA estará revivendo o projeto de viagem tripulada à Lua, e os líderes da agência espacial anunciaram que o novo esforço será chamado de 'Artemis', em homenagem à irmã gêmea de Apolo na mitologia Grega (Ártemis).

A NASA projeta a primeira viagem para 2024, mas enfrenta dificuldades financeiras, técnicas e políticas para tal, apesar de existir parceria com a iniciativa privada, incluindo grandes bilionários como o dono da Tesla e da SpaceX, Elon Musk. A NASA ainda não têm um foguete pronto para levar humanos para o Espaço profundo e não desenvolveu nenhum pousador lunar desde que o programa Apollo terminou em 1972. Algumas companhias privadas, como a Blue Moon, do homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, já projetaram no papel um pousador lunar, mas nenhum ainda foi construído ou testado. Outro grande empecilho é o Congresso Norte-Americano, o qual controla o orçamento da agência espacial e não se mostra interessado em pagar por uma nova missão lunar. Os testes e programas lunares são extremamente caros, algo que não era um problema durante o auge da Guerra Fria, onde grande parte do foco político e científico estava voltado para as missões espaciais.

A NASA já vem realizando acordos com companhias privadas para missões de sondas lunares que visam experimentações e monitoramentos científicos, e espera que isso culmine em uma missão robótica para coletar pedras lunares e para preparar locais de pouso para uma missão tripulada. Em paralelo, a agência planeja continuar desenvolvendo foguetes de pesado levantamento e a cápsula de tripulação Orion, a qual visa carregar astronautas para dentro do espaço, incluindo alcançar a Lua, asteroides e finalmente Marte. O primeiro teste do combo cápsula-foguete é esperado de ocorrer até meados de 2020 e o primeiro teste tripulado talvez em 2022.

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Nesse sentido, temos também outro grande protagonista nesta nova corrida espacial: a China. O governo Chinês já anunciou que terá uma viagem tripulada à Lua até meados da década de 2030. O país Oriental já lançou uma série de missões lunares não tripuladas para a Lua ao longo da última década, e em janeiro deste ano a sonda Chinesa Chang'e-4 se tornou o primeiro veículo espacial do mundo a pousar no lado escuro da superfície lunar. Outras cinco missões Chinesas já estão programadas para explorar a Lua, começando com a Chang'e-5 que será lançada em dezembro deste ano, e a qual trará amostras de solo e de pedras lunares. O início de construção de uma base lunar também é esperado. O maior desafio para uma missão lunar tripulada da China é a falta de experiência e tecnologia prévia, ambos os quais os EUA possuem. Por isso a cooperação científica internacional é tão importante, especialmente para as missões espaciais.


Referências:
1. https://www.nature.com/articles/d41586-019-02088-4
2. https://www.nature.com/articles/d41586-019-02020-w
3. https://www.nasa.gov/audience/foreducators/spacesuits/historygallery/ap-nov69.html