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Nossa espécie não foi a primeira do gênero Homo a conquistar as altas altitudes


Até o momento, vestígios ósseos dos Denisovanos - espécie humana (gênero Homo) muito próxima relacionada evolutivamente com os Neandertais (Homo neanderthalensis) e com a nossa espécie (Homo sapiens) - só tinham sido encontrados na Sibéria, Rússia, mais especificamente em uma única caverna, a famosa Caverna Denisova (1). Além disso, esses vestígios ósseos foram encontrados bem fragmentados, apesar de terem sido suficientes para a extração e análise do DNA dessa espécie. Em outras regiões geográficas, como na Ásia, Austrália e Melanésia, sabemos da presença ou da influência dos Denisovanos por causa da assinatura genética que eles deixaram nos humanos hoje vivos, a qual é uma herança do fluxo genético durante eventos de hibridização (1). Essa assinatura genética é encontrada não só em populações de baixa altitude no Leste Asiático, mas também em populações de alta altitude, como os Tibetanos.

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(1) Para mais informações sobre os Denisovanos e as hibridizações dessa espécie com os Neandertais e com os humanos modernos, acesse: Nossa espécie cruzou com múltiplas linhagens de Denisovanos
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Nesse sentido, cientistas agora - incluindo o pesquisador Jean-Jacques Hublin, diretor do Departamento de Evolução Humana no MPI-EVA (Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology) - descreveram a mandíbula inferior de um Denisovano encontrada no Planalto Tibetano na Caverna Baishiya Karst, em Xiahe, China, localizada a 3280 metros de altitude. É, de longe, a maior parte óssea inteira de um Denisovano até o momento conhecida e o primeiro fóssil dessa espécie encontrados fora da caverna siberiana. Essa impactante nova descoberta fornece importantes pistas anatômicas sobre essa espécie humana e mostra que os humanos modernos não foram os únicos - e nem os primeiros - a se adaptarem e a conquistarem os ambientes de alta altitude. Somando-se a isso, o achado reforça de forma direta que os Denisovanos, de fato, se disseminaram sobre uma grande área geográfica na Ásia.

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O maxilar inferior fossilizados foi primeiro descoberto em 1980 por um monge local, o qual passou o fóssil para o 6° Dalai Lama Gung-Thang, e, este, por sua vez, o entregou para a Universidade de Lanzhou. Desde 2010, dois pesquisadores dessa Universidade, Fahu Chen e Dongju Zhang, vêm estudando a área onde a mandíbula foi descoberta. Em 2016, eles iniciaram uma colaboração com o MPI-EVA, e os cientistas das duas instituições desde então vêm trabalhando juntos para decifrar o fóssil e o local da sua origem.

Apesar dos pesquisadores não terem conseguido extrair DNA da mandíbula, eles conseguiram extrair proteínas - no caso, proteomas de colágeno -  de um dos molares anexados, as quais foram então analisadas via uma nova técnica de análise filogênica . Essas proteínas estavam altamente degradadas e, portanto, bastante distinguíveis de possíveis contaminações modernas. Para estimar a idade do fóssil, os pesquisadores usaram datação radioativa de U/Pb (2), através de amostras da crosta de carbonato na qual o fóssil estava pesadamente incrustado.

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(2) Para saber mais sobre como as datações geológicas funcionam, acesse: Como calcular a idade dos fósseis e da Terra? 
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Os resultados das análises mostraram que a mandíbula fossilizada possui pelo menos 160 mil anos de idade, e que ela definitivamente pertence a um Denisovano. A análise proteica mostrou que a mandíbula pertencia a um espécime extremamente similar aos Denisovanos da Caverna Denisova, especialmente em termos de polimorfismos de aminoácidos únicos. Considerando a idade de datação, o novo espécime descrito é tão antigo quanto os mais antigos Denisovanos descobertos na Sibéria, e provavelmente representa o mais antigo hominini que habitou ambientes de alta altitude. Humanos modernos (H. sapiens) só foram se estabelecer nas altas altitudes em torno de 30-40 mil anos atrás.

Corroborando análises genéticas prévias, esses humanos arcaicos conseguiram fisiologicamente se adaptar às altas altitudes da região Tibetana, sobrevivendo com pouca concentração de oxigênio devido ao ar muito rarefeito. De fato, o material genético dos Denisovanos mostram seleções positivas para o alelo do domínio PAS endotelial contendo proteína 1 (EPAS1), o qual fornece adaptações para ambientes de hipoxia nos atuais humanos que habitam o Planalto Tibetano. Em outras palavras, esse alelo - o qual é uma variante genética que interfere na quantidade de hemoglobina sendo carregadas no sangue - provavelmente foi passado dos Denisovanos para os primeiros Tibetanos via introgressão.

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Através da técnica de tomografia micro-computada, os pesquisadores obtiveram também um modelo de imagem virtual da mandíbula incrustada no carbonato. Essa análise mostrou que a mandíbula estava muito bem preservada e que seu robusto e primitivo formato e os grandes molares ainda anexados indicavam que essa parte óssea pertenceu a um hominini do Pleistoceno Médio que compartilhava características anatômicas com os Neandertais - um táxon irmão dos Denisovanos - e com os espécimes da Caverna Denisova.



Como um dos dentes estavam ainda emergindo da arcada dentária, os pesquisadores desconfiam que essa mandíbula pertencia a um Denisovano adolescente.

O novo estudo, publicado ontem no periódico da Nature (3), além de aprofundar nosso conhecimento sobre a evolução humana na Ásia, também fornece uma nova técnica para a identificação de fósseis de homininis - e de outros animais - que não apresentam DNA remanescente. Aliás, é provável que fósseis de homininis previamente descobertos e de identidade incerta, podem pertencer a Denisovanos, especialmente o osso do braço de um criança descoberto na Caverna Sl'Ungur, no Quirguistão, a 2 mil metros de altitude, e um maxilar conhecido como Penghu 1, descoberto em Taiwan - este último anatomicamente muito similar ao maxilar de Xiahe.


(3) Publicação do estudo: Nature

Referência adicional: Nature (Blog)

Nossa espécie não foi a primeira do gênero Homo a conquistar as altas altitudes Nossa espécie não foi a primeira do gênero Homo a conquistar as altas altitudes Reviewed by Saber Atualizado on maio 02, 2019 Rating: 5

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