Estudo revela que a anorexia envolve genes ligados ao metabolismo, não apenas fatores psiquiátricos

Um estudo global realizado por pesquisadores da King's College London, Reino Unido, e da Universidade da Carolina do Norte, EUA, encontraram fortes evidências de que a anorexia nervosa é ao menos em parte uma desordem metabólica, e não puramente um distúrbio psiquiátrico como até o momento era pensado. Os achados foram publicados no periódico Nature Genetics (1).

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A anorexia nervosa é uma doença muito séria e potencialmente fatal. Seus sintomas podem incluir uma perigosa perda acentuada de massa corporal, um intenso medo de engordar, e uma auto-percepção distorcida da imagem corporal. A anorexia nervosa afeta entre 0,9-4% das mulheres e 0,2-0,4% dos homens e possui a mais alta taxa de mortalidade entre todas as doenças psiquiátricas. Mesmo quando não termina em óbito, a longo prazo a anorexia pode danificar músculos, ossos, sistema cardiovascular e a fertilidade. Porém, pode ser tratada e os pacientes se recuperarem totalmente. Estudos com gêmeos monozigóticos mostram que a hereditariedade da doença (fatores genéticos) é estimada em 50-60%.

Para investigar mais essa doença, os pesquisadores realizaram um estudo genômico-amplo de larga escala através de uma meta-análise dos dados gerados por mais de 100 acadêmicos ao redor do mundo. As informações genéticas foram coletados de dois grandes bancos de dados internacionais: a Iniciativa Genética de Anorexia Nervosa (Anorexia Nervosa Genertics Initiative, ANGI) e o Grupo de Trabalho de Transtornos Alimentares  (Eating Disorders Working Group, PGC-ED) do Consórcio Genômico de Psiquiatria (Psychiatric Genomics Consortium). Os dados englobam 16992 casos analisados de anorexia nervosa e 55525 controles, de 17 países ao longo da América do Norte, Europa e Australásia (região que inclui a maior parte da Oceania).

Os resultados do estudo revelaram oito variantes genéticas ligadas à anorexia nervosa, e fortemente sugerindo que as causas genéticas do transtorno são ligadas tanto a fatores metabólicas quanto a fatores psiquiátricos. Entre os principais achados do estudo:

- A base genética da anorexia nervosa se sobrepõe com traços metabólicos (fatores glicêmicos, colesterol HDL) e antropométricos (medidas corporais, porcentagem de gordura corporal), e de forma independente a fatores genéticos que influenciam o índice de massa corporal (IMC).

- A base genética da anorexia nervosa se sobrepõe com outros transtornos psiquiátricos como transtorno obsessivo-compulsivo, depressão, ansiedade e esquizofrenia.

- Fatores genéticos associados com a anorexia nervosa também influenciam a atividade física, o que pode explicar a tendência para as pessoas com anorexia nervosa serem altamente ativas.

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Tradicionalmente, as anormalidades metabólicas vistas em pacientes com anorexia nervosa sempre foram atribuídas em sua maioria ao estado de fome, porém os resultados do novo estudo mostram que diferenças metabólicas podem também contribuir para o desenvolvimento do transtorno. Além disso, ainda segundo as análises do estudo, os fatores metabólicos diferenciais parecem atuar de forma tão importante quanto os efeitos puramente psiquiátricos na emergência da doença. Interferências no metabolismo nesse contexto, por exemplo, podem alterar a forma como os indivíduos processam gorduras e carboidratos, tornando mais fácil enfrentar longos períodos de fome. Sinalizações de fome que fortemente levam indivíduos normais a voltarem a comer, podem influenciar mais fracamente indivíduos com anorexia.

Os pesquisadores concluíram que a anorexia nervosa precisa ser encarada como uma patologia híbrida (transtorno metabólico-psiquiátrico), e que pode ser crucial considerar os fatores de risco tanto metabólicos quanto psicológicos na hora de explorar novos tratamentos, ou melhor trabalhar individualmente os pacientes.


(1) Publicação do estudo: Nature