Insetos e meio ambiente estão em processo de colapso

Esta semana, um reporte do Instituto de Pesquisa para Políticas Públicas do Reino Unido mostrou que os impactos antropogênicos na superfície terrestre deflagraram múltiplas e complexas crises no meio ambiente, englobando trágicas consequências para a nossa própria sociedade. Poluição, mudanças climáticas, massiva perda de espécies - especialmente de insetos -, erosão do solo, desflorestamento e acidificação dos oceanos (1) são alguns dos fatores que nos levaram a este crítico cenário, o qual ameaça desestabilizar a economia global e a civilização humana.

(1) Muito ignorado, o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera não gera apenas mudanças climáticas. Para saber mais, acesse: Gás carbônico e acidez dos mares

Segundo o novo reporte, o dramático colapso ambiental vem se escalando de forma sem precedentes na história humana e, em alguns casos, nos últimos bilhões de anos. Desde 1950, o número de inundações ao redor do mundo aumentaram 15 vezes, a ocorrência de temperaturas extremas 20 vezes, e incêndios em matas e florestas 7 vezes. Além disso, a camada superficial do solo está sendo perdida 10-40 vezes mais rápido do que está sendo reposta por processos naturais, e, desde 1950, 30% as terras aráveis do mundo estão se tornando improdutivas devido ao processo de erosão. Nesse ritmo, 95% das áreas terrestres da Terra podem se tornar degradadas até 2050. E, referente ao atual processo de 6° extinção em massa (fomentado por fatores antropogênicos), as populações globais de vertebrados caíram 60% desde a década de 1970.

O Reino unido em específico é um dos países/blocos mais ambientalmente degradados, mesmo sendo de Primeiro Mundo e possuindo alto IDH. Cerca de 2,2 milhões de toneladas de camada superficial de solo é erodida anualmente, e acima de 17% das terras aráveis mostram sinais de erosão. Na East Anglia (região ao leste da Inglaterra), quase 85% do solo fértil e adubado foram perdidos desde 1850, com o remanescente em risco de ser perdido nos próximos 30-60 anos.

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Os cientistas por trás do novo reporte suplicam que uma maior atenção seja dada à questão ambiental, evitando o descaso sendo atualmente expresso pelo governo Norte-Americano sob a administração Trump. Ano passado, o Acordo de Paris oficialmente fracassou, e provavelmente não impediremos que a temperatura média global ultrapasse um aumento de 1,5°C nas próximas décadas. O reporte também reforçou que os políticos e debates políticos em geral falharam em reconhecer que os impactos humanos no ecossistema terrestre alcançaram um ponto crítico.

A situação é ainda mais dramática para os insetos. Um estudo publicado no começo desta semana na Biological Conservation, o qual fez uma revisão de 73 estudos prévios realizados ao redor do mundo nos últimos 13 anos, mostrou que 40% das espécies de insetos estão sofrendo um acentuado declínio populacional. Abelhas, formigas e besouros estão desaparecendo 8 vezes mais rápido do que mamíferos, aves e répteis. Um dos estudos analisados de maior destaque foi um publicado ano passado na Plos One reportando um mais do que preocupante declínio de 76-82% da biomassa de insetos voadores em uma área representativa de toda a Europa na Alemanha (2).  Em Puerto Rico, as perdas de biomassa para certos tipos de artrópodes foram de 78-98% ao longo de um período de 36 anos, e com perdas anuais de 2,7% para insetos terrestres e 2,2% para aqueles habitando áreas de cobertura.

(2) Para mais informações, acesse: Redução gravíssima em mais de 75% da biomassa de insetos voadores na Europa

Nas próximas décadas, os insetos em acentuado declínio podem encarar extinção, e 1/3 deles já se encontram em ameaça de extinção. Em específico, os táxons Lepidoptera, Hymenoptera e Coleoptara - este último uma importante ordem de besouros popularmente conhecidos como 'rola-bosta' - são os mais afetados. Quatro táxons aquáticos (Odonata, Plecoptera, Trichoptera e Ephemeroptera) já perderam uma considerável percentual de espécies.

E a massiva extinção de insetos pode levar à extinção de várias outras espécies de seres vivos, incluindo vegetais e vertebrados. Aves, morcegos e pequenos mamíferos dependem muito dos insetos para a alimentação, e cerca de 75% das plantações do mundo precisam da polinização dos insetos, principalmente via abelhas, as quais encontram-se em perigoso risco de desaparecerem em várias partes do planeta (3). Além disso, os insetos são essenciais para manter os solos saudáveis e no controle de várias pestes.

(3) Para mais informações, acesse: O desaparecimento das abelhas

O principal fator antropogênico levando ao extermínio dos insetos é a perda de habitat, via práticas agrícolas descontroladas, urbanização excessiva e sem planejamento, e crescente desflorestamento. O segundo fator é o uso de fertilizantes e pesticidas sintéticos, o qual gera uma letal poluição 'química' de todos os tipos. Em terceiro lugar vem fatores biológicos como espécies invasivas (4) e maior circulação de patógenos. E, em quarto lugar, as mudanças climáticas, especialmente em áreas de clima tropical.

(4) Leitura recomendada: Animais exóticos de estimação: O lado sombrio da história

Por outro lado, espécies consideradas pestes urbanas, como baratas, moscas e mosquitos - e que não possuem um papel tão crucial no equilíbrio ambiental como as espécies sendo extintas -, provavelmente irão sofrer um explosivo aumento populacional, já que se adaptaram - e se adaptam - muito bem com a crescente expansão das atividades humanas e dos centros urbanos. Isso eleva o potencial de alastramento de doenças e patógenos transmitidos por esses animais.

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Maior investimento em fontes de energia sustentáveis e verdes (ecologicamente amigáveis), diminuição do desflorestamento, melhor planejamento de expansão urbana, redução no consumo de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão mineral), menor consumo de carnes, plantar mais árvores nos centros urbanos, e o combate à poluição são todas medidas que devem ser fomentadas pelos governos de todo o mundo, e as quais não só ajudam a preservar diretamente o meio ambiente como também freiam o Aquecimento Global (5).

(5) Leitura recomendada: Aquecimento Global: Uma problemática Verdade 

E cada indivíduo, não só os governos, podem contribuir, adotando hábitos verdes diversos, como promover a reciclagem do lixo doméstico, dar preferência aos transportes públicos e às bicicletas quando possível, diminuir o consumo de carnes, preferir o consumo de orgânicos, e investir em jardins (6) ou hortas na casa e/ou na comunidade, o que ajuda também a preservar os insetos.

(6) Leitura recomendada: Plantas ornamentais que filtram o seu ar


Publicação do reporte (Reino Unido): IPPR

Publicação do estudo: Biological Conservation