Nosso ancestral em comum com os chimpanzés já possuía adaptações terrestres
Um estudo publicado no periódico eLife (1) mostrou que os primatas superiores Africanos se adaptaram a viver no solo, incluindo o ancestral em comum nosso com os chimpanzés/bonobos e com os gorilas. Isso indica que a linhagem humana e dos homininis em geral evoluiu de um ancestral que não era limitado às árvores ou outros habitats elevados, possuindo adaptações para viver no solo em alguma forma e frequência.
Os humanos são os únicos mamíferos bípedes com locomoção via passos, uma inovação que necessitou de uma dramática mudança morfológica ao longo de milhões de anos de evolução. E grande parte dessa transformação evolutiva é mais do que evidente na anatomia do pé humano, o qual se tornou um órgão propulsivo, com um dedão incapaz de realizar a tarefa de 'agarrar' - como nos outros primatas hoje vivos -, e um arco que possibilita a economia de energia durante o ato de andar e de correr. Nesse sentido, será que o pé humano evoluiu de um ancestral comum com outros primatas superiores que já possuía alguma adaptação terrestre ou as adaptações terrestres dos humanos, chimpanzés, bonobos e gorilas evoluíram de forma independente a partir de um ancestral totalmente arborícola?
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Para responder essa questão, o pesquisador Thomas Cody Prang, do Centro para o Estudo das Origens Humanas da Univesidade de New York, EUA, resolveu analisar mais a fundo o fóssil da espécie Ardipithecus ramidus - apelidado de 'Ardi' -, um ancestral humano que viveu há cerca de 4,4 milhões de anos na região hoje da Etiópia. Revelado em 2009, o Ardi é evolutivamente muito próximo - e o mais próximo conhecido - do nosso ancestral comum com os chimpanzés e bonobos. Nesse sentido, Prang mediu os comprimentos proporcionais relativos de múltiplos ossos no pé do fóssil para avaliar a relação entre o movimento da espécie (locomoção) e as características esqueléticas (morfologia). Subsequentemente, foram construídos modelos estatísticos sobre como seria o ancestral comum entre nós e os chimpanzés.
O resultado das análises mostrou que os ancestrais primatas comuns entre humanos e outros primatas superiores que possuem uma vida parcialmente ou completamente terrestre eram também adaptados a viverem no solo. Antes, estudos sobre os fósseis do Ardi sugeriam que seu pé eram mais similar ao de macacos (primatas arborícolas) do que o pé de chimpanzés e gorilas. O novo achado implica que o bipedalismo humano derivou de uma forma de locomoção quadrúpede similar àquelas vista nos atuais primatas superiores que compartilham características terrestres conosco. Segundo Prang, a elongação na região mediana do pé e a redução falangeal no Ardi relativo aos primatas superiores Africanos mostrou ser consistente com a hipótese de uma crescente capacidade propulsiva associada com uma forma mais primitiva de bipedalismo.
Basicamente, isso significa que o primeiro passo para o bipedalismo humano não envolveu uma descida evolutiva das árvores para o solo, já que nossos ancestrais mais antigos já tinham conquistado substanciais adaptações terrestres. Nesse cenário, uma pergunta interessante feita pelo autor do estudo é se a típica locomoção terrestre quadrúpede dos chimpanzés e gorilas, onde a mão apoia-se no chão na forma de "soco", evoluiu de forma independente ou se é uma herança do ancestral comum, implicando talvez que os nossos ancestrais homininis mais antigos também andavam dessa forma antes do bipedalismo. O achado também levanta outra pergunta: se o tão antigo ancestral comum nosso com os chimpanzés já tinha adaptações para uma vida terrestre, porque apenas os humanos evoluíram uma postura bípede ereta para a locomoção via passos apesar da retenção das capacidades de escalar árvores dos ancestrais diretos do gênero Homo?
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Para responder essas duas últimas perguntas, o próximo passo agora seria investigar quais as pressões seletivas favoreceram o singular bipedalismo do gênero Homo, especialmente entre Neandertais e humanos modernos.
(1) Publicação do estudo: eLife
Nosso ancestral em comum com os chimpanzés já possuía adaptações terrestres
Reviewed by Saber Atualizado
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maio 02, 2019
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