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Estudo revela profundas raízes sociais da evolução humana nos gorilas


Um robusto e compreensivo estudo publicado na Proceedings of the Royal Society B (1) mostrou que os gorilas (Gorilla gorilla) possuem estruturas sociais muito mais complexas do que antes pensado, formando ligações vitalícias entre indivíduos de diferenciados graus de parentesco, e ordens sociais, de forma surpreendente similar àquelas encontradas nas sociedades humanas tradicionais. Os achados do estudo sugerem que a origem evolutiva dos nossos sistemas sociais podem se estender até o ancestral comum dos humanos e dos gorilas, e não uma novidade exclusiva da linhagem evolutiva dos homininis levando ao gênero Homo.

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Para o novo estudo, os pesquisadores usaram mais de seis anos de dados provenientes de dois locais de pesquisa na República do Congo, África, onde os cientistas documentaram as relações sociais de centenas de gorilas da subespécie G. gorilla gorilla. Alguns dados vieram também de um projeto no início da década de 2000, mas a maior parte dos dados observacionais foram coletados por uma instituição pertencente à Wildilife Conservation Society, onde informações sobre a vida dos gorilas têm sido cientificamente coletadas ao longo de 20 anos.




Os gorilas vivem em pequenas unidades familiares  - um macho dominante e várias fêmeas com filhotes - ou como machos solitários "solteiros". Para destrinchar melhor essa estrutura básica de convívio, os pesquisadores usaram algoritmos para revelar padrões de interação entre grupos familiares e individuais de forma a analisar o enorme banco de dados observacionais reunidos.

As análises da frequência e extensão das "associações" dentro das populações de gorilas explicitaram várias camadas sociais. Além da família imediata, foi revelado um ordenamento de interações regulares - marcadas por uma média de 13 gorilas - que se aproximam muito de uma 'família estendida dispersa' encontrada em sociedades humanas tradicionais (como tias, avós, primos, etc.). Indo mais a fundo, os pesquisadores mostraram um ordenamento de associações envolvendo uma média de 39 gorilas, muito similar a um 'grupo agregado' onde indivíduos gastam tempo juntos sem necessariamente serem próximo relacionados em termos de parentesco, de forma análoga às populações humanas mais primitivas vivendo em tribos ou pequenas comunidades, como uma vila.




O estudo mostrou que quando os machos dominantes eram meio-irmãos eles eram mais prováveis de estarem na mesma "tribo". Mas acima de 80% das associações detectadas foram entre machos dominantes mais longe relacionados - ou mesmo alguns aparentemente não relacionados. Nesse sentido, as fêmeas passavam boa parte do tempo interagindo em múltiplos grupos ao longo das suas vidas, tornando possível para os machos não próximo relacionados crescerem no mesmo grupo natal, similar aos meio-irmãos. Essas ligações podem levar às associações observadas entre os machos adultos, as quais são análogas a antigas e duradouras amizades vistas entre os humanos.

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Ainda segundo o estudo, ocasionalmente, quando vários machos jovens se dispersavam das suas famílias ao mesmo tempo mas não estavam prontos para se aventurarem por conta própria, eles temporariamente formavam grupos "solteiros" constituídos apenas por machos, sugerindo uma nova fase de relações sociais específica visando um melhor preparo para a vida adulta.



De acordo com a conclusão do estudo, as esporádicas programações de coleta das frutas preferidas dos gorilas pode ser uma razão do porquê esses primatas - e consequentemente talvez os ancestrais homininis da nossa espécie - evoluíram essa modularidade social hierárquica. A subespécie de gorila observada frequentemente se desloca vários quilômetros ao dia para se alimentar de um diverso espectro de plantas que raramente e de forma imprevisível produzem frutos. Essa busca se torna mais fácil quando existe colaboração entre os indivíduos. Os gorilas passam boa parte das suas vidas nos grupos familiares, onde continuamente são treinados e auxiliados na busca por alimentos. Relações e redes sociais mais profundas podem ajudar na cooperação e fortalecer a memória coletiva durante o rastreio de alimentos difíceis de serem encontrados.

Aliás, outros poucos animais mamíferos não próximo relacionados com os primatas, como elefantes e golfinhos, também exibem complexas estruturas sociais similares aos humanos. Essas espécies dependem de fontes alimentares idiosincráticas - busca por alimentos irregulares relativamente difíceis de serem encontrados e de oferta imprevisível, como certas frutas e peixes - e todas possuem centros de memória espacial na estrutura cerebral tão desenvolvidos quanto aquele encontrado nos humanos. Isso fortalece a hipótese de causalidade proposta pelos pesquisadores para a evolução de complexas organizações sociais.

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Em contraste, os primatas superiores mais próximo relacionados de nós (chimpanzés e bonobos) não exibem organizações sociais tão complexas quanto as vistas nos gorilas e nos humanos. Os chimpanzés (Pan troglodytes), em específico, vivem em pequenos grupos territoriais marcados por alianças flutuantes que são altamente agressivas - frequentemente violentas - com seus vizinhos.

Até o momento, a hipótese mais defendida era a de que os nossos ancestrais homininis desenvolveram sofisticados e grandes "cérebros sociais" de forma exclusiva entre os primatas, possibilitando a emergência de complexas sociedades. O catalisador dessa evolução social teria se dado quando antigos ancestrais homininis começaram a reconhecer e fortalecer os laços com parentes próximos e distantes. Porém, como os gorilas também possuem sociedades em grau e módulo similar de complexidade, fica sugerido que nossa evolução social parte de degraus já construídos desde o último ancestral comum com os gorilas, tornando desnecessário um brusco processo evolutivo que explique a notável organização social vista no gênero Homo.

Enquanto que aparentemente compartilhamos a agressividade com os chimpanzés, durante a divergência evolutiva a partir do ancestral comum da nossa espécie e desses primatas teríamos herdamos com exclusividade a complexa estrutura social já presente em ancestrais anteriores. Mas pode ser também - pouco provável - que ocorreu uma evolução social paralela e convergente entre a linhagem levando aos humanos e à linhagem levando aos gorilas. Mesmo em um cenário onde complexas estruturas sociais surgiram de forma independente nos gorilas e nos humanos, é quase certo que uma base comum para essa evolução foi conservada, e acabou perdida para os chimpanzés devido a eventos evolutivos e nichos ecológicos específicos.


Os achados do estudo também fornecem mais evidência de que os gorilas - primatas que englobam três subespécies (G. gorilla graueri, G. gorilla beringei e G. gorilla gorila) e que estão em preocupante estado de conservação - são muito inteligentes e sofisticados, e que nós humanos estamos longe de sermos 'especiais'.


(1) Publicação do estudo: PRSB

Estudo revela profundas raízes sociais da evolução humana nos gorilas Estudo revela profundas raízes sociais da evolução humana nos gorilas Reviewed by Saber Atualizado on julho 11, 2019 Rating: 5

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